A um ano das eleições municipais, partidos vêm convivendo com rachas internos que levaram à intervenção de caciques políticos na tentativa de aplacar disputas nas maiores cidades do país. A movimentação, que vai do PT ao PL passando por siglas do Centrão, é mais intensa na base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, grupo que inclui segundo reportagem de Bernardo Mello, do O Globo, ministros e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e que busca pavimentar palanques mirando as eleições majoritárias de 2026.
Em Belo Horizonte, o atual prefeito Fuad Noman (PSD) vem perdendo apoio de Pacheco, que acalenta uma candidatura ao governo de Minas em 2026. Fuad se aproximou do ex-deputado Marcelo Aro (PP), secretário de Casa Civil e articulador político do governo Romeu Zema (Novo). A aliança, para interlocutores do presidente do Senado, pode dar a Zema um palanque na capital mineira e atrapalhar os planos de Pacheco.
Em reação, o senador articula a filiação de um adversário de Fuad, o atual presidente da Câmara de BH, Gabriel Azevedo (sem partido), para concorrer à prefeitura pelo PSD. Um convite ao vereador já foi feito pelo deputado Luiz Fernando Faria (PSD-MG), aliado de Pacheco.
— Fuad se aliou a um grupo antagônico ao nosso projeto para 2026, que está centrado no Pacheco — disse Faria.
Além de Pacheco, outro senador aliado de Lula, Renan Calheiros (MDB-AL), interveio no cenário local após seu partido se aproximar do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL). Caldas é apoiado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), rival dos Calheiros, e tende a engrossar a oposição ao MDB em 2026, quando Renan tentará renovar o mandato no Senado.
Renan, que comanda o diretório estadual do MDB, escolheu em setembro o deputado federal Rafael Brito, pré-candidato à prefeitura, para assumir o partido em Maceió, com a incumbência de punir emedebistas aliados de Caldas. Um dos alvos é o presidente da Câmara Municipal, Galba Netto (MDB), cotado como candidato a vice na chapa do atual prefeito.
Petistas de olho em 2026
O racha ficou exposto no último mês, quando Brito e Renan solicitaram ao Ministério Público de Alagoas que investigue a compra de um hospital pela prefeitura de Maceió, levantando suspeita de sobrepreço. Netto, por sua vez, elogiou a aquisição e alfinetou adversários que “torcem contra” por “só pensar nos seus projetos pessoais”.
— Ele (Netto) está nos traindo. O MDB abriu as portas para saída dos infiéis — diz Brito.
Ministros do governo Lula também mergulharam em disputas paroquiais, tendo 2026 no horizonte. Em Aracaju, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo (PT), mede forças com o senador Rogério Carvalho (PT-SE) para definir o nome que será lançado à prefeitura. A briga por espaço é uma prévia da próxima eleição estadual, quando ambos pretendem concorrer ao Senado.
Macêdo, de acordo com lideranças locais, pretende lançar a petista Eliane Aquino, que mantém diálogo com o grupo político do atual governador, Fábio Mitidieri (PSD), a quem Carvalho faz oposição. Desde o início do ano, Aquino é secretária de Renda e Cidadania no Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), pasta chefiada pelo petista Wellington Dias.
Em entrevista a uma rádio local na semana passada, Rogério Carvalho cobrou Macêdo a fazer oposição ao governo estadual e classificou como “infantil” a hipótese de o ministro definir a candidatura em Aracaju. O senador sugeriu ainda que a jornalista Candisse Carvalho, sua mulher, pode concorrer à prefeitura. Candisse, que estava nomeada como assessora de Wellington Dias, pediu exoneração na última terça e tem feito agendas em tom de campanha em Aracaju.
Presidente do diretório estadual do PT e aliado de Carvalho, o deputado João Daniel lançou o próprio Macêdo como candidato. A hipótese, porém, não agrada o ministro, pelo risco de perder espaço para 2026. Macêdo concorreu à prefeitura em 2020, mas não se elegeu.
— O nome definido para concorrer é o do ministro Márcio Macêdo. E seja quem for o candidato do PT, não estaremos juntos do governador — garantiu Daniel.
Em Fortaleza, o ex-governador petista Camilo Santana atua para filiar ao PT o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão (PDT). O movimento do ministro da Educação gera incômodo tanto no PT — outras alas querem encabeçar uma candidatura em 2024, e veem Leitão como possível concorrente —, quanto no PDT, do atual prefeito Sarto Nogueira.
A troca de partido de Leitão foi autorizada pelo senador Cid Gomes (PDT-CE), que trava uma queda de braço pelo comando do PDT com o ex-ministro Ciro Gomes, seu irmão.
Ciro e seus aliados apoiam a reeleição de Sarto e pregam oposição ao PT, enquanto Cid defende a retomada de uma aliança com Camilo, desfeita pelo irmão.
No PT, uma das postulantes à prefeitura é a deputada federal Luizianne Lins, que tem um histórico de embates internos com Camilo. Luizianne se apresentou como pré-candidata no mesmo dia em que Cid liberou o aliado a buscar outro partido.
— Evandro é um aliado antigo do PT. É natural que vínculos internos sejam mais fortes do que com quem não milita no partido, mas não há veto à filiação — afirmou Guilherme Sampaio, presidente do PT em Fortaleza.
Enquadrados no PL
No PL, o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto, enquadrou lideranças bolsonaristas que desejavam concorrer a prefeituras de capitais. O principal gesto de Valdemar ocorreu em São Paulo, ao barrar o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) para garantir o apoio à reeleição do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). O presidente do PL já sinalizou que enxerga mais chances de vitória em Nunes.
O general Walter Braga Netto, atual secretário de Relações Institucionais do PL, disse ao jornal O Globo, que Valdemar e o ex-presidente Jair Bolsonaro definirão as candidaturas “em conjunto”.
— Estamos comprometidos em escolher candidatos que compartilhem nossos valores, princípios e que tenham um forte potencial eleitoral.
Em Manaus, Valdemar determinou a abertura de processo disciplinar que terminou com a expulsão do coronel Alfredo Menezes (PL), amigo de Bolsonaro, por ataques nas redes sociais a correligionários. Menezes foi à Justiça e suspendeu a expulsão. Valdemar, porém, delegou a decisão final a um aliado de longa data, o ex-ministro Alfredo Nascimento, presidente do diretório estadual do PL no Amazonas. Nascimento costura uma aliança com o atual prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), rival de Menezes para 2024.
Partidos como PP e Republicanos, por sua vez, têm rachas envolvendo postulantes à reeleição. Em Goiânia, o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, interveio numa disputa de correligionários, entre o prefeito Rogério Cruz e o suplente de deputado federal Hildo do Candango, que ameaçava a própria candidatura de Cruz. Em um acordo interno, Hildo assumiu o mandato na Câmara para frear os embates. Já em Rio Branco, o PP prepara a expulsão do atual prefeito, Tião Bocalom. O movimento é patrocinado pelo governador do Acre, Gladson Cameli (PP), que deseja lançar um aliado à prefeitura.