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segunda-feira 26 de setembro de 2022 às 09:35h

Partidos ignoram 30% das mulheres na distribuição de verbas para a campanha

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Titulares de apenas 34% das candidaturas deste ano, as mulheres também são minoria quando o assunto é repasse de recursos das legendas: uma em cada três não recebeu sequer um real dos fundos eleitoral e partidário para financiar suas campanhas, segundo levantamento publicado neste último domingo (25) pelo jornal O Globo. Esse dado corresponde a 2.743 mulheres, ou 28% das inscritas na disputa por um cargo eletivo. PROS, PRTB, PMB e Agir são as siglas que, em números absolutos, mais têm mulheres sem recursos nesta campanha.

Pela lei eleitoral, 30% das candidaturas devem ser preenchidas por mulheres. Esta cota de gênero também vale para a divisão dos recursos e do tempo de propaganda gratuita no rádio e na televisão. Para a cientista política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart, os números mostram que a legislação não é cumprida.

— Desde o século passado, há leis sendo adotadas para incentivar a participação feminina, mas como pano de fundo há uma estrutura de machismo que tende a colocar as mulheres como coadjuvantes. O impacto ainda é pequeno porque os partidos desviam recursos usando laranjas ou, quando de forma legal, concentram em algumas mulheres específicas que não têm viabilidade eleitoral, como é o caso de Soraya Thronicke — explica a especialista, numa referência à candidata à Presidência do União Brasil, que tem 2% das intenções de voto, segundo o Datafolha.

Gráfico — Foto: Editoria de Arte

Nem dinheiro nem TV

O Globo identificou candidatas a deputada federal e estadual do Rio que ficaram sem verba de seus partidos. A dona de casa Valdinea Siqueira é uma das 192 mulheres deixadas de lado pelo Agir. Postulante a uma vaga na Assembleia, ela é líder comunitária em Bangu, na Zona Oeste carioca, onde vive há 20 anos. Com o sonho de seguir a carreira política, concorre pela terceira vez. Em 2018, pelo então PTC, sigla originária do Agir, teve 121 votos. Neste ano, ela ganhou apenas alguns adesivos e panfletos do diretório estadual.

— A minha campanha é sem recursos. Não tenho tempo de TV, rádio, nada. Faço caminhadas com ajuda de amigos, mas não tenho nenhuma visibilidade. No final, o partido tem que ter um percentual de mulheres, e eu estou lá para ajudar o partido — diz.

Na mesma situação, a empresária Elaine Moura (PL) faz parte dos 29,4% de candidaturas femininas da legenda do presidente Jair Bolsonaro (PL) que estão sem recursos. Empresária de Guaratiba, também na Zona Oeste do Rio, ela se descreve como conservadora e lésbica assumida. Sobre sua campanha para a Câmara dos Deputados, relembra alguns episódios em que esteve em comícios do governador Cláudio Castro (PL) ou na presença do próprio chefe do Executivo, como na Marcha Para Jesus, que ocorreu em agosto na capital fluminense.

Segundo Elaine, esses eventos provaram o quanto sua presença desagrada alguns políticos da chapa, o que teria impactado na repartição do fundo. Como resultado, ela tem caixas lacradas com material de campanha, mas faltam braços para distribuí-lo ao eleitor

— Não recebi dinheiro porque sou gay, fui discriminada. Mas estão me usando: uma mulher coloca três homens na nominata — desabafa, referindo-se à cota obrigatória.

Integrante do partido com o maior número absoluto de mulheres sem recursos, a candidata a deputada federal Mônica França (PROS) é cozinheira de uma pensão em Anchieta, na Zona Norte do Rio, mas começou a sonhar com a política a partir do seu trabalho social de ressocialização de mulheres em situação de rua.

Em 2018, ela concorreu pelo PSDB, onde relata ter tido apoio, o que lhe rendeu 759 votos. Sob a promessa de que receberia R$ 30 mil para sua campanha este ano, ela se filiou ao PROS. A uma semana do pleito, está a ver navios.

— O PROS abandonou todas as mulheres. O material de campanha chegou essa semana (passada), apenas um cartãozinho. No dia da assembleia, eles prometeram mundos e fundos. Não somos laranjas dos homens, mas eles nos enxergam assim. Nós assinamos vários papéis das doações que não chegaram. Até investigar, já acabou a eleição — diz Mônica.

Os diretórios estaduais das siglas citadas foram procurados, mas não responderam.

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