Após abraçar pautas que incomodam o Supremo Tribunal Federal (STF) e intensificar o diálogo com a bancada ruralista, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), acena agora para eleitores e políticos avessos ao governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Em busca de viabilizar seu nome para as eleições de 2026, Pacheco por ora não se coloca publicamente como postulante ao Executivo mineiro, mas tampouco esconde essas pretensões.
O parlamentar endureceu as críticas a Zema e tem usado como pano de fundo o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) que, atualmente, tramita na Assembleia Legislativa do estado. Em entrevista coletiva na quinta-feira, Pacheco disse que o governo de Zema enfrenta a “mais grave situação fiscal da história de Minas”.
O senador admitiu ao jornal O Globo, que não descarta concorrer ao governo mineiro nas próximas eleições majoritárias, quando Zema, reeleito no ano passado, não estará na disputa. Ainda assim, é no atual governador que Pacheco segue mirando a artilharia.
— Precisamos de uma cura, e não de um remédio que trate os sintomas — afirmou o senador, frisando que o RRF não resolve a dívida pública do estado. — Acredito que o governo estadual, sabendo que é uma medida que apenas adia o problema, poderia ter procurado o governo federal, os deputados estaduais, os deputados federais e os senadores da República para elaborar uma solução definitiva.
Greves e críticas
Em linhas gerais, o plano de recuperação fiscal prevê que, no período de nove anos, os reajustes salariais fiquem congelados e os concursos públicos sejam suspensos. A proposta, que tem forte resistência popular, abre brechas ainda para a privatização de estatais. Atualmente em trâmite nas comissões, o projeto enviado por Zema ao Legislativo já motivou, nas últimas semanas, greve de servidores e críticas de parlamentares de dentro e de fora da base.
Neste contexto, Pacheco tomou a dianteira e anunciou na quinta-feira, após reunião com deputados estaduais, que apresentará ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) um plano paralelo que possa solucionar a dívida pública do estado com a União, estimada em R$ 161 bilhões. Na proposta, o valor total da dívida será aferido, no intuito de diminuir o montante. Já os créditos estaduais, como o do acordo pelo desastre de Mariana, seriam destinados diretamente à União. No lugar das privatizações, as companhias do estado seriam federalizadas.
— Nós sabemos o tanto que os mineiros precisam dos serviços públicos prestados por nossos servidores, que garantem segurança pública, saúde e educação para a população. Definitivamente, não é justo que eles sejam penalizados — justifica Pacheco, em mais um contraponto a Zema.
Pacheco diz ter a expectativa de que sua proposta seja considerada pelo governador e que, assim, o Regime de Recuperação Fiscal seja enterrado:
— Creio que não precisaremos do RRF após esse esforço.
A reação de Pacheco repercutiu entre parlamentares contrários a Zema.
— A postura do senador Rodrigo Pacheco foi muito importante porque ele compreendeu a importância de se pensar em uma alternativa para resolver o problema de Minas. Zema apresentou uma proposta momentânea, que resolve apenas o problema do governo dele — avaliou o líder da oposição na Assembleia Legislativa, Ulysses Gomes (PT-MG).
Antes de se opor frontalmente a Zema, Pacheco já vinha, no últimos meses, buscando protagonismo. Em outubro, permitiu a tramitação de uma agenda anti-STF no Senado, o que agradou à oposição. O senador também se aproximou da bancada ruralista, costurando o acordo que aprovou o marco temporal das terras indígenas, posteriormente vetado por Lula.