Partidos que perdem eleições para cargos majoritários enfrentam um dilema de difícil solução, diz artigo de
Carlos Pereira, do jornal O Estado de S. Paulo. Deveriam se opor, de acordo com o colunista, de forma sistemática ao governo eleito ou seguir uma estratégia de “oposição responsável”? Esse dilema seria ainda mais acentuado em contextos de grande polarização política.
Um partido de oposição seria responsável quando apoiasse iniciativas do governo congruentes com a sua plataforma e/ou de grande apoio popular. Mas se oporia às proposições que fossem distantes das suas preferências e/ou tivessem um perfil controverso junto à sociedade.
O problema é que a cada sucesso do governo com o apoio do partido de oposição, maiores seriam as chances de a oposição continue amargando essa condição. A estratégia dominante seria criar obstáculos ao governo para aumentar as chances de ser governo nas próximas eleições.
Por mais que a política implementada tenha sido consequência direta da cooperação entre governo e oposição, é muito pouco provável que o eleitor atribua crédito à oposição. Todo o crédito é atribuído ao governo de plantão.
Esse dilema fica ainda mais exacerbado em ambientes em que o presidente é muito poderoso, como no Brasil. Jogar o jogo de oposição responsável nesse contexto é o equivalente a ser governo sem, no entanto, ter acesso aos benefícios políticos e financeiros alocados de forma discricionária pelo executivo aos fiéis parceiros de coalizão.
O PT parece ter entendido bem esse jogo. Quando foi oposição, sempre se opôs de forma sistemática aos governos, mesmo quando as políticas poderiam em tese trazer ganhos para a sociedade, como o controle inflacionário e o equilíbrio das contas públicas. Foi assim, por exemplo, quando: não participou do governo Itamar e votou contra o Plano Real; votou contra a LRF no governo de FHC; se opôs ao teto de gastos no governo Temer; foi contra a reforma da previdência no governo Bolsonaro etc.
O mais interessante é que os demais partidos não agem da mesma forma quando o PT é governo.
Os presidentes do PSDB (Eduardo Leite), do PP (Ciro Nogueira) e do PL (Valdemar Costa Neto) defenderam que seus partidos façam oposição responsável ao governo Lula. Pasmem, até Bolsonaro, no seu retorno do autoexílio na Flórida, disse que faria uma oposição responsável ao seu arquirrival.
Por que será que os partidos não conseguem pagar na mesma moeda quando o PT é governo? Como a trajetória presidencial faz parte do “DNA” do PT, o partido está mais bem preparado para o empobrecimento de curto prazo, pois aposta nos ganhos futuros de ocupar a Presidência gerados da pela oposição sistemática.