Antes mesmo do ritual religioso da Lavagem do Bomfim começar, nesta quinta-feira (11), o som dos tambores e repiques do grupo percussivo Orixalá Batalá já tomava conta dos arredores da Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, no Comércio, ponto de partida para a caminhada rumo à Basílica do Senhor do Bonfim, na Colina Sagrada. O grupo percussivo, único formado por mulheres de diversas partes do mundo, participa pela 17ª vez da maior festa religiosa da Bahia.
Nos intervalos entre uma batida e outra, as mulheres colocavam as mãos para o alto e gritavam para emanar boas energias, encantando baianos e turistas. No decorrer do trajeto, música e rituais de fé embelezam a passagem do bloco, que homenageia o maior dos orixás. A faixa trazida pelo abre-alas carregava uma saudação: “Orixalá – Deus ama o povo do candomblé”. Um dos símbolos de Oxalá na umbanda é o Alá, um grande pano branco com enfeites, que pode ser comparado à uma capa que ‘cobre as costas’.
Criado pelo Mestre Giba Gonçalves, que participa da festa, o bloco reúne mulheres de cidades como Brasília (DF), Natal (RN) e Aracaju (SE), mas também de outros países. Questionado sobre o nascimento do Orixá Batalá, ele lembra que o bloco surgiu de uma conversa com o amigo Paulo Garcia e o cantor Gerônimo Santana. “Juntos pensamos em criar um movimento cultural para a Lavagem do Bonfim e a ideia fluiu de forma muito legal”.
Para Gonçalves, o bloco tem um caráter muito democrático e agregador. “Há unidades do grupo em alguns lugares do mundo com o mesmo propósito, que é incentivar a música percussiva. Então, na Lavagem, reunimos todo mundo aqui e fazemos esse cortejo com gente do mundo todo. É a coisa mais linda manifestar essa energia e poder unir gente da França, da África, da Europa, mostrando que a cultura da gente é forte dentro e fora do nosso país. O Orixalá Batalá é prova disso”, frisa.
Integrante do Batalá Brasília, Kátia Frota, 49 anos, está participando da Lavagem do Bonfim pelo segundo ano consecutivo. Visivelmente emocionada, ela comenta da alegria de fazer parte de um movimento tão agregador. “É um grande prazer estar aqui em uma festa tão linda como essa. É uma emoção total, muita adrenalina ao longo de todo o trajeto. Seguimos puxando essa energia boa para chegar até o final tocando tambor e levando essa batida para o povo”, disse a percussionista que já se programa para voltar ano que vem. “A Bahia tem uma energia única”, complementa.
Lembranças
Um dos mentores do grupo é o cantor baiano Gerônimo Santana, que também estava presente no desfile do bloco. Segundo o artista, a Lavagem do Bonfim, além de ser uma festa com viés religioso muito forte, é também palco de para historiar e apresentar as mais diversas manifestações culturais existentes no estado.
“O Orixalá Batalá leva o ritmo genuinamente baiano para as ruas. É a maneira de rememorar como a Bahia antiga festejava a festa do Bonfim, onde todas as sociedades estavam reunidas e resistiram a todas as invasões e formas de encurralamento”, explica.
Logo após a saída do Orixalá Batalá, a imagem do Senhor do Bonfim ganhou às ruas do Comércio rumo à Colina Sagrada. Além do grupo, mais de 60 entidades e agremiações culturais integram a programação cultural da Lavagem do Bonfim e animam a festa até o final do dia.