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quinta-feira 25 de agosto de 2022 às 08:47h

Pesquisa revela a nova ‘ética’ de usuários de WhatsApp e Telegram para evitar brigas de família durante as eleições

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O uso das plataformas digitais no Brasil para acessar conteúdos políticos tem sido frequentemente alvo de debate no contexto eleitoral, principalmente após as eleições de 2018 sacramentarem candidaturas com força nas redes sociais e pouco tempo de TV, como a do presidente Jair Bolsonaro (PL). Do ponto de vista do comportamento político dos usuários, um estudo do centro de pesquisa InternetLab em parceria com a Rede Conhecimento Social ajuda a entender opiniões e atitudes de quem navega pelos aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram.

Um dos pontos revelados pela pesquisa, que envolve análise quantitativa e qualitativa com grupos de discussão, é o crescimento entre os usuários que dizem se policiar mais sobre o que falam em grupos nos aplicativos, uma tendência já observada em 2020. Esse índice chega hoje a 56%. Há dois anos, em pesquisa anterior, 40% dos entrevistados indicaram esse comportamento.

Além disso, 64% evitam compartilhar mensagens que possam atacar valores de outras pessoas, contra 57% em 2020, e 50% dizem evitar falar de política no grupo da família para fugir de brigas. Em 2020, eram 40%. Ainda segundo a pesquisa, 99,8% dos usuários de internet utilizam o aplicativo WhatsApp e 43% são usuários do Telegram, um crescimento de 12 pontos percentuais em relação a 2020.

A pesquisa ouviu 2.018 entrevistados com acesso à internet e que usam WhatsApp e/ou Telegram, distribuídos nas cinco regiões do Brasil, entre 16 e 28 de dezembro do ano passado. A margem de erro é de três pontos percentuais sobre o total da amostra, e o intervalo de confiança é de 95%.

A pesquisa qualitativa, feita em junho deste ano com dez grupos com cinco a oito pessoas, traz alguns indícios sobre esse comportamento nos grupos. “Há um sentimento geral de desgaste, de cansaço e de animosidade, que acabou desencadeando uma espécie de “ética” para evitar brigas”, observa o InternetLab no relatório com os dados. Isso se soma ao fato de que os grupos de família e amigos são os tipos mais comuns no WhatsApp e onde mais se discute questões da sociedade. Entre os mais de 2 mil entrevistados no levantamento quantitativo, 68% informaram estar em um grupo com amigos e 39% debatem temas políticos neles, enquanto 65% estão em grupo familiar e 35% discutem os temas nesses ambientes virtuais.

Na minha família, é ou extrema direita ou extrema esquerda. Não tem meio termo. Já brigaram, já saíram do grupo, já fizeram as pazes no Natal, como é típico de família, já voltaram tudo a se unir, esperando outubro para ver. Então aí a gente fica no pique de ver quem vai brigar
— Mulher, de 45 anos, moradora de Alagoas, ouvida em pesquisa qualitativa

Há diferença em relação ao uso do Telegram. Na plataforma, grupos ligados a interesses mais individuais são mais comuns, como notícias, economia/negócios, temas de interesse, canais de políticos/artistas. Muitos desses, chamados de grupos, são canais dentro do aplicativo, em que as pessoas estão para receber conteúdos e não necessariamente para interagir.

Desafios da desinformação

Quando há a sensação de que as regras de convívio não são praticadas, sair do grupo é apontado como alternativa pelos entrevistados. Outra saída para evitar atrito é lançar mão do humor. Mandar mensagens com esse teor é visto como um bom jeito de falar de política sem provocar brigas por 30% dos ouvidos no levantamento quantitativo.

Desde que seja algo que não vá magoar uma pessoa assim, porque eu acho que a brincadeira ela só tem graça quando ambos lados acham graça. Então, quando é um meme engraçado, realmente, que não ofenda ninguém, assim, eu compartilho. Mas se eu perceber que algo que tem um cunho pejorativo ou que possa ter duplo sentido, eu prefiro não compartilhar
— Mulher, 39 anos, moradora da Bahia

Ao mesmo tempo, as entrevistas em grupos focais mostram dificuldade em entender o que é desinformação. A tendência é colocar tudo na mesma caixa: vírus, golpe e foto de perfil de rede social com filtro. A pesquisa mostra, por outro lado, uma perspectiva mais crítica dos usuários sobre si mesmos. Cresceu o percentual dos que admitem já ter repassado notícias que acharam interessante ou importante sem checar a fonte. Esse índice passou de 30%, em 2020, para 42%.

Quando eu vejo alguém postando algo no grupo eu já fico desconfiada. É a primeira atitude. Eu vi alguma informação, eu vou lá no Google, aí está lá “falso”, aí eu já escrevo embaixo “gente é vírus”. Aí, a galera já se toca, né?
— Mulher, 39 anos, moradora do Rio de Janeiro

Há no imaginário a ideia de que as fake news são um problema real e as pessoas têm seus próprios critérios para verificação e repasse de informações. Os relatos mostram que, diante de uma notícia, é quase uma resposta automática questionar qual a sua fonte, ainda que o que o considerado uma “fonte confiável” varie, mas há quem continue repassando notícias sem verificação. O impulso, querer estar inserido em um debate ou querer repassar uma novidade são citados para justificar alguns desses momentos. Em outros, o compartilhamento se dá pois o sistema de valores individuais determina a importância e urgência do tema e a confiança na fonte.

A pesquisa mostra que os usuários recorrem a fontes externas para verificar a autenticidade antes de compartilhar, como buscas no Google, Twitter, Facebook, mídias tradicionais e sites de checagem. “Essa dinâmica faz com que o WhatsApp se torne um canal de distribuição de informações cuja confiabilidade é construída em outras plataformas ou relações”, aponta o InternetLab.

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