A taxa de investimentos sobre o PIB no Brasil em 2024 ficou em 16,5%, segundo IBGE. Um patamar insuficiente para as necessidades do país, especialmente de investimentos em infraestrutura, e bem abaixo da média da maioria das economias emergentes.
Levantamento feito pelo economista Gustavo Cruz, da RB Investimentos, mostra que a taxa brasileira ficou distante dos 23,5% de média entre os 26 países do grupo.
A lista conta com economias da América Latina, do Oriente Médio, Europa Oriental e Ásia. Entre os países do Brics “original”, o Brasil perde apenas para África do Sul, que fechou o ano passado com taxa de 16% sobre o PIB. O melhor desempenho foi o da China, com 42,5%, seguida pela Índia, com 31,7%, e Rússia, com 23,5% do PIB.
Mesmo entre os vizinhos, o desempenho brasileiro deixa a desejar.
Apenas na Argentina a taxa de investimentos foi menor, ficou em 15% em 2023. No Chile o indicador fechou em 23,3%, e no Peru, 21%. No México, considerado um dos maiores concorrentes do Brasil na atração de investimentos estrangeiros, a taxa de investimentos ficou em 24% no ano passado.
Especialistas em infraestrutura apontam que o Brasil precisaria ter um volume de investimentos anual equivalente a no mínimo 22,5% do PIB para equipar o país para um crescimento sustentável ao longo do tempo.
De 2015 até 2023, segundo levantamento do economista da RB Investimentos, a média brasileira ficou em 17%, sendo que apenas em 2021 o volume alcançou 19,5%.
“Em 2021, os brasileiros estavam no auge da poupança forçada pela pandemia. A taxa de juros também alcançou o menor patamar da história, de 2%, e estimulou o setor imobiliário e compra de máquinas e equipamentos. Foi só os juros começarem a subir que o volume de investimentos voltou a cair”, disse Gustavo Cruz.
No último trimestre do ano passado, o indicador de Formação Bruta de Capital Físico calculado pelo IBGE apresentou melhora, com alta de 0,9% depois de muitos trimestres em queda.
O economista lembra que o governo Lula apresentou plano de concessões e parcerias público privadas que podem chegar a R$ 199 bilhões este ano, o que deve promover uma recuperação na taxa de investimentos em 2024.
“A queda da taxa de juros pelo BC também pode ajudar. Mas o Brasil ainda tem um longo desafio pela frente. Os investidores estrangeiros com quem eu converso ainda não estão convencidos ou estimulados para vir para cá. A questão tributária ainda pesa muito, por isso a reforma vai ser tão importante”, disse Cruz ao blog.
A surpresa do crescimento de 2023 não se deu apenas por erro das previsões dos economistas sobre o desempenho do ano passado. O PIB de 2,9% aconteceu apesar da queda de 3% nos investimentos produtivos.
É o tipo de resultado que tem uma explicação “fora da curva”, como foi o caso da agropecuária que subiu mais de 15% em 2023, o que não vai se repetir tão cedo.
Sem uma recuperação firme dos investimentos produtivos, muitos economistas alertam que o país terá sempre um limite para o crescimento.
Para este ano, as estimativas estão sendo reajustadas para cima, com desempenho previsto em torno de 2%. O governo espera mais, 2,2% de alta no PIB em 2024.
Gustavo Cruz espera 2,5% e está na “ponta otimista” entre os economistas. Para ele, a queda dos juros e o impulso para o crédito podem garantir um PIB maior.
Ele também está entre aqueles que acreditam que as reformas recentes colaboraram para um aumento do PIB potencial brasileiro.
Por Thais Herédia – Passou pelos principais canais de jornalismo do país. Foi assessora de imprensa do Banco Central e do Grupo Carrefour. Eleita em 2023 a Jornalista Mais Admirada na categoria Economia do Jornalistas & Cia.