O atual presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR), obteve apoio para alterar o estatuto e se reeleger para mais um mandato no comando do grupo. A recondução de Lupion frustra as expectativas do governo Lula da Silva (PT) de que uma mudança na coordenação da bancada ruralista poderia abrir espaço para mais diálogo com o setor rural.
Segundo Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro, do jornal Valor, um acordo foi selado há cerca de um mês para que o provável sucessor, o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), desistisse de concorrer ao cargo. Ele é o primeiro vice-presidente da FPA e, pela tradição, seria o nome natural para coordenar a bancada já que é proibida a reeleição pelo estatuto – que será alterado nos próximos dias.
Jardim se declara de “centro” e é próximo do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB). O deputado do Cidadania foi relator de projetos importantes do governo Lula, como o combustível do futuro, autor do Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten) e presidente da comissão do marco legal do hidrogênio de baixo carbono. E buscou diálogo com o governo para aprovar esses projetos.
Havia expectativa, dentro do governo, que a sucessão na FPA permitisse a aproximação com o grupo e, consequentemente, com o setor agropecuário, refratário aos governos petistas. O movimento para reeleger Lupion começou, inclusive, após um discurso do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em evento com produtores de etanol em abril.
“Parabéns, Pedro, por liderar a frente. Aqui faço quase uma convocação: chegou a hora de planejarmos a sua sucessão e estamos diante do Arnaldo Jardim, que não pode fugir dessa missão, tem que ser o próximo presidente da FPA”, disse Fávaro na ocasião.
O comentário foi criticado dentro da bancada e precipitou as negociações para reeleger o atual presidente – que é de direita, de oposição ao PT e mais alinhado à ala bolsonarista da bancada e do agro. Parte das entidades patrocinadoras do Instituto Pensar Agro (IPA), mantenedor da frente, também rejeitava uma aproximação com o governo petista.
Foram meses de disputas nos bastidores, reveladas pelo Valor em maio, até um acordo ser intermediado pela senadora Teresa Cristina (PP-MS), ex-presidente da FPA, durante as eleições municipais. Os aliados de Lupion agora coletam assinaturas para levar à votação a mudança no estatuto, que permitirá que ele fique na presidência durante os quatro anos do governo Lula.
Ficou combinado, segundo fontes a par da negociação, que Lupion continuaria na presidência e Jardim como vice, mas que o parlamentar do PP diminuiria o “afã” bolsonarista na condução do grupo. A atual gestão ficou marcada por disputas com o governo e por recepcionar, várias vezes, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em seus almoços-reuniões às terças-feiras.
Acordo na bancada foi intermediado pela senadora Teresa Cristina durante as eleições
Esse afastamento da bancada de Bolsonaro teria ficado mais fácil, avalia um integrante da FPA, depois que o ex-presidente entrou em conflito com outras lideranças do agronegócio nestas eleições municipais, com Teresa Cristina e os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), ao fazer campanha contra os candidatos deles nas capitais.
Ao Valor, Lupion negou ser bolsonarista e afirmou que manterá a condução da bancada, nos próximos dois anos, do mesmo jeito que a administrou até agora: “Se acertam eu elogio, se erram eu critico”, disse. Para ele, os conflitos ocorreram pelo perfil do governo. “É uma bancada que não é adesista, e é um governo que tem sido crítico do setor agropecuário.”
Como pontos positivos da gestão do PT, o presidente da frente cita o combustível do futuro e os projetos de transição energética – que tem privilegiado o etanol e biodiesel. E destaca que as pautas do setor têm “avançado muito” no Congresso por causa da postura combativa, como no caso da demarcação de terras indígenas, a tributação da cesta básica e as ações contra as invasões de propriedades pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
Jardim evitou comentar o acordo e buscou elogiar Lupion. “A FPA tem uma condução reconhecida em todos os setores e com uma equipe de muita qualidade e coesa. Minha expectativa é de que isso se mantenha para o próximo ano”, disse.
Se na FPA a atual diretoria será mantida, no Instituto Pensar Agro, que administra a frente, haverá uma troca de gestão e a presidência deve ser assumida por Tania Zanella, atual superintendente do Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras).