O papa Francisco, de 86 anos, foi internado nesta quarta-feira (29) em um hospital de Roma para ser submetido a “exames médicos programados” e suspendeu suas audiências na quinta-feira, informaram fontes do Vaticano, levantando dúvidas sobre o estado de saúde do pontífice argentino.
“O Santo Padre está no (hospital) Gemelli desde esta tarde para exames previamente programados”, afirmou o diretor da secretaria de imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni.
Uma fonte do Vaticano disse à AFP que as audiências marcadas para quinta-feira (30) foram canceladas.
“A agenda do papa foi suspensa caso ele tenha que fazer mais exames”, acrescentou a fonte, afirmando ser “possível” que o papa passe a noite no hospital.
Fontes do centro médico informaram à imprensa local que Francisco chegou em uma ambulância após apresentar problemas cardíacos e respiratórios, e que estaria sendo examinado no departamento de cardiologia da instituição.
A informação foi confirmada pelo Vaticano, que habitualmente dá poucos detalhes sobre a saúde dos papas.
Francisco teve que cancelar uma entrevista para um especial da televisão italiana sobre a Semana Santa.
Entretanto, sua internação não programada contraria a informação anunciada anteriormente pelo porta-voz papal, que alimenta todo tipo de rumores.
O papa argentino, que comemorou 10 anos de pontificado em março, participou da audiência geral na manhã desta quarta-feira na Praça de São Pedro, durante a qual apareceu sorrindo, enquanto cumprimentava os fiéis de seu “papamóvel”.
No entanto, segundo os fotógrafos da AFP, ele se movimentava com dificuldade e parecia sentir fortes dores.
O pontífice, que usa cadeira de rodas desde maio de 2022 devido a uma artrite no joelho direito, passou 10 dias no hospital Gemelli em julho de 2021 para uma delicada operação de cólon.
O papa explicou mais tarde que este procedimento o deixou com “sequelas”, então decidiu descartar a cirurgia no joelho, conforme aconselhado por seus médicos.
O mundo já sabia de seus diversos problemas de saúde pelo fato de sofrer de uma dor ciática crônica que o força a mancar, motivo pelo qual teve que renunciar a cerimônias oficiais em algumas ocasiões.
O hospital Gemelli é o centro médico onde o papa João Paulo II também foi hospitalizado em várias ocasiões e teve um tumor benigno no cólon removido em 1992.
Especulações e segredos
Os problemas de saúde do papa costumam levantar todo tipo de especulações.
Nas várias entrevistas concedidas nos últimos meses, o papa latino-americano evocou a possibilidade de renunciar, tal como fez em 2013 seu antecessor, Bento XVI, que morreu no final de 2022.
Em julho passado, Francisco confessou que “já não podia viajar” com o mesmo ritmo de antes e inclusive mencionou que poderia se afastar. Em fevereiro, explicou que a renúncia de um papa “não deve virar moda” e que essa ideia “no momento” não estava em sua agenda.
Há um ano, ele conta com um “assistente pessoal de saúde” permanente – uma enfermeira.
A saúde dos papas tem sido sempre uma “matéria reservada” para o Vaticano e mantida geralmente em segredo.
O médico e jornalista argentino Nelson Castro apresentou recentemente em Roma um livro sobre a saúde dos papas e as doenças sofridas por eles desde Leão XIII (1878-1903) e falou em particular sobre o assunto com Francisco.
Ele disse a Castro que havia se “recuperado por completo” e que “não havia se sentido limitado desde então”.
Também confessou que quando residia na Argentina tratou de dores nas costas com acupuntura chinesa, que sofria de “cálculos na vesícula biliar” e que, em 2004, teve um problema cardíaco “temporário” devido a um ligeiro estreitamento de uma artéria.