Áustria sofre com os piores índices de desemprego já enfrentados e projeta reação econômica. Dinamarca fala em achatamento da curva da doença
A estagnação dos casos do novo coronavírus ou até a queda das infecções em alguns países europeus têm influenciado alguns líderes políticos a afrouxar o isolamento social e pensar em reabrir setores do comércio para reaquecer a economia.
A Dinamarca fechou instituições públicas e educacionais, proibiu a concentração de mais de dez pessoas e bloqueou as fronteiras para estrangeiros sem autorização de residência no meio do mês, antes de registrar uma única morte por coronavírus. As medidas, inicialmente ditadas por duas semanas, foram prolongadas há alguns dias pelo governo até 13 de abril.
“Se os dinamarqueses continuarem a manter distância nas próximas duas semanas e se os números permanecerem estáveis e razoáveis, o governo começará uma abertura gradual, calma e controlada de nossa sociedade após a Páscoa”, disse primeiro-ministro dinamarquês, Mette Frederiksen, em entrevista coletiva.
Os últimos números oficiais, divulgados neste domingo (5), registram 533 infectados pela covid-19, dos quais 137 estão em terapia intensiva e 77 morreram. “A curva está se achatando”, embora a situação seja “séria”, disse Frederiksen.
Áustria vislumbra reabertura gradual das atividades
Na Áustria, um dos países mais ricos e desenvolvidos entre todos os integrantes da União Europeia, as autoridades também acenam para uma queda nos casos diários da covid-19. Apesar da melhora nas estatísticas da disseminação da doença, os responsáveis pela saúde ainda pedem para que a população evite viagens nos próximos dias.
Por outro lado, os responsáveis pela ala econômica austríaca já pensam em projetos para a retomada da atividade comercial e da indústria, ainda que com cautela. Outros países também estudam ações para reabrir setores do comércio, escolas e outras atividades paralisadas pela pandemia.
Com generosa ajuda financeira, a Áustria tenta impedir os efeitos da explosão do desemprego que sofre com a covid-19 e, enquanto a epidemia começa a diminuir, o governo espera anunciar, na próxima semana, uma saída para a paralisia em que se encontra a economia do país.
Como em outras economias avançadas, o austríaco – uma das nações mais fortes da União Européia – também foi dominado pela crise de saúde e as restrições adotadas em, 16 de março, para conter o vírus.
A queda no consumo, causada pelo fechamento de todos os estabelecimentos públicos não essenciais, atingiu o mercado de trabalho austríaco como nunca antes havia ocorrido. Uma média de 12.000 pessoas perderam o emprego durante cada dia de confinamento, atingindo um recorde em números absolutos de 562.522 desempregados no dia 31 de março.
A esses desempregados, deve-se acrescentar outras 250.000 pessoas em regime de jornada reduzida, no qual o Estado paga até 90% do salário bruto.
As restrições gerais nas últimas semanas afetaram, principalmente, os setores de turismo e hotelaria, acostumados a boas temporadas no inverno e no verão.
Somente nestes setores, o desemprego aumentou 145%, impulsionado por uma alta temporalidade, o que facilita a demissão de pessoal em vez de usar o programa de trabalho temporário.
O governo austríaco concordou com um pacote de ajuda de 38 milhões de euros. Destes, nove milhões serão utilizados para garantias, 10 milhões para isenção de impostos e 15 milhões para a ajuda direta.
Para se qualificarem a receber o auxílio direto, as empresas e os trabalhadores independentes devem demonstrar uma queda no faturamento de pelo menos 40%.
O objetivo é ajudar as empresas a permanecerem vivas durante o coma induzido atual, para que sua atividade possa ressurgir no dia seguinte ao do levantamento das restrições.
O governo disse na sexta-feira (3) que apresentará planos na próxima semana para despertar a economia, provavelmente começando com uma abertura tímida de lojas.
Esse objetivo de preservar o emprego “a qualquer custo”, nas palavras do conservador ministro das Relações Exteriores, Sebastian Kurz, contrasta com aquilo que acredita e colocou em prática até agora: austeridade e equilíbrio orçamentário.
A incógnita italiana
Outro elemento de incerteza para os austríacos é a crise na vizinha Itália, o segundo parceiro econômico, depois da Alemanha, com um volume de comércio de quase 26 milhões de euros, em 2019.
A Áustria é – juntamente com a Alemanha, Holanda e Finlândia – um dos países que se opõem aos chamados “coronabonos”, a emissão de dívida pública mútua entre os parceiros do euro para ajudar os países mais atingidos pela pandemia.
Alejandro Cuñat, professor de economia da Universidade de Viena, defende a necessidade desses títulos, não apenas por solidariedade, mas no interesse da própria economia austríaca. “Temos que levar em conta que estamos no mesmo barco e que as relações comerciais e os fluxos de capital com a Itália e também com a Espanha são enormes. Se a Itália entrar em colapso, isso representará um enorme problema para as empresas austríacas”, avaliou.