O Papa Francisco alertou nesta segunda-feira (9) conforme a AFP, para um “enfraquecimento da democracia” no planeta, mencionando os ataques golpistas contra o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) no domingo em Brasília. Em comentários que não haviam sido antecipados para a imprensa, o Pontífice argentino disse que está “pensando no Brasil” frente ao atentado dos bolsonaristas radicais.
O jesuíta juntou-se às condenações internacionais — chineses, russos, americanos e quase todos os vizinhos latino-americanos criticaram os ataques de bolsonaristas radicais e reforçaram seu apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva — durante uma crítica mais ampla a violações do estado de Direito. Em seu encontro anual com embaixadores, ele disse:
— Em muitas áreas, um sinal do enfraquecimento da democracia é a polarização política e social aumentada, que não ajuda a resolver os problemas urgentes dos cidadãos — disse Francisco. — Penso nas numerosas crises políticas em diversos países do continente americano, com sua carga de tensões e formas de violência que aprofundam os conflitos sociais.
Citou o Brasil logo em seguida, em comentários que não haviam sido antecipados para a imprensa:
— Penso especialmente no que aconteceu recentemente no Peru e nas últimas horas no Brasil — disse ele, classificando de “preocupante” o “enfraquecimento, em muitas partes do mundo, da democracia”.
Os comentários do primeiro chefe latino-americano da Igreja Católica sobre a política brasileira não são raros: em uma mensagem na véspera da eleição, por exemplo, disse em mensagem ao país que pedia à “Nossa Senhora Aparecida que livre o brasileiro do ódio”, referindo-se à padroeira do país.
Em dezembro, ele disse em uma entrevista ao jornal espanhol ABC que o processo que condenou Lula no âmbito da Lava-Jato, posteriormente anulado, “começou com notícias falsas na mídia” que “criaram uma atmosfera que favoreceu” o julgamento do petista. Francisco também recebeu o petista no Vaticano para uma audiência privada em fevereiro de 2020 — foi a primeira viagem internacional do atual presidente após deixar a prisão em Curitiba, cerca de três meses antes.
Ao citar o Peru, o religioso refere-se à crise política que se agravou após a prisão do então presidente Pedro Castillo, que tentou fechar o Congresso no dia 7 de dezembro, mas foi destituído e preso logo em seguida. No último dia 29, a Justiça do país confirmou sua prisão preventiva de 18 meses, investigado pelo crime de rebelião e conspiração por tentar fechar o Congresso, intervir nos poderes e governar por decreto, uma manobra que não teve respaldo institucional.
A queda de Castillo provocou protestos violentos que já deixaram ao menos 26 mortos e mais de 600 feridos em enfrentamentos com as forças de segurança. Os manifestantes pedem a renúncia de Dina Boluarte, vice de Castillo que assumiu constitucionalmente a Presidência após a destituição, o fechamento do Congresso e a antecipação das eleições para 2023.
Em uma tentativa de mitigar a crise, Congresso aprovou em 20 de dezembro antecipar o pleito de 2026 para abril de 2024.