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terça-feira 31 de outubro de 2023 às 12:32h

Pesquisa – Conservadores no progressismo; progressistas no conservadorismo

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A Genial/Quaest divulgou na semana passada números sobre a avaliação do governo Lula e sobre o desempenho pessoal do presidente, entre outros dados relevantes. Estão em toda parte.

Reinaldo Azevedo, colunista do UOL, mostra neste artigo algumas informações, ainda inéditas, extraídas daquele levantamento. São uma ausculta do eleitorado brasileiro no terreno dos valores e, creio, constituem um instrumento fundamental para orientar postulantes “progressistas”, “conservadores” e centristas. E se eu lhes disser que há muita gente que votou em Jair Bolsonaro, mas tem opiniões que poderiam ser classificadas como “de esquerda”? Sim, o oposto também é verdade: no sentido em que escrevo aqui, há “direitistas” que digitaram o 13.

Teses conservadoras

Vejam que coisa: 93% dos ouvidos concordam com a frase de que jovens de 16 anos que cometem crimes devem ser presos — é a tal “maioridade penal. Entre os que sufragaram o nome do capitão, eles são 96%; entre os que foram com Lula, 90%.

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Imagem: Reprodução – Genial-Quaest

Dizem ser muito ruim que gays e lésbicas se beijem em público 53%; 40% não se incomodam. Na turma que era pró-reeleição do Coiso, o placar é de 59% a 34%. Ocorre que 49% dos que escolheram o petista também não gostam — pouco mais do que os 44% que pensam o contrário

Quantos somam os que entendem que o feminismo exagera e que as mulheres não são, assim, tão prejudicadas? 45% — parcela igual diz o oposto. O nariz torto para as feministas atinge 54% (a 37%) dos que queriam a reeleição do marido de Michelle. Mas são notáveis 39% no grupo que perfilou com o de Janja — 53% são pró-feminismo.

Casamento gay e armas

E que tal proibir o casamento de homossexuais? A maioria se opõe: 51% a 41%. Entre os que fizeram a vitória lulista, a tese tem a adesão de expressivos 36% (a 58%). Na massa que perdeu por pouco, os proibicionistas ganham: 51%. Mas há eloquentes 40% que não ratificam o atraso nesse caso.

Os brasileiros podem fazer coisas estranhas nas urnas, mas ainda não romperam com a realidade. Enormes 69% recusam a pregação de que a compra e a posse de armas deveriam ser facilitadas. São 84% (a 15%) entre os que apertaram o 13 na urna. E, creiam, 52% dos que votaram no chefe da família do trabuco também repudiam tal assertiva, apesar de ser grande a fatia que curte pegar no cano: 46%.

Sexualidade e escola

A escola é um lugar adequado para debater sexualidade com adolescentes? Acham que sim 55% (a 42%). Segredo de polichinelo aqui: 57% dos que digitaram o 22 são contrários, mas notáveis 39% não veem problema. No grupo oposto, 67% disseram “sim”, mas não se ignore que 29% dos que fizeram o L concordam com a catilinária bolsonarista.

Teses progressistas e economia

Quando o assunto é economia, postulados da direita comem poeira. Nada menos de 93% concordam com o aumento do salário mínimo acima da inflação — só 5% discordam. Nem vou especular se são devotos do Partido Novo… Entre os que apoiaram o “imbrochável e imorrível”, eles são 93%, em empate técnico com os que se alinharam com o seu antípoda: 95%. A saúde universal e de qualidade garantida pelo Estado tem a preferência de 92% (a 5%) do total. Do ponto de vista numérico, os que contemplaram o homem que oferecia cloroquina às emas ficam até à frente da parcela que deu a Lula um terceiro mandato: 93% a 91%.

E esta, agora, vem definitivamente para fazer o Novo ensaiar a “Dança do Desassossego”… Nada menos de 75% dos brasucas (a 20%) defendem que os ricos têm de pagar mais impostos do que os pobres. A questão parece de adesão óbvia, eu sei, mas é importante informar que os nababos pagam muito menos. Anotem: entre os que optaram pelo PT, eles são 84% (a 14%). Mas chegam a 69% (a 28%) lá do outro lado.

O governo deveria privatizar empresas públicas? Há um empate técnico: 43% sim; 45% não. A margem de erro é de 2,2 pontos para mais ou para menos. A tese privatista perde por 53% a 37% entre os entusiastas do atual mandatário — de todo modo, vejam lá, a fatia privatista dos que foram para a esquerda no ano passado conta com mais de um terço. Na outra margem, a venda das empresas públicas tem a anuência de 50%, mas 40% dos que bateram continência ao “mau militar” (segundo Geisel) não abrem mão das estatais.

Considerações

Os números acima indicam que os progressistas podem ter mais dificuldades para trabalhar a cabeça dos brasileiros do que os conservadores. Observem que a extrema-direita não entra em embates econômicos. Na verdade, para tentar se reeleger, Bolsonaro investiu no populismo e na gastança. Os dinossauros não têm nenhum compromisso com o “conservadorismo do caixa”. Patrocinam teses que são antipovo e votam nelas, mas o fazem meio na surdina. Ou vocês imaginam algum dos patriotas a tentar convencer a população de que o reajuste real do mínimo é um mal para o Brasil? Ora… Podem vetar o ganho, mas sem proselitismo.

O que a canalha faz é inflamar — e com sucesso porque mobiliza um público enorme — a população com os tais chamamentos em favor da moral e dos bons costumes. Exceção feita ao caso das armas, os fiéis seguem o seu profeta do caos. Ocorre que suas diatribes antediluvianas, como se constata, contam com um endosso razoável entre os que acompanharam o líder que salvou o país do abismo.

Como as lutas identitárias são importantes na esquerda e como suas lideranças são muito aguerridas, sempre há o risco de “os conservadores” que votaram num “progressista” se aliarem os “progressistas” que votaram num reacionário.

É claro que eu não sugiro aqui que tais pautas devam ser abandonadas “porque, afinal, o brasileiro é conservador”. De jeito nenhum! Mas observo que é preciso tomar cuidado para não cair nas armadilhas dos fascistoides, que sempre tentarão fazer o debate no território dos costumes. É preciso ficar com um olho no queijo e o outro nos ratos.

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