A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) avalia a necessidade de instalação de filtros em equipamentos de aeronaves para evitar interferências com a chegada da telefonia 5G a partir de julho deste ano.
A medida, segundo técnicos da agência, seria “cosmética” para dar mais garantia à fabricante de jatos Embraer na venda de seus aparelhos.
No final do ano passado, a empresa enviou um ofício para a Anatel questionando sobre possíveis interferências do 5G, que será prestado na faixa de frequência de 3,5 GHz (gigahertz). Frequências são como avenidas no ar por onde as teles fazem trafegar seus sinais. Fora dessas vias ocorrem interferências. Ainda segundo os técnicos da Anatel, o pedido da Embraer é resultado de uma preocupação global dos fabricantes de aeronaves.
Nos EUA, a agência de telecomunicações, conhecida como FCC, também foi acionada devido ao início do serviço 5G no país.
No entanto, ainda segundo os técnicos, esses equipamentos aeronáuticos (rádio altímetros) -responsáveis pela aproximação dos aviões quando se preparam para a decolagem- operam entre 4,2 GHz e 4,4 GHz, muito distante da faixa de 3,5 GHz.
Segundo o conselheiro Moisés Moreira, que comandará um dos grupos de trabalho de implantação do 5G, o assunto das aeronaves vem sendo acompanhado pela Superintendência de Outorga e Recursos à Prestação (SOR), responsável por, entre outros assuntos, fazer a gestão do espectro de radiofrequências no país. “Essa gestão do espectro inclui a interação com outros países e o acompanhamento de discussões sobre possíveis problemas de convivência entre diferentes serviços e sistemas, bem como a definição de medidas para mitigar eventuais interferências”, disse.
Ainda segundo ele, a convivência entre os serviços de telefonia e dos rádio altímetros é uma questão debatida internacionalmente há diversos anos. “Essa discussão ganhou maior repercussão nos EUA com a iminência da ativação do 5G por lá”, disse. Lá, os altímetros operam entre 3,7 GHz e 3,9 GHz -um espaço de até 200 MHz, conhecido como banda de guarda, entre o serviço de 5G e o dos altímetros dos aviões.
Esse risco no Brasil está afastado porque a banda de guarda conta com pelo menos 500 MHz.
Ou seja: as chances de interferência seriam desprezíveis.
Mesmo assim, para tranquilizar os futuros compradores de aviões da Embraer, a Anatel estuda a possibilidade de instalação de filtros nesses equipamentos.
Esses filtros impediriam que os aparelhos sofressem qualquer tipo de interferência no momento de uma aterrissagem, por exemplo.
Para isso, no entanto, a Anatel terá de incluir os aviões comerciais no projeto de limpeza da faixa de 3,5 GHz, algo que dependerá de deliberação do conselho diretor da agência.
A chamada “limpeza da faixa” é uma espécie de pente fino para evitar qualquer tipo de interferência dos serviços. Antes do leilão do 5G, ocorrido em novembro do ano passado, a faixa de 3,5 GHz era ocupada pela radiodifusão e milhares de antenas parabólicas captavam sinais abertos das principais emissoras nos rincões mais afastados do país.
Para evitar que a telefonia de quinta geração atrapalhe a recepção de sinais, as operadoras que venceram o leilão depositarão recursos na conta da Entidade Administradora da Faixa de 3,5 GHz (EAF), que será criada para levar adiante as medidas de mitigação de interferências.
Um dos projetos pré-definidos no edital do 5G estabeleceu a distribuição de kits de recepção das parabólicas, que passarão a operar em outra frequência.
A instalação de filtros nas aeronaves seria uma nova demanda, não prevista anteriormente pelos técnicos da agência porque não há necessidade, segundo um dos técnicos que participam dos estudos.