Cerca de 3,3 mil câmaras de vereadores espalhadas pelo Brasil serão ocupadas de maneira hegemônica, a partir do ano que vem, por políticos filiados de acordo com o colunista Lauro Jardim, aos partidos de direita. O dado é de uma pesquisa inédita do cientista político Fábio Vasconcellos, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Representação e Legitimidade Democrática, baseada nos resultados do primeiro tuno das eleições.
Para chegar a essa conclusão, Vasconcellos se baseou de acordo com a coluna do O Globo, num índice de autoria própria que chama de “Taxa de Hegemonia”, por meio do qual indica o domínio dos grupos de direita e esquerda nos Legislativos municipais. O indicador de cada cidade varia de zero a um: quanto menor, mais a vereança pende à esquerda; quanto maior, mais ela se associa à direita. A hegemonia é alcançada pela direita quando a taxa ultrapassa 0,81, cenário nas 3,3 mil câmaras mencionadas, com vistas para 2025.
Em 2.076 câmaras, aliás, Vasconcellos identificou que todos os vereadores, sem exceção, são de siglas que atuam no campo da direita. Nelas, a esquerda não faturou uma cadeira sequer.
Entre os principais exemplos, está Porto Velho (RO), com todas as 23 vagas ocupadas por nomes de PL, União Brasil, Republicanos, União Brasil, PSDB, PSD, PRTB, Avante, Agir e PRD. E também Praia Grande (SP); Vespasiano (MG); Rio Claro (SP); Parnamirim (RN); Luís Eduardo Magalhães (BA); Eunápolis (BA); Manacupuru (AM); Palhoça (SC), Paranaguá (PR), entre outras à direita.
Num cruzamento com dados populacionais, as 3,3 mil casas legislativas dominadas pela direita estão em localidades que, somadas, têm 83 milhões de habitantes. O patamar é quase 12 vezes superior às populações que elegeram vereadores que são, na grande maioria, de esquerda. De acordo com Vasconcellos, somente 382 câmaras vão ter esse perfil — elas representam 7 milhões de pessoas.
Ainda segundo o estudo, a sobreposição da direita sobre a esquerda é maior nos Legislativos municipais da região Centro-Oeste (a Taxa de Hegemonia chega a 1, o que indica que praticamente nenhum vereador de esquerda terá vez na maior parte das câmaras). Depois, comparativamente, vêm o Sudeste e o Norte (ambas regiões com índice 0,91), e o Sul (0,89). No Nordeste, a direita também se impõe (hegemonia calculada em 0,78), mas em menor proporção que nas outras áreas do país.
O movimento da cena parlamentar acompanha um diagnóstico anterior, também elaborado por Vasconcellos, de que as prefeituras também “endireitaram” após o pleito do início do mês.