O delegado Alexandre Ramagem está na Polícia Federal há quinze anos. Nesse período, já foi acusado, como revelam conversas da Lava-Jato publicadas pelo site The Intercept Brasil, de ser petista e amigo de servidores corruptos conforme publicou a coluna Radar da revista Veja. Com a chegada de Jair Bolsonaro ao Planalto, o policial tornou-se amigo da primeira família. Com tantas fases na carreira, essa é, sem dúvida, a mais desafiadora.
Nomeado para comandar uma corporação que nunca conviveu bem com aparelhamento político, Ramagem terá que vencer desconfianças de que só chegou ao topo da corporação por aceitar romper certos limites que seu antecessor, Maurício Valeixo, não rompeu. Isso tudo dito e assumido pelo próprio presidente da República, curioso por obter “relatórios de inteligência” para tomar suas decisões presidenciais.
Bolsonaro, como Sergio Moro deixou evidente nas conversas de WhatsApp, teme o avanço das investigações em curso no Supremo Tribunal Federal contra seus filhos e aliados. Também gostaria de ter uma polícia que atuasse com mais vigor contra seus inimigos políticos.
Esse filme já foi visto nos governos petistas de Lula, como revelou em seu livro, Assassinato de Reputações, um Crime de Estado, o ex-secretário Nacional de Justiça Romeu Tuma Junior. Nesse período, segundo Tuma Junior, a PF operava como fábrica de dossiês, vasculhando a vida de políticos tucanos considerados uma ameaça ao projeto de poder petista.
No caso dos filhos, a turma envolveu-se no chamado gabinete do ódio, a estrutura financiada com dinheiro de empresários com contratos no governo para atacar as instituições do país, além de difamar e perseguir adversários do Planalto.
Ramagem deve sua nomeação a Bolsonaro. Um “muito obrigado” e “farei meu melhor” são suficientes para retribuir tal escolha. A primeira família, no entanto, é conhecida por exigir muito mais de seus aliados. É aí que mora o perigo.