O fiasco nas prévias do PSDB para escolha do candidato do partido à Presidência da República causou surpresa e até preocupação em possíveis aliados de outras siglas nas eleições de 2022. Mais do que falha técnica no aplicativo de votação, o problema revelou segundo a revista Exame, desorganização, falta de preparo e divisão do PSDB, com potencial de prejudicar a campanha ao Palácio do Planalto.
A opinião foi manifestada ao jornal O Estado de S. Paulo por dirigentes de legendas da centro-direita, que discutem com os tucanos o lançamento de um nome da terceira via para se contrapor às candidaturas do presidente da República, Jair Bolsonaro, e do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.
As prévias do PSDB acabaram adiadas por causa da instabilidade no sistema de votação, num processo que terminou por expor ainda mais o racha no partido, com troca de acusações entre os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, também pré-candidato nas prévias, ficou ao lado de Doria e se posicionou primeiramente contra o argumento de Leite sobre a necessidade de suspender as prévias diante dos problemas constatados no aplicativo de votação. Os dois acabaram cedendo, mas até agora não há acordo sobre nova data para as eleições internas.
Doria e Virgílio querem a continuidade da votação no próximo domingo; Leite avalia que seria melhor retomar as prévias em fevereiro de 2022.
Falhas no aplicativo, verificadas desde cedo, impediram muitos filiados de votar e provocaram inúmeros protestos. “O processo de votação em aplicativo encontra-se pausado em razão de questões de infraestrutura técnica, que não comportou a demanda dos votantes das prévias. Os votos registrados neste domingo estão preservados e o PSDB está definindo, junto com os candidatos, em que momento o processo será retomado”, informou o PSDB, em nota divulgada neste domingo, 21.
Sem fim
O presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), afirmou que o processo é ruim e mostra falta de preparo do PSDB. “Acho que não se pode criar um fato e não ter um final organizado”, argumentou Bivar, que vai comandar o União Brasil, partido a ser criado com a fusão entre o PSL e o DEM. “Não sou do quadro do PSDB, longe de mim daqui de longe julgar, mas acredito que essa decisão deveria sair hoje (domingo).”
Outro dirigente de partido de centro que tem conversado com o PSDB disse ao jornal O Estado de S. Paulo que as prévias arranharam ainda mais a imagem da sigla e podem até mesmo dificultar um acordo para fazer com que os tucanos liderem uma chapa da terceira via.
Além das dificuldades para votar, o problema técnico motivou acusações de fraude entre aliados dos dois principais adversários na disputa. Nos bastidores, apoiadores do governador de São Paulo acusaram a campanha de Leite de querer ganhar no “tapetão” em um processo “vergonhoso”. O deputado Aécio Neves (MG), um dos principais aliados do governador gaúcho, defendeu o adiamento do resultado, como ocorreu.
Em conversas reservadas, Aécio disse que adversários de Leite estavam usando desculpas para justificar uma possível derrota, mesma acusação feita pela campanha de Doria em relação ao rival. Durante todo o dia, não faltaram denúncias de compra de votos, pagamento de cabos eleitorais e tentativas de melar o processo.
Aliado do PSDB, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, tentou jogar água na fervura política. “Estamos no início de uma nova realidade em que você não precisa sair de casa para votar. Isso ainda não está consolidado”, disse Freire. “Tem muito mais acerto do que problemas. Temos que nos acostumar com isso e cada vez vamos ter menos dificuldade.”