A declaração de apoio feita pelo candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, criou uma saia justa para Alexandre Ramagem (PL) no Rio. Segundo Roberta de Souza, do O Globo, a campanha do deputado federal não deve compartilhar o vídeo em suas redes sociais para não melindrar Jair Bolsonaro. Às vésperas de o ex-presidente desembarcar na capital fluminense para tentar alavancar o aliado, Marçal se colocou à disposição até para viajar à cidade com o intuito de auxiliar na disputa contra o prefeito Eduardo Paes (PSD).
Assista:
Mesmo em desvantagem nas pesquisas e com dificuldade de garantir um segundo turno na disputa, a campanha de Ramagem optou por não tentar se beneficiar do alto engajamento do ex-coach nas redes. Só na sua conta reserva no Instagram ele possui 5,4 milhões de seguidores. As contas oficiais estão suspensas por determinação judicial.
Em São Paulo, o ex-presidente apoia oficialmente a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que disputa os votos bolsonaristas com Marçal. O ex-coach e Bolsonaro vêm trocando farpas ao longo da campanha. A desconfiança dos aliados do ex-presidente passa tanto por declarações dadas por Marçal contra Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022, quanto pela perspectiva de dar palanque a um eventual adversário político na disputa de 2026.
Nesse cenário, o cálculo da campanha de Ramagem é evitar polêmicas com o eleitorado de direita e preservar a imagem do deputado, que ainda luta para crescer nas pesquisas de intenções de votos. Na última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 19, Paes aparece com 59%, enquanto Ramagem tem 17%.
Além de evitar atrito com o ex-presidente, a escolha por não dar palco a Marçal na disputa no Rio visa não desgastar a relação de Ramagem com o vereador do Carlos Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro, ambos do PL pelo Rio. Os filhos do ex-presidente estão participando de agendas e articulando a favor da candidatura de Ramagem desde o início da corrida eleitoral.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, Marçal pede votos para o candidato do PL no Rio:
— Esse vídeo é para a gente entrar na guerra com o Ramagem. Ramagem para prefeito, Eduardo Paes já chega. Não perca a sua esperança, coloca um cara de segurança pública para melhorar o principal problema do Rio de Janeiro. Estou aqui, meu irmão, apoio você de todo coração. Se precisar, estou desembarcando aí para ajudar nessa guerra. Você vai levar isso para o segundo turno e vamos vencer.
No fim de agosto, em sabatina na “CNN Brasil”, Marçal havia usado o desempenho de Ramagem no Rio para ironizar Carlos Bolsonaro:
— Carlos, cuida da sua eleição aí do Ramagem porque ele está tomando um pau no Rio de Janeiro. Gosto muito do Ramagem, se for precisar de ajuda, eu te ajudo com o digital. Aqui em São Paulo, eu já resolvi. Sou eu contra todo mundo. Eu, Deus e o povo. Você vá cuidar do Rio de Janeiro. Vê se você ganha de novo a eleição para vereador e cuida da prefeitura porque o Paes vai levar no primeiro turno, como eu aqui em São Paulo.
Críticas de Bolsonaro a Marçal
Na última semana, o ex-presidente gravou um vídeo pedindo votos para Ricardo Nunes e criticou a comparação feita por Marçal entre a facada sofrida nas eleições de 2018, em Juiz de Fora (MG), e a cadeirada desferida pelo apresentador José Luiz Datena (PSDB) no ex-coach durante um debate.
Para Bolsonaro, existe uma “diferença muito grande” entre os atentados contra ele e Trump, porque Pablo Marçal, que em nenhum momento foi nomeado no vídeo, conhecia o agressor e “sabia que estava provocando”. Bolsonaro disse que passou “meses de muito sofrimento” em decorrência da facada e levantou a camisa para mostrar as cicatrizes que guarda até hoje.
Bolsonaro aproveitou o comentário para defender a reeleição de Ricardo Nunes, no pedido de voto mais explícito feito até o momento nesta campanha. Apesar de angariar o apoio formal do PL, Nunes tem tido dificuldades em fidelizar o eleitorado bolsonarista, principalmente o mais radical, que prefere a retórica mais agressiva de Marçal.
Marçal, por exemplo, fixou nas suas redes sociais um trecho de uma entrevista dada por Bolsonaro semanas atrás, em que dizia que o emedebista não era seu “candidato dos sonhos” e classificou o empresário como uma pessoa “inteligente” e que tem “suas virtudes”.