Pela segunda vez em poucos dias, a Petrobras informou nesta quarta-feira (8) conforme Bruno Rosa, do O Globo, uma mudança na lista de indicados da União para a nova composição do Conselho de Administração da estatal, que será definida em assembleia de acionistas marcada para 27 abril. Mas afinal, qual é a dificuldade de escolher executivos para um cargo que tem uma das melhores remunerações da esfera pública?
Empresa de capital misto, que tem a União como controladora, a Petrobras informou em seu último balanço financeiro que, entre abril de 2022 e março de 2023, reservou R$ 2,5 milhões para o pagamento dos onze membros do conselho de administração, o que dá cerca de R$ 227,2 mil por ano ou R$ 18,9 mil mensais para cada um.
O ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, encaminhou ao conselho, na noite de terça-feira, uma nova lista de nomes de indicados a serem avaliados na assembleia, adiantou a colunista do GLOBO Malu Gaspar. Fontes ouvidas pelo GLOBO nesta quarta apontam que novas alterações ainda estão em estudo, já que há uma dificuldade no governo para chegar a um consenso.
O problema vem da dificuldade de compatibilizar os requisitos técnicos exigidos para a escolha de um conselheiro, previstos na Lei das Estatais, e os interesses políticos que permeiam a formação do novo governo desde janeiro e sua relação com os partidos no Congresso.
Um executivo da estatal atribui o “vai e volta” da lista às tramas políticas que passam principalmente pela relação que o governo Lula tenta construir com partidos de Centro como União Brasil e PSD, que indicou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Junte-se a isso, os interesses do PT, partido do novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.
Pessoas a par das negociações dizem que chama a atenção a forte aliança com o PSD, que tem dado a palavra final nas escolhas. O apetite de partidos políticos já acendeu a “luz vermelha” no corpo técnico que atualmente está nos cargos mais altos da Petrobras, marcada por erros de gestão e pelo esquema de corrupção baseado em indicações políticas que foi desvendado pela Operação Lava-Jato na década passada.
A forte influência de Silveira na formação da lista tem sido interpretada como uma espécie de “ataque” a Prates e os diretores que ele escolheu, que ainda vão tomar posse. Em coletiva de imprensa para apresentar os resultados financeiros do ano de 2022, na semana passada, Prates evitou fazer declarações sobre as indicações, limitando-se a dizer que a indicação é da União.
Na mais recente mudança anunciada pela estatal, foi indicado Efrain Pereira da Cruz no lugar de Carlos Eduardo Turchetto Santos, ex-presidente da Companhia Mineira de Açúcar e Álcool, uma das maiores produtoras de biocombustíveis do país.
Efrain é ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Foi ainda diretor das Centrais Elétricas de Rondônia (Ceron) e da Companhia de Eletricidade do Acre (Eletroacre). Segundo fontes, Efrain seria uma indicação da cota do União Brasil.
Na semana passada, após reunião entre Lula e Prates, Wagner Victer, ex-presidente da Cedae, foi retirado da lista inicial proposta por Silveira. Ele foi substituído por Bruno Moretti, nome ligado ao PT, após forte pressão de parte do partido do presidente, que tem forte ligação com sindicatos de petroleiros e vem criticando as indicações para o conselho da estatal.
O jornal O Estado de S.Paulo revelou mensagem recebida por Gleisi Hoffmann de Deyvid Bacelar, presidente da Federação Única dos Petroleiros (FUP), com alertas sobre as indicações para o conselho.
A indefinição da lista fez a Petrobras adiar a realização da Assembleia Geral Ordinária do dia 19 de abril para o dia 27 do mesmo mês. Na próxima quinta-feira, a estatal deve divulgar o edital da assembleia dos acionistas.