A chamada terceira via, para vencer a eleição presidencial do ano que vem, tem pela frente três desafios. Segundo a coluna de Noblat, o primeiro: encontrar um rosto e unir-se em torno dele. O segundo: tornar-se uma séria ameaça a Jair Bolsonaro ainda no primeiro turno. O terceiro, derrotar Lula na batalha final.
É possível? Tudo é possível na política, principalmente em um país onde até o passado é incerto. Lula não foi preso e condenado pela segunda instância da Justiça? A condenação não foi anulada, e o ex-juiz Sergio Moro considerado suspeito? O governo não está prestes a dar um calote em dívidas vencidas (precatórios)?
No início de 1992, quem foi capaz de imaginar que o primeiro presidente da República eleito pelo voto direto depois do fim da ditadura de 64 não celebraria no cargo a chegada do ano seguinte? E que um dos seus irmãos o denunciaria por corrupção? Aconteceu com Fernando Collor, também chamado de “caçador de marajás”.
Terceira via no Brasil só ganha eleição se virar segunda via. É o que a história registra até aqui. Bolsonaro parecia não ser nem terceira nem quarta via até o antipetismo descobri-lo como o candidato ideal a ser cavalgado. Por pouco não se elegeu direto no primeiro turno. Venceu o segundo com uma margem confortável de votos.
Há nomes em excesso que aspiram à condição de candidato nem Bolsonaro, nem Lula, mas ainda faltam 14 meses para as próximas eleições. A questão é: os tantos nomes que hoje existem, sem falar de outros que ainda aparecerão, ali por meados de 2022 ou antes disso, abrirão mão de suas candidaturas para apoiar um só deles?
Outras perguntas que não querem calar: bastará que isso ocorra para que o nome escolhido dispare nas pesquisas de intenção de voto? O tempo será suficiente para que se construa uma candidatura em cima do laço? Ou Bolsonaro e Lula já não estarão consolidados como candidatos irremovíveis e incomíveis?
Uma variável se repete há mais de 20 anos: presidente candidato à reeleição se reelege (Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma). Outra variável se repete há 32 anos: em eleição com dois turnos, candidato do PT sempre disputa o turno final (Lula em 1989, 2002 e 2006: Dilma em 2010 e 2014; e Fernando Haddad em 2018).
A terceira via só terá chances se tirar Bolsonaro da frente. Engana-se se pensar que Lula dará uma de estadista e a apoiará, retirando-se do páreo. Ele até poderia fazer isso se concluísse que seria derrotado no segundo turno por Bolsonaro ou pela terceira via. Não é o que indicam as pesquisas, pelo contrário.