Como já foi visto durante todo o ano – quando o preço das passagens aéreas subiu, em parte impulsionado pelo aumento no querosene de aviação -, os bilhetes para viagens no fim do ano e em janeiro devem continuar a tendência de alta. Das dez rotas mais buscadas na plataforma Voopter conforme o Estadão, para o réveillon, nove estão mais caras do que no mesmo período do ano passado. O resultado é o mesmo quando analisados os valores de janeiro.
Para o ano-novo, o maior aumento é entre o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e Recife (PE), com 124,7%. Segundo o levantamento, o preço médio da viagem de ida e volta é de R$ 5.855,13. No ano passado, o valor médio dos voos ficava em R$ 2.605,38. Ainda para o réveillon, apenas a viagem entre Guarulhos (SP) e Fortaleza (CE) está mais barata do que em 2021. A queda é de 15% (veja comparação completa na pág. B2).
Considerando os valores médios das passagens mais buscadas para janeiro, a viagem de ida e volta entre Salvador (BA) e Guarulhos é a que mais subiu, passando de R$ 970,10, no começo do ano, para R$ 2.132,10 em janeiro de 2023. Já a viagem entre o aeroporto de Galeão, no Rio de Janeiro, e Fortaleza foi a única com recuo, de 3%.
A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) destaca, em nota, que o preço das passagens vem oscilando muito por conta da volatilidade nas cotações do barril de petróleo e do dólar. Esse cenário, acrescenta, tem pressionado os custos do setor.
A alta nos preços quase fez a médica Luana Passos e o namorado, Anderson Kazuo, repensarem o destino das férias. Com a reserva no hotel feita, foi só recentemente que o casal teve certeza de que viajaria de São Paulo ao Rio de Janeiro às vésperas do Natal. Eles conseguiram comprar as passagens por um preço “aceitável”, com ida e volta em torno de R$ 1 mil.
“Estávamos com a hospedagem fechada desde outubro, só faltavam as passagens”, diz Luana. “Não cogitamos ir de ônibus pelas horas de viagem. Pela praticidade, optamos pelo avião, mesmo pagando bem mais.”
Querosene de aviação subiu quase 50% no ano e foi ‘vilão’ dos preços
Entre os “vilões” nos custos do setor aéreo, o querosene de aviação é o pior. De janeiro até o início deste mês, o combustível derivado do petróleo subiu 49,6%. O insumo responde por cerca de 40% dos custos das empresas aéreas. No mesmo período, o preço das passagens no País avançou 22,4%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A exemplo do que ocorreu com a cotação do petróleo, as passagens aéreas começaram a ter variação negativa mais recentemente. Em novembro, houve queda de 9,8%. Janeiro, fevereiro, março e agosto também registraram recuos – o que, segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), “comprova a volatilidade dos custos estruturais da aviação e, consequentemente, do preço das passagens”.
Outro fator que pressionou o preço das passagens durante todo o ano foi o dólar. O setor aéreo tem 60% de seus custos na moeda americana e, durante praticamente 2022 inteiro, ela ficou cotada acima de R$ 5.
A Azul, que não faz parte da Abear, afirma, também em nota, que o preço de suas passagens varia de acordo com fatores como sazonalidade, antecipação da compra em relação à data da viagem e disponibilidade de assentos. Diz ainda que “fatores externos, como a alta do dólar, são elementos que também influenciam nos valores das passagens”.
Patamar
Para o consultor André Castellini, sócio da Bain & Company e especialista no setor aéreo, a tendência é de que as passagens continuem altas nos próximos meses, a não ser que a cotação do petróleo caia significativamente ou que o real se valorize.
Castellini diz que, dado o custo atual das empresas, o preço dos bilhetes está em um patamar mínimo para a manutenção das operações. “Os resultados apresentados pelas companhias no terceiro trimestre mostram que o preço das passagens está no nível necessário para que elas não queimem caixa, mas não está remunerando o capital nem alcançou um patamar suficiente para pagar as dívidas.”
Diante desse cenário, as companhias não têm ampliado de forma significativa a oferta de voos, numa estratégia de manter as passagens mais disputadas e, portanto, os preços mais elevados. Apesar de terem aumentado o número de destinos atendidos, a frequência dos voos não acompanhou o ritmo.
Castellini avalia que, se a alta do preço das passagens estivesse resultando em maiores lucros para as empresas, suas ações valeriam mais. Hoje, no entanto, o papel da Gol custa 14% do preço pré-pandemia; o da Azul, 16%; e o da Latam, companhia que recém saiu de um processo de recuperação judicial nos Estados Unidos, 7%.