Levantamento inédito também aponta que 54% são mulheres; Maioria delas busca empreender por independência
A pesquisa inédita Propósitos dos Afroempreendedores Baianos realizada pelo Sebrae Bahia apresenta o perfil do afroempreendedorismo no estado. Ouvindo clientes da organização com perfil variado, desde aqueles que buscam formalização quanto os que já têm empreendimentos estabelecidos, a sondagem revela predominância feminina, sendo que 54% são mulheres.
Os dados indicam ainda que 71% dos afroempreendedores faturam até 4 salários mínimos e 87% atuam nos setores de comércio e serviços. A maioria (79%) aponta para acesso a crédito e financiamento como as principais dificuldades para empreender.
O analista da Unidade de Gestão Estratégica do Sebrae Bahia, Anderson Teixeira, destaca que o afroempreendedorismo representa um universo de pequenos negócios que movimenta a economia nas comunidades, periferias e bairros dos diversos municípios do Brasil. Com base em dados do IBGE, 79% dos empreendedores da Bahia são negros e é sobre esse público que a investigação do Sebrae se debruça com atenção. “A pesquisa busca compreender as motivações e os principais desafios que esses empreendedores encontram no dia a dia, na gestão dos negócios”, explica.
“Apesar da renda mensal baixa e dos obstáculos enfrentados no dia a dia na gestão do negócio, principalmente nos assuntos que envolvem crédito e finanças, os afroempreendedores permanecem otimistas, confiantes no fortalecimento dos seus negócios”, ressalta Anderson.
O analista acrescenta ainda que a pesquisa aponta as oportunidades tanto para que o Sebrae quanto instituições que atuam no empreendedorismo possam criar e aperfeiçoar ações focadas nesse público. “Apesar de serem maioria na Bahia, os afroempreendedores enfrentam maior dificuldade para abrir e manter seus negócios”, afirma.
A pesquisa foi realizada entre os dias 31 de julho e 23 de agosto, e entrevistou 332 empreendedores na Bahia. O relatório completo pode ser acessado neste link
Afroempreendedorismo feminino
Um dos destaques da pesquisa é a presença feminina no afroempreendedorismo. Elas são maioria, mas enfrentam muitos desafios na hora de empreender. A busca por autonomia e independência é a principal motivação das mulheres negras para empreender. A pesquisa indica que 64% dessas empreendedoras apontaram para essa motivação na hora de decidir abrir um próprio negócio.
A pouca oferta de investimentos (36%), o acesso limitado a recursos financeiros (36%) e ausência de mentoria e apoio adequados (23%) foram as principais dificuldades ressaltadas pelas empreendedoras.
A microempreendedora individual Débora Santos de Almeida, de 30 anos, é um exemplo dessa realidade enfrentada por mulheres negras empreendedoras. Há dois anos, por necessidade, ela precisou iniciar um negócio próprio. Com apenas R$ 25 na conta, ela começou a produzir e vender churros. Hoje, Débora está com o negócio em crescimento, mas encontra ainda dificuldades para obter financiamento. “O investimento é necessário para alavancar a empresa, mas é muito difícil conseguir acessar crédito e financiamento, mesmo apresentando um plano de negócios bem detalhado”, afirma.
Ainda segundo a pesquisa, o rendimento médio da maioria das afroempreendedoras é baixo. O levantamento indica que 51% das empreendedoras negras têm rendimento mensal de até dois salários mínimos, ou seja, R$ 2.640.
“Vemos que há muitos desafios para superarmos. No caso das mulheres negras empreendedoras, nota-se essa dificuldade, sobretudo, de acesso a crédito e financiamento para iniciar um negócio próprio, que, para a maioria delas, representa, autonomia, independência e sobrevivência”, conclui Anderson Teixeira.
Empreender tem poder
Débora Santos é também uma das empreendedoras em destaque na campanha do Sebrae Bahia “Empreender tem poder”. O foco é orientar as empresárias baianas e combater a discriminação, promovendo a diversidade e inclusão. De acordo com a pesquisa do Sebrae intitulada “Desafios e Oportunidades do Empreendedorismo Feminino na Bahia”, realizada em abril de 2023, 56% das empreendedoras declararam já terem sofrido algum tipo de preconceito por serem mulheres e empreendedoras.
“A nossa estratégia foi focar em casos reais de mulheres pretas que empreendem, superam desafios e inspiram outras mulheres, para posicionar a instituição e fortalecer a marca Sebrae no recorte da interseccionalidade racial e de gênero”, afirma Camila Passos, gerente adjunta de Marketing e Comunicação do Sebrae Bahia.
A campanha dá voz a histórias das empreendedoras Débora, Najara Black e Geo Nunes, que contam suas trajetórias inspiradoras nos negócios. Enquanto tiveram que enfrentar o preconceito, as empresárias criaram negócios prósperos e voltados ao antirracismo, como a grife de roupas N Black e a empresa Amora Brinquedos.