domingo 22 de dezembro de 2024
Acima, a caneta de Ozempic adulterada utilizada pela vítima; abaixo, os modelos originais do medicamento — Foto: Reprodução
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sábado 19 de outubro de 2024 às 18:16h

Paciente é internada após usar Ozempic falsificado para emagrecer: ‘poderia morrer’, diz médica

NOTÍCIAS, SAÚDE


De acordo com o hospital, a vítima teve um quadro de hipoglicemia grave. Laboratório que fabrica o medicamento publicou nota sobre recentes casos de falsificação

Uma mulher deu entrada com quadro clínico grave, na quinta-feira (17), no Hospital Copa D’Or, em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, após aplicar em casa uma dose de um produto falsificado vendido como Ozempic, conforme revela Lívia Neder e Carlos Monteiro em reportagem do O Globo. A paciente, que teve alta nesta última sexta (18) e já fazia o uso da medicação acompanhada por uma endocrinologista, só percebeu a adulteração da última unidade que comprou em uma farmácia na Zona Sul após uma médica que a atendeu na emergência suspeitar do que poderia ter acontecido. A Rede D’Or comunicou o caso ao laboratório Novo Nordisk, que fabrica o Ozempic e já tinha relatado ter sido notificado de outros casos de falsificação do remédio, no Rio e em Brasília, em um comunicado publicado no último dia 9. A Polícia Civil investiga o caso.

O Novo Nordisk, laboratório que produz o Ozempic emitiu um comunicado confirmando que “foram identificados casos de falsificação de Ozempic, principalmente nas cidades do Rio de Janeiro (RJ) e Brasília (DF)”. Segundo a empresa, “há indícios de que canetas de insulina Fiasp FlexTouch foram readesivadas com rótulos de Ozempic possivelmente retirados indevidamente de canetas originais do medicamento”. Veja a íntegra do posicionamento da empresa no final da reportagem.

De acordo com a médica Luciana Lopes, coordenadora de endocrinologia do Copa D’Or, a paciente deu entrada no hospital apresentando sintomas de doença neurológica. Ela afirmou que teria utilizado o Ozempic e, 15 minutos depois, começou a se sentir muito mal e foi levada pela irmã ao hospital. Foi na unidade que descobriu que aplicou um produto falsificado.

— Ela entrou no protocolo de doença neurológica. Não estava desacordada, mas não estava com sensório normal. Quando verificaram a glicemia, estava menor que 20, o que é muito grave. Uma pessoa com glicemia abaixo de 50 a 40 já tem sintomas neurológicos associados, como aconteceu com ela. A paciente foi prontamente medicada com quatro ampolas de glicose, subiu a glicemia para 31, melhorou um pouco, e depois recebeu mais aplicações. Ela foi internada e liberada na manhã seguinte — explicou a coordenadora de endocrinologia do hospital.

De acordo com Luciana, a médica que atendeu a paciente na emergência e também é endocrinologista suspeitou que medicamento usado em casa poderia ser adulterado porque já teve acesso a relatos de outros casos como esse recentemente em grupos de médicos e através de recente comunicado do laboratório.

— A gente não sabia o que tinha nessa caneta que a paciente usou em casa, então a médica da emergência pediu que a família levasse o medicamento até o hospital para averiguar e, claramente, parecia uma caneta de insulina que trocaram o rótulo. Quando a gente olha a caneta e a caixa, até a cor está diferente. A caixa é igual, mas a caneta é em um azul mais escuro que a de Ozempic, como uma caneta de insulina. Não podemos garantir porque não analisamos a substância em laboratório, mas cabe uma investigação. A semaglutida, que é a fórmula do Ozempic, não provoca hipoglicemia e os sintomas da paciente eram muito o perfil de quem usa insulina em dose excessiva.

Após comunicar o caso para a Anvisa e para o laboratório, a Rede d’Or emitiu um comunicado interno com o intuito de alertar os profissionais dos seus de 70 hospitais espalhados pelo Brasil para que possam identificar casos semelhantes a esse em suas emergências.

— Se a paciente não fosse atendida prontamente, poderia morrer. Foi uma hipoglicemia muito grave. Foi o primeiro relato grave que tivemos, com necessidade de hospitalização, após uso de Ozempic falsificado. E esse diagnóstico poderia não ter sido tão rápido caso a médica não tivesse suspeitado da adulteração e da superdosagem de insulina. Ficamos bem preocupado e orientamos a paciente fazer um boletim de ocorrência. Além de alertar os médicos, é importante alertar a população a analisarem o medicamente, observarem se o lacre está violado. A caixa parece ser de Ozempic, mas a caneta é completamente diferente. Um detalhe na caixa chama atenção porque fala em nova fórmula, mas desde que o Ozempic chegou ao Brasil não tem nova formulação — alerta a coordenadora de endocrinologia do Copa D’Or.

O laboratório Novo Nordisk, que já havia emitido um comunicado no seu site, no dia 9, alertando ter sido informado de casos de falsificação de Ozempic, publicou um novo comunicado nesta sexta, após ser informado do caso do Copa D’or.

A Polícia Civil informou que o caso foi registrado na 13ª DP (Ipanema). “O produto utilizado será enviado para a perícia e diligências estão em andamento para esclarecer todos os fatos”, diz a nota.

Familiares e amigos fazem alerta

Familiares e amigos da paciente, que prefere não se identificar, compartilharam nas redes sociais o alerta feito pelo laboratório Novo Nordisk sobre indícios de falsificação de Ozempic. “Gostaríamos de alertar sobre a veracidade desta situação gravíssima que estamos vivendo no Rio de Janeiro. Uma pessoa de nosso circulo familiar próximo, ontem pela manha comprou uma caixa de Ozempic falsa, ao aplicar sua dose costumeira semanal, começou a passar mal em menos de 30 muitos, e após 2 horas estava em estágio fora de sentidos, tendo desmaiado por duas vezes em questão de minutos, e por sorte foi imediatamente conduzida para a emergência de um hospital da Rede D’Or onde foi prontamente e excelentemente atendida”, diz o comunicado da família.

Confira a nota publicada pelo laboratório:

“Nota de esclarecimento sobre falsificação de Ozempic® 1mg

“Novo Nordisk, líder global em saúde, informa que foram identificados casos de falsificação de Ozempic®, principalmente nas cidades do Rio de Janeiro (RJ) e Brasília (DF). Há indícios de que canetas de insulina Fiasp® FlexTouch® foram readesivadas com rótulos de Ozempic® possivelmente retirados indevidamente de canetas originais do medicamento.

A companhia reconhece a gravidade da situação e esclarece que, até o momento, nenhum evento adverso grave foi registrado entre os casos reportados até o momento e que está em contato e colaborando com as autoridades competentes, para contribuir com investigação dos fatos.

A empresa reitera seu compromisso com a segurança dos pacientes e, em função dessa ação criminosa, recomenda que qualquer pessoa que tenha adquirido Ozempic® atente-se aos detalhes da caneta antes da aplicação.

A caneta de Ozempic é de cor azul clara, com o botão de aplicação cinza. Já canetas de Fiasp são azuis escura, com botão laranja.

Para se proteger de casos de falsificação, na hora da compra, desconfie sempre de:

Sites e canais não licenciados pela Anvisa para comercialização de medicamentos e que usam os nomes das marcas e/ou adotam aplicativos de vendas e redes sociais para ofertar os produtos;

Embalagem do medicamento visivelmente alterada, em idioma estrangeiro, com aparência farmacêutica (apresentação) diferente da registrada e com informações incorretas sobre o produto – Ozempic® é vendido apenas em canetas pré-preenchidas injetáveis;

Preços muito abaixo dos aprovados pelo governo (todos os produtos Novo Nordisk seguem a tabela da CMED, órgão federal que regulamenta o preço dos medicamentos no país).

Em caso de dúvidas sobre os pontos de vendas ou mesmo sobre o medicamento adquirido, os pacientes podem acessar o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da Novo Nordisk Brasil.”

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