Em meio a um cenário cada vez mais consolidado de que Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estarão na eleição presidencial de 2022, lideranças de partidos de centro passaram a estimular o nome do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), na corrida ao Palácio do Planalto.
Segundo a matéria da coluna Poder do jornal Folha de S. Paulo, embora o senador negue a intenção de concorrer à sucessão Bolsonaro, a cúpula do DEM e líderes de partidos como o PSD o enxergam como potencial candidato e passaram a ventilar a hipótese nos bastidores
O presidente do senado federal, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), durante entrevista para Folha, na residência oficial do senado. Pedro Ladeira/Pedro Ladeira – 09.abr.21/Folhapress
Ao mesmo tempo, o presidente do DEM, ACM Neto, tem discutido com Ciro Gomes (PDT) uma solução conjunta para uma terceira via.
Ambos reuniram-se recentemente, por cinco horas, na casa de Ciro, em Fortaleza. O compromisso deles é de que o PDT e o DEM buscarão um projeto para se contrapor a Bolsonaro e Lula.
Na reunião, ficou acertado que, embora esteja cedo para falarem em aliança, ACM Neto auxiliará na aproximação de Ciro com partidos e nomes de centro.
Aliados do presidenciável, inclusive, sugeriram ao presidente do DEM que organizasse uma agenda do ex-ministro com o apresentador Luciano Huck, que ainda não decidiu se vai se candidatar ou não.
Da mesma forma, Ciro e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), também apontado como possível candidato à Presidência, têm tentado marcar reuniões presenciais, o que ainda não aconteceu. Ambos têm se falado por telefone.
No sábado (17), em debate virtual organizado por alunos brasileiros de Harvard e MIT, cinco presidenciáveis concordaram em relação a prioridades para o país e atacaram Bolsonaro.
Participaram do evento Ciro; Huck; Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul; João Doria (PSDB), governador de São Paulo; e Fernando Haddad (PT).
A ala do PP que vê com pessimismo a possibilidade de Bolsonaro ser reeleito depois que Lula voltou ao tabuleiro e a popularidade do presidente apresenta queda também se entusiasma por Pacheco, eleito em fevereiro para presidir o Senado.
Pacheco tem sido visto como menos alinhado ao Planalto do que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). A CPI da Covid no Senado, a ser instalada nos próximos dias, colocou Pacheco em posição de desgaste com Bolsonaro, embora o senador tenha se manifestado contrário à comissão neste momento.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, e Pacheco têm se falado com frequência e estiveram juntos pessoalmente ao menos uma vez este mês.
Dirigentes de partidos de centro enxergam na investida de Kassab uma tentativa de filiar Pacheco ao PSD. Assim ele teria nos quadros da sigla o presidente do Senado e poderia lançá-lo candidato.
O senador é apontado como um nome ponderado que tem feito bom trabalho no Legislativo. Esse projeto, no entanto, esbarra em empecilhos. Se Pacheco se filiasse ao PSD haveria uma crise instalada entre Kassab e Neto, presidente do DEM, o que atrapalharia os planos de os dois partidos articularem um nome para 2022.
À Folha o dirigente do PSD disse achar Pacheco um bom quadro, mas nega que tente filiá-lo à sigla ou mesmo que o cogite como alternativa para a eleição do ano que vem.
Kassab ainda cita uma lista de presidenciáveis que já estão filiados ao PSD e elenca como opções Ratinho Jr, governador do Paraná, Alexandre Kalil, prefeito de Belo Horizonte, o deputado André de Paula (PE), e os senadores Otto Alencar (PSD-BA) e Antonio Anastasia (PSD-MG).
Kalil, considerado por líderes do centro o mais presidenciável dos nomes colocados, porém, já disse a pessoas próximas que o objetivo dele é se candidatar ao governo de Minas Gerais. Já Anastasia quer ser indicado pelo Senado a uma vaga no TCU (Tribunal de Contas da União). Apesar das articulações, Kassab diz que o partido ainda não debateu 2022. “Vamos discutir só em janeiro”, afirmou.
Enquanto de um lado siglas de centro buscam estimular uma candidatura de Pacheco, do outro, aliados de Ciro intensificam as conversas com o centro. O presidente do PDT, Carlos Lupi, esteve presente no encontro com ACM Neto, mas não quis detalhar a conversa à Folha.
O dirigente afirma, porém, que vê no ex-prefeito de Salvador uma ponte com siglas que inclusive estiveram alinhadas a Bolsonaro. O DEM, por exemplo, declarou apoio a Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial passada e, no primeiro, formou aliança com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) em detrimento a Ciro.
Embora os partidos tenham agendas divergentes principalmente em relação à economia, Lupi avalia que a aproximação com o centro é necessária neste momento e que o partido não conversará com o que ele chama de direita radical. “Sempre aconteceu uma aliança com os conservadores lúcidos na história dos trabalhadores”, justifica Lupi.
Os aliados de Ciro apostam também numa aproximação com o PSDB e apontam o senador Tarso Jereissati (PSDB-CE) e o próprio presidente da sigla, Bruno Araújo, como interlocutores.
Pessoas próximas ao presidenciável do PDT comemoraram declaração recente, do início de abril, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que disse em entrevista à CBN que pode apoiar Ciro em 2022 caso ele seja “capaz de levantar votos”.
Apontado como outra opção para 2022, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta diz que o momento atual deve ter como foco a busca da união em torno de propostas e não de nomes.
“Agora [o objetivo] é tentar criar um consenso em torno de quais são os pontos convergentes. Este é o próximo passo: as pessoas se juntarem em torno de ideias. Avaliar o olhar sobre o educação, economia. Desafio é ir pra mesa de trabalho e abrir o diálogo com todo mundo, chamando partidos”, avalia Mandetta.
Para o ex-ministro, as diferenças principalmente em torno da economia —o DEM tem vertente mais liberal, ao contrário do PDT— podem ser colocadas de lado para pensar um plano de recuperação do país pós-pandemia.
“Este é um cenário que pode ser de convergência para todo mundo. Vamos raciocinar no pós-pandemia, o que ele exige para o Brasil. Teremos desafios em todas as áreas.” “Vai ter que ter uma política agressiva de meio ambiente, na cultura. Vai ser ponto de revisão de todas as pessoas. Não adianta vir com estado mínimo quando as pessoas precisam do Estado, mas o Estado máximo também vai ser insuficiente para enfrentar os desafios”, avalia o ex-deputado.
Mandetta foi o responsável por articular um manifesto a favor da democracia de um grupo de seis presidenciáveis após Bolsonaro ter trocado o comando do Ministério da Defesa.
O ex-ministro criou um grupo no WhatsApp que reúne, além dele, Ciro, Leite, Doria, Huck e João Amoêdo (Novo). Desde a divulgação do manifesto, no final de março, o grupo teve pouca movimentação, mas as conversas seguem individualmente.