A construção de uma frente ampla formada por partidos de centro é uma possibilidade real para as eleições de 2022. Mas para que a iniciativa seja bem-sucedida é preciso que as siglas se organizem em torno de um projeto comum, avalia o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino em entrevista ao portal Terra. “Não se sabe se os partidos vencedores em 2020 vão articular um projeto único”, afirma. Abaixo, leia a entrevista.
A formação de uma frente ampla de centro é uma possibilidade real ou ainda uma miragem na política brasileira?
É uma possibilidade real e uma necessidade se o centro quiser fazer dessas vitórias no plano municipal uma vitória nas eleições gerais. Se o centro não conseguir se organizar em torno de um projeto comum, tende a repetir o fracasso de 2018, quando foi cada um por si. Nesse momento, se o centro não fizer isso, tende a repetir o mau desempenho em 2022.
As eleições 2020 indicam uma nova polarização no País? Política tradicional versus bolsonarismo, por exemplo?
Podemos ter de fato uma emergência de uma frente articulada em torno de candidaturas do centro, que desafiem o bolsonarismo em 2022, mas não vejo isso como uma nova polarização. Por definição, a polarização tem a ver com opostos de extremos. O centro tenta aglutinar parte dessas forças opostas, não está nas pontas. Quanto a esta frente de centro, não se sabe se os partidos vencedores em 2020 vão articular um projeto único. Vimos uma derrota de projetos polares, de um lado a esquerda mais antiga e do outro o polo bolsonarista.
A esquerda se uniu em torno de Boulos no 2º turno em São Paulo, mas um dia depois da eleição, já são registradas rusgas entre duas lideranças nacionais desse campo: Ciro e Dino. O que esperar da esquerda até 2022?
A esquerda tradicionalmente se une no segundo turno. Essas rusgas como a de Ciro e Dino fazem com que Boulos saia como uma liderança importante e se crie cada vez mais um novo foco de poder. Estamos assistindo a uma reorganização da hegemonia da esquerda, antes do PT, que agora a perdeu e terá dificuldade para reaglutinar todo mundo sob sua asa. Isso pode dividir ainda mais a esquerda.
O PT não ganhou nenhuma capital e Bolsonaro elegeu pouquíssimos aliados. O que 2020 indica para os grandes ‘players’ nacionais (Lula, Bolsonaro, Doria, Huck, Ciro)?
Lula sempre investiu fortemente na ideia de que o PT é a grande alternativa da esquerda. Com o resultado de 2020, ele perde esse discurso. Isso também é ruim para Bolsonaro, que depende de manter o ‘inimigo’ vivo. Um PT fraco não ajuda o projeto de Bolsonaro de tentar reeditar a polarização de 2018. Para Doria e Huck, é importante que o PT se enfraqueça, mas a emergência de uma esquerda diferente, com valores oxigenados e que flerta com a responsabilidade fiscal, pode esvaziá-los enquanto alternativa de centro. Para Ciro, se o PT não é mais hegemônico, ele se aponta como alternativa. É um cenário de incertezas.
O que explica a maior pulverização de partidos entre prefeituras do País em 2020?
A pulverização é reflexo da pulverização do Congresso e do próprio cenário partidário do País. Há iniciativas que buscam corrigir isso, como a cláusula de desempenho, por exemplo, mas os efeitos demoram. A proibição de coligações proporcionais no pleito deste ano acabou levando a um aumento de candidaturas majoritárias entre todos os partidos. É um efeito direto.