Um estudo realizado por cinco hospitais brasileiros começou a testar o uso de plasma sanguíneo em pacientes com a Covid-19. A pesquisa inclui 120 participantes e vai verificar se o plasma de pacientes já recuperados (convalescentes) pode ajudar no tratamento de infectados pela doença. O projeto de pesquisa é financiado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), por meio da empresa pública Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep) e faz parte da estratégia da RedeVírus.
O plasma sanguíneo é obtido de pessoas que já foram curadas da Covid-19 e desenvolveram anticorpos para a doença. “O objetivo da pesquisa é observar se o uso do plasma de pacientes convalescentes tem benefício no tratamento de pessoas com formas mais graves de Covid-19”, reforça o coordenador do estudo, o infectologista Esper Kallás, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).
A pesquisa obteve aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e envolve o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas (Unicamp), Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Hospital Sírio-Libanês e o Hospital Israelita Albert Einstein.
Os testes começaram no dia 2 de junho, com a inclusão dos primeiros voluntários com Covid-19. Os pacientes que preenchem os critérios estabelecidos são convidados pelos cinco centros participantes, que harmonizaram a forma de realizar o estudo e seguem o mesmo protocolo.
Testes
Os voluntários estão divididos em três grupos. Um grupo recebe 200 ml de plasma, outro grupo, 400 ml, e outra parte não recebe o plasma. Com essa metodologia será possível fazer uma comparação e avaliar os efeitos da substância testada.
Todos os voluntários apresentam a forma grave da doença, ainda não recebem ventilação mecânica e desenvolveram sintomas nos 10 dias que antecederam a inclusão no estudo. “Com isso, pretendemos avaliar se o plasma tem benefício na forma precoce da doença”, aponta Esper Kallás. Depois da transfusão do plasma, os pacientes serão acompanhados por 28 dias para avaliar a resposta ao tratamento. A estimativa é de que o estudo apresente análises intermediárias a cada total de 30 pacientes testados pelas cinco instituições.
Doadores
Coordenador do estudo no Hospital das Clínicas da Unicamp, o hematologista Bruno Benites revela que o trabalho na instituição atualmente está na fase de coleta de doadores e vai iniciar a análise do material para verificar a quantificação de anticorpos. “A expectativa é de que a partir da próxima semana comece a transfusão do plasma coletado em pacientes internados no Hospital das Clínicas da Unicamp”.
O Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, outra instituição que participa da pesquisa, já conta com 150 doadores de plasma qualificados e a etapa de transfusão em pacientes com a doença deve começar em breve. “Assim que tivermos pacientes que se encaixem nos requisitos estabelecidos pelo estudo, começaremos os testes”, afirma o diretor de Pesquisa do Albert Einstein, Luiz Vicente Rizzo.
Segundo ele, o Albert Einstein e o Hospital Sírio-Libanês já realizaram, nos meses de abril e maio últimos, um estudo prévio para verificar a segurança do uso de plasma sanguíneo com anticorpos. Uma nova fase do estudo, mais avançada e ampliada, começa agora com a participação das cinco instituições do estado de São Paulo. “A expectativa é boa. Há um grupo de pacientes, aqueles que ainda não precisam de ventilação mecânica, que parece se beneficiar desse tratamento.”
O MCTIC, por meio da Finep, está investindo R$ 5 milhões na pesquisa com o uso de plasma. O recurso faz parte do crédito extraordinário destinado pelo Governo Federal à pasta, no valor de R$ 352,8 milhões, para apoio a projetos de pesquisa e inovação no enfrentamento à Covid-19.