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Presidente Lula (PT) e o primeiro-ministro da Espanha — Foto: Reprodução/Twitter
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terça-feira 18 de julho de 2023 às 09:02h

Os aliados internacionais de Lula que podem deixar o poder em breve

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciou nesta semana sua 14ª viagem internacional em seis meses de governo.

O destino da vez é Bruxelas, onde ele participa de um encontro da União Europeia (UE) e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que contará com dezenas de chefes de Estado das duas regiões.

Na margem do encontro, na terça-feira (18), Lula participará de um encontro com líderes progressistas de Europa e América Latina, organizado pelo Partido Socialista Europeu.

O convite a Lula para participar do encontro UE-Celac partiu do presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, do Partido Socialista Obreiro Espanhol (PSOL). A Espanha preside atualmente a União Europeia.

Desde que o governo iniciou esforços diplomáticos internacionais sob o slogan informal de “o Brasil voltou” — para marcar oposição ao governo de Jair Bolsonaro, que segundo analistas priorizava pouco a política externa —, Lula tem buscado a aproximação com dois líderes internacionais que em breve poderão estar fora do poder: Pedro Sánchez, na Espanha, e Alberto Fernandez, na Argentina.

Lula e Ursula Von Der Leyen

Lula e Ursula von der Leyen após encontro em Bruxelas CRÉDITO,DANIEL GALLAS/BBC

Pedro Sánchez

A Espanha assumiu no mês passado a presidência rotativa do Conselho da União Europeia. E isso acontece em um momento em que União Europeia e Mercosul podem estar próximos dos ajustes finais de um acordo de livre comércio que vem sendo discutido desde 1999. O Brasil preside — até dezembro — o Mercosul, também de forma rotativa.

Lula tem buscado aproximação com Sánchez. A primeira viagem do brasileiro à Europa após a posse incluiu justamente a Espanha, em abril.

O jornal espanhol El País destacou a afinidade ideológica entre os dois líderes. “Pedro Sánchez está quase tão eufórico quanto Lula pela vitória do histórico dirigente sindicalista brasileiro e a derrota do ultradireitista Jair Bolsonaro”, disse o jornal.

Na ocasião, Sánchez falou que a coincidência das presidências brasileira no Mercosul e espanhola na UE era uma “excelente oportunidade” para que houvesse avanços concretos nos acordos comerciais.

O governo brasileiro havia inicialmente dito que o vice-presidente Geraldo Alckmin iria para a cúpula UE-Celac em Bruxelas. No entanto, após uma conversa telefônica com Sánchez, Lula anunciou que iria pessoalmente ao encontro.

O único ponto de discórdia mais evidente entre Lula e Sánchez é a questão da Ucrânia. Na coletiva de imprensa que deram juntos, Lula disse que é inútil debater “quem está certo, quem está errado”. Já Sánchez afirmou, ao lado do brasileiro, que “nesta guerra existe um agressor e uma vítima de um ataque” — acrescentando que o agressor é a Rússia.

Apesar da aproximação com Sánchez, especialistas indicam que pode haver incerteza sobre a aproximação entre União Europeia e Mercosul — justamente por causa da Espanha.

“As eleições antecipadas na Espanha em 23 de julho correm o risco de afetar a eficácia de Madri em conduzir acordos durante sua presidência do Conselho da UE”, analisa o grupo de consultoria Eurasia Group.

Em maio, Sánchez antecipou eleições espanholas de dezembro, que agora serão realizadas no próximo fim de semana. Segundo analistas políticos, o objetivo do líder socialista é “neutralizar uma mudança no ciclo político que favorece a direita”.

A direita conquistou diversas vitórias em eleições municipais realizadas em maio, despertando temores na esquerda de uma grande virada ideológica no país.

Sánchez disputa a reeleição, mas o líder em algumas pesquisas é o direitista Alberto Núñez Feijóo, do Partido Popular. O crescimento do partido ultra-direitista Vox — e o discurso conservador de Feijóo para conquistar esses eleitores — tem despertado temores entre a esquerda espanhola.

Apesar de poder haver uma virada política neste mês na Espanha, com eleição de um líder sem proximidade ideológica com Lula, especialistas dizem que não está claro se isso teria um efeito imediato nas negociações entre União Europeia e Mercosul. Por ora, os maiores opositores das negociações são França e Irlanda.

Alberto Fernández

Outro líder internacional com quem Lula tem grande afinidade — e também vital nas relações União Europeia e Mercosul — é o presidente da Argentina, Alberto Fernández.

A Argentina foi o primeiro destino internacional de Lula neste ano, quando assumiu a Presidência. A visita em janeiro foi justamente para anunciar a volta do Brasil à Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) — grupo que o país havia abandonado durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2021.

O líder argentino anunciou que não concorrerá à reeleição em outubro deste ano. Seu mandato acabará no dia 10 de dezembro.

Faltando três meses para a eleição, o futuro político da Argentina está em aberto. Quatro candidatos aparecem hoje nas pesquisas de opinião: Sergio Massa (ministro da Economia apoiado por Fernández), Patricia Bulrich (oposicionista ligada ao ex-presidente Maurício Macri), Javier Milei (da extrema-direita) e Horacio Larreta (prefeito de Buenos Aires, também ligado a Macri). Desses candidatos, a maior afinidade ideológica de Lula é com Massa.

Lula na Europa

Em Bruxelas, nesta semana, a Celac volta a realizar uma cúpula com a União Europeia após um intervalo de oito anos.

Os temas centrais da cúpula são: mudança do clima e transição justa e sustentável; transição digital inclusiva e justa; segurança cidadã, coesão social e combate ao crime transnacional; e comércio e desenvolvimento sustentável e recuperação pós-pandemia.

A guerra na Ucrânia pode vir a constar na declaração final da cúpula, mas não existe consenso entre as partes sobre uma posição conjunta.

Lula chegou à Bruxelas no domingo (16/7) e tem seus primeiros compromissos nesta segunda-feira (17/7). Ele teve reunião com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e tem prevista participação em um fórum empresarial União Europeia-América Latina.

Ao longo da segunda-feira, ele participa da cúpula UE-Celac e tem encontros com líderes de Barbados (premiê Mia Mottley), Bélgica (premiê Alexander de Croo), do Parlamento Europeu (Roberta Metsola), e com o rei da Bélgica, Philippe — além de um jantar de gala à noite.

Na terça-feira (18/7), Lula terá o encontro de líderes progressistas com chefes de Estado de Argentina, Chile, Colômbia, Portugal, República Dominicana, Alemanha, Dinamarca e Espanha — segundo o Itamaraty. O encontro é organizado pelo ex-premiê sueco Stefan Löfven, que preside o Partido Socialista Europeu.

No mesmo dia, ele participa de sessão plenária da cúpula e tem encontros bilaterais com líderes de Suécia (premiê Ulf Kristersson) e Dinamarca (premiê Mette Frederiksen). Ele deve embarcar de volta para o Brasil no final da terça-feira ou manhã de quarta-feira.

O Itamaraty disse que não espera avanços significativos no acordo Mercosul-União Europeia esta semana, já que a cúpula servirá para tratar de temas mais amplos que tocam toda a América Latina e Caribe.

Atualmente, os países-membros do Mercosul estão discutindo uma sugestão de resposta elaborada pelo Brasil à mais recente proposta europeia. Somente depois de consenso no Mercosul — que deve acontecer fora do prazo da cúpula — é que as negociações com a Europa devem evoluir.

União Europeia e Mercosul fecharam um acordo comercial em junho de 2019. No entanto, esse acordo ainda não foi aprovado por cada um dos países membros. Com o início da guerra na Ucrânia, a União Europeia vem sinalizando que vai dar prioridade a fechar acordos comerciais com outras partes do mundo — como parte de sua estratégia de busca de parceiros alternativos à Rússia.

Mas as negociações para um acordo final que seja aprovado por todos é difícil, sobretudo por resistência de países como França e Irlanda, que temem perdas de seus produtores domésticos com aberturas no setor de agricultura. Europeus têm levantado preocupações ambientais com os países do Mercosul. Já Lula disse neste mês que o bloco sul-americano não abrirá mão do controle de compras governamentais, que é uma forma de estimular empresas nacionais, protegendo-as de concorrência do exterior.

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