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domingo 6 de junho de 2021 às 05:21h

Peru vai às urnas em disputa presidencial acirrada

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Após primeiro turno pulverizado, país latino-americano tem segundo turno neste domingo entre herdeira de ditador e sindicalista que era quase desconhecido até poucos meses atrás. Candidatos estão virtualmente empatados.

Provavelmente não é coincidência que o país com a maior taxa de mortalidade por covid-19 per capita do mundo também seja afetado pelo vírus da polarização política.

Pedro Castillo e Keiko Fujimori não conquistaram, conforme o DW, nem um terço dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais. Muitos pensam que são os piores candidatos que o Peru viu desde que se tornou independente, há 200 anos.

Medo do comunismo

No entanto, um deles está prestes a se tornar presidente. Será Castillo, um professor de escola primária socialista sem experiência de governo, ou Fujimori, filha do ex-presidente autoritário preso Alberto Fujimori, que enfrenta, ela mesma, ameaça de ser condenada a 30 anos de prisão por lavagem de dinheiro e financiamento ilegal de campanha.

Socialismo contra capitalismo, tudo novo contra nada novo, campo contra cidade, muitos no Peru consideram que a escolha é como optar entre peste ou cólera. Mas, nesta pandemia, muitos parecem estar buscando respostas simples para questões complexas. No momento, Castillo parece ter as melhores respostas para uma maioria apertada.

“Se nada de extraordinário acontecer nos próximos dias e as pesquisas estiverem certas, Castillo vai ganhar porque se apresenta de forma perfeita como a voz dos insatisfeitos”, diz a cientista política peruana Mayte Dongo. “A pandemia fez com que a pobreza aumentasse rapidamente no Peru. E ele diz como que simbolicamente: ‘Como professor, sei o que significa raspar o resto do tacho para que minha família tenha o que comer.'”

Seus oponentes citam o espectro da Venezuela para desacreditar a agenda marxista-leninista de seu partido, Peru Livre. Castillo quer abolir o Tribunal Constitucional, controlar a mídia e nacionalizar a indústria de petróleo e gás, com intuito de criar um Estado socialista.

Mas seu discurso ficou cada vez mais moderado nas últimas semanas. “Castillo não tem o apoio do povo como Hugo Chávez teve no auge de seu tempo na Venezuela, e também não tem maioria no Congresso”, diz Dongo. “Além disso, o Peru está em uma crise profunda, e Castillo, portanto, não terá os meios para fazer avançar sua agenda. Ele sabe que não será capaz de governar com um curso tão radical”.

“Demodura”

Já Fujimori, que está em sua terceira tentativa para ganhar a presidência, é muito franca quanto a querer ocupar o lugar do pai. O autoritário Alberto Fujimori esteve no poder de 1990 a 2000, durante o qual obrigou dezenas de milhares de mulheres indígenas a serem esterilizadas. Atualmente, cumpre pena de 25 anos por autorizar sequestros e assassinatos por esquadrões da morte.

Fujimori disse que perdoará seu pai se ganhar a eleição, saudando o retorno a uma época que muitos peruanos não desejam. “Fujimori anunciou que vai introduzir uma ‘demodura’ ou ‘democracia com mão dura’, governo autoritário com instituições democráticas, exatamente o que seu pai fez”, explica Dongo.

Fujimori promete um retorno para a década passada, rejeitada por muitos peruanos. Mas sua equipe de campanha Força Popular sabe que é importante falar sobre o presente também. “Muitos deles falam como o presidente Bolsonaro”, diz Dongo. “Eles questionaram a eficácia das vacinas e, na verdade, a pandemia em geral”.

Pesado debate na TV

Em um debate na televisão no domingo que durou três horas, Castillo e Fujimori fizeram o possível para conquistar eleitores indecisos. “Foi tudo muito pesado”, comentou a cientista política Kathy Zegarra, que não reconheceu um vencedor no duelo. “O duelo não será lembrado como alguns debates do passado. Pelo menos deu para perceber que Fujimori teve alguma experiência política, mas Castillo parecia um pouco confuso.”

No domingo, segundo ela, os 25 milhões de eleitores do Peru enfrentam a escolha entre uma mudança radical ou “mais do mesmo”.

“Por 30 anos, vivemos com um Estado magro e ineficiente que mostrou seu lado perverso durante a pandemia”, diz Zegarra. “Parte desse modelo econômico era empurrar as pessoas para empregos informais.”

Mas foram exatamente os que tinham empregos informais os primeiros a perdê-los no início da pandemia e, como tinham pouco acesso ao sistema de saúde, foram também os primeiros a ser vítimas do coronavírus. “A pandemia revelou as desvantagens deste sistema econômico impiedosamente. Os apoiadores de Castillo querem uma mudança, enquanto Fujimori quer que esse modelo continue, junto com alguns pequenos programas de ajuda”, ressalta Zegarra.

No domingo também será decidido se o “fujimorismo” vai sobreviver ou se vai acabar definitivamente na lata de lixo da história peruana. “Alberto e Keiko são idolatrados por alguns setores da população e odiados por outros. Existe até um movimento anti-fujimorismo”, diz Kathy Zegarra.

Mas nos bairros ricos de Lima, a esperança da vitória da jovem de 46 anos ainda não acabou. Eles estão cobertos de cartazes com as habituais mensagens para botar medo na população: “Sem comunismo”, “O Peru não é a Venezuela nem Cuba” e “Não permitiremos que nos tirem nossa liberdade”.

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