Ainda que reconheçam que a eventual entrada de Sergio Moro na corrida presidencial possa embaralhar as intenções de voto do eleitorado de direita, aliados do presidente Jair Bolsonaro acreditam que o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública também pode fragilizar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas.
A expectativa é que Moro oficialize sua filiação ao Podemos em 10 de novembro, em uma cerimônia em Brasília. A decisão sobre participar ou não da disputa pelo comando do Palácio do Planalto, porém, deve ficar para um segundo momento.
Antes disso, ele pretende realizar atos públicos em São Paulo e Curitiba para atrair os holofotes ao seu ingresso no partido liderado pela deputada federal Renata Abreu (SP).
Na avaliação de parlamentares bolsonaristas, Moro no jogo deve mexer no tabuleiro das pré-candidaturas da “terceira via”, mas ter pouco efeito sobre a postulação do presidente. A leitura é que os apoiadores de Bolsonaro que flertavam com a possibilidade de apoiar o ex-juiz federal em 2022 já desembarcaram no momento em que ele deixou o governo.
Para eles, Moro teria maior potencial de desestabilizar a candidatura de Lula, concentrando esforços em defender a sua atuação como juiz dos casos da Lava-Jato – Moro sentenciou Lula à prisão, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as condenações do petista e declarou a suspeição do ex-ministro de Bolsonaro nos processos contra o ex-presidente.
A expectativa é que Moro contribuirá para reconstruir e fortalecer o sentimento antipetista entre os eleitores, o que, na avaliação de aliados de Bolsonaro, foi determinante para a vitória do presidente em 2018.
“Não acreditamos que ele tirará votos do Lula de quem é da esquerda, mas ele [Moro] deve fazer o eleitor de centro, que está pensando em votar no ex-presidente, reconsiderar sua decisão. Isso pode queimar essa suposta vantagem que o Lula tem atualmente”, avalia um importante aliado de Bolsonaro no Congresso.
À espera de Moro, lideranças do Podemos afirmam que o ex-minstro ainda não bateu o martelo sobre sua entrada na corrida presidencial. A expectativa, porém, é que ele engorde a lista de pré-candidatos ao Palácio do Planalto até o início do próximo ano.
Segundo apurou o Valor, Moro disse a interlocutores que sua participação “não é inegociável” e que poderá compor com outros nomes caso alguém “se destaque nas pesquisas de intenção de voto”. Se esse cenário se concretizar, o Podemos poderá lançar o ex-ministro na disputa por uma cadeira do Senado por São Paulo.