Antes mesmo do início do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), o PL já dava como certa a perda de mandato da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), integrante da tropa de choque bolsonarista na Câmara, por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal.
O caso, que está sendo julgado pelo Supremo desde a última sexta-feira (21) e seguirá sob análise até o próximo dia 28, diz respeito ao episódio em que Zambelli apontou sua arma e perseguiu um apoiador de Lula em uma rua no bairro nobre de Jardins, em São Paulo, um dia antes do segundo turno das eleições presidenciais, em 2022.
A cena foi filmada por populares que caminhavam pelo bairro e viralizou nas redes na reta final da campanha, o que irritou Bolsonaro.
Na avaliação de aliados do ex-presidente, a cena de Zambelli com uma arma em punho pelas ruas de São Paulo não foi apenas “grave”, como contribuiu para a derrota nas eleições de 2022.
“Ela deu a vitória ao Lula, segundo as nossas pesquisas pós-eleições”, diz um ex-integrante do primeiro escalão bolsonarista ouvido reservadamente pelo blog. “Sondagens realizadas por mais de um fornecedor evidenciaram o desastre de derretimento de votos menos de 18 horas antes da abertura das urnas.”
Só na cidade de São Paulo, Lula obteve cerca de meio milhão de votos a mais que Bolsonaro no segundo turno. Em todo o território nacional, a vantagem do petista sobre o adversário foi de apenas 2,1 milhões de votos.
STF deve formar maioria
A ação penal contra a parlamentar está sendo julgada no plenário virtual do STF, uma plataforma digital que permite que os ministros analisem casos sem se reunir presencialmente, longe dos olhos da opinião pública – e das transmissões ao vivo da TV Justiça.
A previsão é a de que seja formada maioria para condená-la. Zambelli, no entanto, só perde o mandato na Câmara após o trânsito em julgado, ou seja, quando esgotar os recursos.
Quem deve ficar com a vaga é o segundo suplente do PL em São Paulo, Coronel Tadeu, já que o primeiro suplente da legenda, Missionário José Olímpio, assumiu a vaga aberta com a licença de Eduardo Bolsonaro.
Até a publicação deste texto, três dos 11 ministros do Supremo já haviam votado a favor da perda de mandato e da condenação a cinco anos e três meses de prisão por porte ilegal: o relator, Gilmar Mendes, Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes.
“O crime foi cometido às vésperas do segundo turno da eleição presidencial de 2022, causando verdadeira comoção nacional e tumulto. Trata-se de inequívoca situação de violência política, considerado o contexto eleitoral do conflito, com consequências profundas no processo eleitoral”, escreveu Gilmar.
“A par do aspecto coletivo, convém destacar o sofrimento imposto ao ofendido, perseguido e constrangido com arma de fogo quando tentava se evadir da altercação verbal. Restou inequívoco, do depoimento da vítima, o impacto profundo do crime em sua vida e saúde mental.”