Vice-presidente da Câmara, o deputado Marcos Pereira (Republicano-SP) afirma em entrevista a Gabriel Sabóia e Lauriberto Pompeu, do O Globo, ver problemas na relação do governo Lula com o Congresso neste início de mandato. Em entrevista ao jornal, ele diz que, embora haja a intenção do Palácio do Planalto de atrair para a base o Republicanos, partido que preside, ninguém o procurou para conversar até hoje. “Sempre dizem ‘vamos falar’, mas nunca entram em contato comigo”.
De acordo com ele, o partido está mais próximo de um apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro em 2026 do que de entrar na base aliada do petista, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, nome cobiçado do seu partido, é candidato à reeleição no estado. O nome do ex-ministro tem sido citado como alternativa caso Bolsonaro seja considerado inelegível e não possa entrar na disputa.
Qual a posição do seu partido em relação ao governo Lula?
O Republicanos é independente e será até o fim do mandato do Lula. Isto significa negociar pauta a pauta. Quando você é base, pressupõe-se que vai votar sempre com o governo. Quando é oposição, vai votar sempre contra. Vamos avaliar e votaremos contra ou a favor, dependendo da pauta. Suponhamos que queiram revogar a autonomia do Banco Central: vamos votar contra. Em relação ao arcabouço (fiscal), não temos como ficar contra, já que apoiamos o teto de gastos.
Isso significa um compromisso de não aceitar cargos?
A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, pediu à Justiça para sair do União e pode migrar para o Republicanos. Mudaria a relação com o governo?
Não teremos cargos no primeiro ou no segundo escalão do governo federal. O que não quer dizer que deputados não possam indicar em seus estados.
Ela só virá se a Justiça a liberar agora ou na janela de 2026. Se vier daqui a quatro anos, ela terá que deixar o ministério rapidamente para ser candidata e não influenciará na relação do Republicanos com o governo. Se conseguir vir antes, ela não será uma ministra na cota do Republicanos, assim como não é, atualmente, do União Brasil. Seguiremos independentes com ou sem ela.
Como avalia a relação do governo com o Congresso?
O que ouço de deputados e colegas de outros partidos é que precisa ajustar muita coisa. Nada de relevância foi aprovado pela falta de base do governo. Eles têm experiência, mas ouço reclamações no plenário sobre a demora dos recursos das emendas, de colegas que têm ministérios dizendo que não podem indicar cargos de segundo e terceiro escalões, que têm dificuldades em nomeações.
A que atribui essa dificuldade na articulação política, área do ministro Alexandre Padilha?
Tenho pouca relação com o Padilha, mas ouço que as coisas não estão andando. Só falei com ele uma vez desde o início do governo. Padilha deve ter muitas atividades, não deve ter muito tempo para o Republicanos. O Lula tem se dedicado mais à política externa, feito viagens. Está faltando alguém para fazer a interna. Hoje eu não converso com ninguém. Sempre dizem “vamos falar”, mas nunca entram em contato comigo.
Como vê a chance de Bolsonaro ser considerado inelegível?
Pelo que ouço no meio político e jurídico, a inelegibilidade é possível, sim. Mas acho que ele fica mais forte. Bolsonaro vai usar esse discurso, vai se vitimizar e dizer: “Me tiraram, não me deixaram, esse aqui é o meu candidato”.
Nesse caso, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do Republicanos, pode ser o candidato ao Planalto?
Acho que o Tarcísio é candidato à reeleição em São Paulo, é o caminho natural, mas temos que aguardar. Isto tem que ser dialogado com o próprio Bolsonaro e com os demais partidos que acho que poderão estar juntos, como o PP, o PL e outros que poderão vir. Tarcísio, neste momento, precisa fazer o bom governo que está fazendo. Mas, se houver chamamento da população (para disputar a Presidência), com pesquisas, a gente pode decidir lá na frente.
Caso Bolsonaro seja candidato, o Republicanos o apoiaria?
É uma discussão que o partido vai ter que fazer. Eu não descartaria estar no palanque novamente com ele se não tiver outra opção. Prefiro uma opção mais ao centro. Bolsonaro é de extrema-direita, mas as pautas são mais convergentes (do que com Lula), especialmente a econômica.
O senhor então descarta apoiar a reeleição de Lula ou algum candidato do PT?
Com certeza. Não posso negar a nossa origem. Nós apoiamos a eleição e a reeleição da Dilma (Rousseff, em 2014), mas tomamos opção de caminhar para a centro-direita.
Quem será o deputado do Republicanos na CPI dos Ataques Golpistas?
O líder da bancada, Hugo Motta, ainda está avaliando os pedidos. A gente tem alguns critérios: se um deputado fez pedido e já foi atendido, não dá para conceder a participação na CPI. A tendência é que seja alguém mais ao centro, já que a Damares Alves será o nome pelo Senado.
Como a CPI pode ajudar as investigações?
Em uma CPI, sabemos como começa, mas não como termina. Não tenho a mínima ideia. Acho que o governo sabia, de certa forma, que as manifestações seriam violentas e deveria ter reforçado a segurança. Se houver alguma responsabilidade do governo atual, é essa.
A votação do arcabouço pode ser contaminada pela CPI?
Acho que não. Espero que não afete porque a gente tem que ter maturidade para separar e saber a relevância que tem essas reformas.