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Jovens da geração Z - Foto: Divulgação
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segunda-feira 17 de março de 2025 às 11:14h

Pesquisa mostra que geração Z identifica tensão entre gêneros mais que outras faixas de idade

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Os jovens da geração Z são os que mais percebem tensões entre gêneros na sociedade. Historicamente favorecidos, os homens são mais propensos a se incomodar com políticas de igualdade de gênero. É o que revela pesquisa da Ipsos, realizada em 30 países, incluindo o Brasil, em parceria com o Kings College de Londres na reportagem de Michael Esquer, do jornal Valor.

Em média, 51% dos entrevistados acreditam que há tensão significativa entre os gêneros em seus países. O índice sobe para 59% na geração Z (18 a 28 anos) e cai para 40% nos Baby Boomers (60 a 74 anos), mostra o levantamento.

No Brasil, em média, 67% dos entrevistados, independentemente da idade, reconhecem a tensão, o que coloca o país na quarta posição no ranking das nações que mais dizem perceber o fenômeno. Na geração Z brasileira, o índice também sobe para 72%.

A gerente sênior de reputação corporativa e opinião pública da Ipsos no Brasil, Priscilla Branco diz que a maior exposição da geração Z a discussões sobre questões de gênero, entre outros temas, podem contribuir para o resultado. “Os mais jovens, historicamente, são mais propensos a desafiar o status quo e, portanto, percebem mais as tensões quando as normas tradicionais são questionadas”, afirma.

Entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, mais de 23 mil pessoas — quase mil do Brasil — foram entrevistadas virtualmente para a pesquisa. Da geração Z, foram 4,8 mil entrevistados ao todo nos 30 países, sendo 2,2 mil homens e 2,6 mil mulheres.

Embora reconheça a tensão, a geração Z diverge sobre o impacto de políticas corporativas de igualdade de gênero. Quase quatro em cada dez (37%) dos jovens acreditam que as iniciativas trouxeram impacto positivo para a sociedade, mas, entre os homens desse grupo etário, 13% deles expressam a visão oposta, contra 8% das mulheres.

Branco diz que a diferença de opinião entre homens e mulheres da geração Z destaca a necessidade de manter esforços sobre questões de gênero para a construção de uma sociedade mais equitativa e protetiva. “Essas percepções revelam que, apesar dos avanços, ainda há desafios significativos a serem enfrentados na busca por uma verdadeira igualdade de gênero, especialmente entre as gerações mais jovens.”

Segundo a pesquisa, homens da geração Z também são mais propensos a acreditar que os que optam por ficar em casa cuidando dos filhos são “menos homens”. Enquanto 28% deles concordam com a afirmação, apenas 12% dos homens da geração Baby Boomer pensam o mesmo. Já no Brasil, somente 17% dos entrevistados, independentemente de gênero e idade, acreditam nisso, e 41% ainda acreditam que a licença parental deveria ser direito de ambos os genitores.

Não são apenas os homens jovens que estão mudando, diz Alice Evans, professora sênior no Kings College de Londres, não envolvida no estudo. Dados mais amplos, dos Estados Unidos e da Alemanha, afirma, sugerem uma forte mudança entre as mulheres, “que estão se tornando muito mais progressistas”.

Professora de ciência política na Universidade de Brasília (UnB), Flávia Biroli diz que nas últimas décadas a taxa de mulheres que completaram o ensino superior, e até níveis de ensino anteriores, se tornou maior que a dos homens. Ela diz que as mulheres estão mais preparadas em termos de estudo formal, o que é uma novidade histórica, afirma.

“Temos mulheres de diferentes idades, mas principalmente jovens, com uma clareza muito grande, por exemplo, do que é e do que não é assédio”, diz ela.

As visões igualitárias do mundo, que Biroli diz serem hoje parte da socialização de muitas meninas e mulheres, contribuem para isso. “As meninas têm maior clareza, em média, do valor delas relativamente ao mundo, ao trabalho que desempenham e ao seu próprio corpo.”

De acordo com a professora da UnB, as redes sociais desempenham papel importante na construção da percepção de que uma agenda igualitária seria prejudicial. “Tem algo que não é espontâneo, que conecta reações políticas a reações sociais para promover ativamente visões anti-igualitárias, e os garotos jovens são os alvos dessas redes”.

Segundo a pesquisa da Ipsos, 70% das mulheres e 62% dos homens da geração Z recorrem às mídias sociais para se informar. No caso de homens jovens, a tecnologia desempenha um papel importante em sua aproximação de empreendedores culturais que reafirmam o “status dos homens”, como Donald Trump e Elon Musk, mas também movimentos religiosos conservadores, diz Evans, do Kings College de Londres.

Tanto homens quanto mulheres mais jovens, diz ela, relatam passar muito mais tempo sozinhos em seus telefones e, de forma relacionada, estar cada vez mais isolados e solteiros. O impacto disso, explica, são pessoas menos propensas a socializar, compartilhar perspectivas e reconhecer lutas comuns, ou desenvolver crenças semelhantes.

Evans pondera que é importante reconhecer que homens da geração Z afirmarem que “esforços para promover igualdade de gênero foram longe demais” não significa necessariamente que eles se opõem ao tema. O comportamento, diz ela, pode ser, em parte, um tipo de reação. “À medida que jovens mulheres se destacam na educação e ativistas progressistas defendem o empoderamento feminino, isso pode ser visto como excludente”.

Biroli diz que a reação não é apenas da perspectiva de gênero, mas de qualquer uma que possa alterar hierarquias mais tradicionais. Na interpretação dela, meninos mais jovens podem estar interpretando que um mundo mais igualitário os prejudica e os deixa para trás, embora a realidade mostre o contrário.

“Se observarmos todas as evidências que temos sobre remuneração em profissões e cargos semelhantes, vamos ver que homens continuam numa situação de vantagem relativa muito grande”, diz a pesquisadora, que afirma que o mundo está longe de ter relações igualitárias.

Ao mesmo tempo, Biroli ressalta que é importante ouvir jovens que percebem de forma mais fluida os papeis de gênero, para evitar a interpretação de uma única tendência, que pode não refletir a realidade. “O que há é um conflito entre diferentes tendências, e isso é importante que a gente saiba”, completa.

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