Durante a inauguração de uma adutora de abastecimento de água em São José do Egito (PE), no início de outubro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu que os eleitores escolham “gente que tenha Deus no coração” nessas eleições.
E as opções são muitas, já que o número de candidatos que colocaram como ocupação a função de sacerdote —líder religioso— ou membro de ordem ou seita religiosa aumentou 16% desde as últimas eleições municipais, em 2016: de 774 para 897. Dentro desse universo, o crescimento de mulheres líderes religiosas foi de 24% —passou de 155 para 193, sendo 117 as que colocam o título de pastora em seu nome de urna, além de nove que usam no nome o título de missionárias e cinco de bispas.
Segundo o Uol, a bancada evangélica no Congresso Nacional está cada vez mais numerosa. Em 1994, eram 21 deputados federais evangélicos, hoje já são 105 deputados e 15 senadores, o que equivale a 20% do Congresso. Entre os mais famosos, os deputados federais Pastor Marcos Feliciano (Republicanos-SP) e Flordelis (PSD-RJ), pastora e cantora evangélica acusada de ser a mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, morto em 2019. Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, também é pastora.
As cotas que reservam 30% das candidaturas e do fundo partidário a mulheres e também o fim das coligações partidárias, que não deixa mais as legendas fazerem alianças para aumentar suas chances de conseguir vagas nas câmaras municipais, impulsionaram mesmo o número de candidatos em geral nessas eleições, avalia a advogada e consultora política Natasha de Vasconcelos Soares, da Rede de Juristas Feministas (DeFemde).
Ela observa que a crescente inserção de líderes religiosos no cenário político tem muito a ver com o que apontam os dados divulgados pelo pesquisador do IBGE José Eustáquio Diniz Alves: dentro de pouco mais de uma década, os evangélicos serão maioria no Brasil. Segundo o pesquisador, a presença católica na população chegaria a 38,6% em 2032, enquanto a presença evangélica seria de 39,8% na mesma data. Ou seja: quanto mais evangélicos no país, mais devotos em todos os espaços.
“A Igreja sempre esteve presente e foi influente na forma de pensar a política. E a necessidade de preencher as cotas, junto com a queda das coligações partidárias, leva as mulheres religiosas a ocupar esses espaços numa tentativa de equalizar e evitar o avanço de candidaturas feministas, mais à esquerda, que têm como bandeira a autonomia das mulheres. Essas candidatas cumpririam o papel mais tradicional”, diz Natasha, que preside a Comissão da Mulher Advogada da OAB-PA.
A advogada e mestre em ciência política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ana Carolina de Camargo Clève diz que o crescimento é natural.
“Existem diversas modalidades de participação na política, e os grupos de interesse estão nesse meio, entre eles os evangélicos. Eles fazem parte da democracia, e é natural que queiram eleger os seus”, diz ela, que é ainda Membro-fundadora da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político.
“Mas ter mais mulheres candidatas é um ponto positivo, e como o partido é obrigado a ter chapa pura, isso fez com que prestassem mais atenção nas escolhas, e consequentemente colocar mulheres viáveis para garantir voto.”