A Suécia assumiu a presidência semestral da União Europeia (UE) neste 1º de janeiro com o desejo de conter qualquer impulso protecionista. No entanto, o país vai ter que levar em consideração o contexto de sua política interna, marcada pela entrada na coligação governista do partido de extrema direita Democratas Suecos (SD), o grande vencedor das eleições legislativas de setembro e tradicionalmente contrário às posições do bloco europeu.
“Uma Europa mais segura, mais verde e mais livre”. Foi com esse slogan que Estocolmo lançou sua presidência rotativa da União Europeia. Como manda a tradição, as grandes linhas do mandato já foram elaboradas pelos dois países antecessores – República Tcheca e França. Mas cada nação pode tentar impor seu estilo, apoiando alguns temas mais do que outros.
A prioridade será a questão da segurança e o apoio econômico e militar à Ucrânia, além da luta contra a criminalidade internacional transfronteiriça. Sem esquecer o desafio do fornecimento de energia na União Europeia, evidenciado desde o início da ofensiva russa no território ucraniano, em fevereiro de 2022.
No entanto, a Suécia, que não faz parte da zona do euro, “tem uma relação bastante distante com a Europa”, comentou com a AFP o diretor do Instituto Jacques Delors, Sébastien Maillard, prevendo uma presidência de seis meses que “vai cumprir seu dever”, mas “sem muito zelo” e sem novos impulsos.
Ao contrário das últimas duas presidências rotativas, quando duas cúpulas da UE foram realizadas em Versalhes e em Praga, nenhuma reunião desse tipo é esperada nos próximos seis meses. Os encontros ministeriais serão realizados em um modesto centro de conferências perto do principal aeroporto de Estocolmo.
Posição europeia diante dos Estados Unidos
A disposição da Suécia de reavivar as negociações de livre-comércio com outros países e regiões pode ser limitada pela ação da Alemanha e da França, as duas maiores economias do bloco, para apresentar uma resposta comum à Lei de Redução da Inflação (IRA) dos Estados Unidos. Dedicado, principalmente, à proteção contra a mudança climática e com financiamento de US$ 420 bilhões, o plano prevê reformas e subsídios para estimular empresas sediadas nos Estados Unidos.
O presidente francês, Emmanuel Macron, denunciou seu caráter protecionista durante uma recente visita a Washington. Já o comissário do Mercado Interno da UE, Thierry Breton, alertou que o programa IRA causará “distorções da concorrência em detrimento das empresas da UE”.
Imigração
No entanto, essa presidência terá como pano de fundo um contexto delicado na política interna sueca, estremecida desde a entrada do partido Democratas Suecos na coligação governista. Essa coalizão, que pôs fim a oito anos de governos de esquerda, elevou o primeiro-ministro Ulf Kristersson, do partido dos Moderados, a uma posição de aliança com os democratas-cristãos e também com os liberais. E a presença do SD, de extrema direita, poderá gerar atritos em algumas questões delicadas desta presidência europeia, a começar pela imigração.
“O SM sempre teve uma posição contrária à União Europeia e, como os demais partidos de extrema direita da Europa, chegou a pedir um ‘Swexit’, ou seja, a saída da Suécia da União Europeia, como fizeram os britânicos”, lembra Tobias Hübinette, professor de Estudos Interculturais na Universidade de Karlstad. “Recentemente, após um acordo concluído com a coalizão do governo, dos Democratas Suecos mudaram de posição, mas permanecem muito críticos às decisões tomadas em Bruxelas (capital da UE)”, explica o pesquisador em entrevista à RFI.
“Quando examinamos as sessões do Parlamento Europeu, por exemplo, vemos claramente que eles votam em defesa da Hungria e da Polônia quando se trata de exigências da União Europeia em termos de direitos humanos”, aponta o professor.
A Suécia aderiu à UE em 1995. Esta será a terceira vez que ocupará a presidência semestral do bloco. As anteriores foram em 2001 e 2009.
Os partidos políticos suecos tradicionalmente mantinham uma postura pró-europeia, mas o entusiasmo inicial diminuiu nos últimos anos. Em 2003, o país nórdico se recusou a aderir à zona do euro por referendo e, hoje, dois em cada três suecos ainda preferem manter sua moeda, a coroa sueca, segundo as pesquisas de opinião.