Segundo a jornalista Clarissa Oliveira , na Veja, se depender das últimas pesquisas, Jair Bolsonaro e Paulo Guedes erraram feio ao bater na tecla de que a chave da reeleição estava na criação de um novo programa social, que permitiria ao presidente se apropriar da marca do Bolsa Família dos governos petistas. O exercício de futurologia foi puxado lá atrás pelo Posto Ipiranga, ainda em 2020. Bolsonaro comprou a ideia e a transformou em prioridade absoluta do governo, mesmo em plena pandemia.
Mais do que isso, o presidente bateu o pé para conseguir dinheiro no Orçamento para aumentar o valor do benefício sem criar um novo imposto sobre transações financeiras, como queria seu superministro. Tudo parecia ter dado certo quando Bolsonaro conseguiu rebatizar o Bolsa Família e subir o valor para R$ 400. Bem mais que os R$ 250 imaginados inicialmente. Mas a última pesquisa Datafolha veio para jogar água nesse plano.
Reportagem de Ricardo Balthazar, na Folha de S. Paulo, mostrou que 68% dos beneficiários consideram o valor insuficiente. Só 19% dos que recebem o auxílio consideram o governo ótimo ou bom – abaixo dos 25% na população em geral. Pior ainda para Bolsonaro: 62% dos beneficiários dizem que não votariam no presidente de jeito nenhum. Ao mesmo tempo em que 59% declaram voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No time de Bolsonaro, a explicação mais comum para esse quadro é a situação econômica do País. O governo trabalhava com a ideia de que seria possível uma retomada dos principais indicadores que coincidisse com a largada da campanha eleitoral. Até agora, isso não aconteceu. E as previsões são para lá de desanimadoras. A perspectiva de que a corrida presidencial se dê em um cenário de escalada da inflação tornou-se, aos poucos, a maior pedra no sapato do governo.
É fato que Bolsonaro vem dando sinais de recuperação nas últimas pesquisas de intenção de voto. É visível a redução da diferença em relação ao ex-presidente Lula, mas alguns levantamentos já indicam uma desaceleração desse processo. Sem uma percepção do eleitor de que a vida vai melhorar com um novo governo Bolsonaro, fica aberta para que Lula coloque em prática o plano de convencer os mesmos beneficiários do Auxílio Brasil de que os tempos do Bolsa Família eram melhores. Independentemente do valor que entra no bolso dos brasileiros que recebem o benefício.