Deputados de oposição ironizaram a declaração do coordenador do bloco do governo na CPI mista do 8 de janeiro, o deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA), que afirmou conforme Gabriel Sabóia, do Estadão, que os membros da base estão dispostos a usar o colegiado para contra-atacar a direita, caso a CPI do MST, de maioria oposicionista, centre fogo político na direção do Planalto. Na opinião de bolsonaristas que integram os dois colegiados, o governista blefa para impedir os trabalhos das duas frentes através de acordos. Nomes como o relator da CPI do MST, Ricardo Salles (PL-SP), e o autor do requerimento da CPI do 8 de janeiro, André Fernandes, dizem que não vão se intimidar com as falas do petista.
Aliado do ministro da Justiça, Flávio Dino, Pereira indicou na quinta-feira que a CPI do 8 de Janeiro pode ser usada como arma:
— A nossa posição é de não radicalizar. Mas se eles fizerem loucura por lá (na CPI do MST), eu não descarto uma resposta institucional aqui. Pode ter reação — disse Pereira.
Parlamentares aliados do governo se irritaram com o requerimento de convocação do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski proposto pelo deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-Al) na CPI do MST, que é dominada por opositores do governo Lula.
A retaliação pode vir agora na convocação do ex-presidente Jair Bolsonaro à CPI do 8 de janeiro, que deve ser protocolada nos próximos dias pelos parlamentares da base.
O deputado André Fernandes, no entanto, fez pouco caso da “ameaça”:
— O governo segue agindo como sempre trabalhou: blefando, intimidando e, com isto, buscando acordos. Não há chances de isto impedir o nosso trabalho nas duas CPIs. Na CPI do 8 de Janeiro, seguiremos com foco nos integrantes do Planalto. Na CPI do MST, mostraremos quem financia o movimento e não daremos um passo atrás.
Presidente da CPI do MST, o deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS) diz que a sessão da próxima terça terá a votação de cinco novos requerimentos, com direito a convites para depoimentos, e a leitura de um relatório da primeira diligência, que será realizada na véspera, em São Paulo. Zucco diz que pretende conduzir os trabalhos com diálogo, mas que não vai anular as apurações do colegiado por pressão ou ameaças governistas.
— Temos buscado o diálogo com eles (governistas). Na primeira sessão, por exemplo, aceitamos convidar os ministros ao invés de convocá-los. Tudo em nome do bom ambiente. Este tipo de ameaça não nos constrange. Na próxima terça, votaremos cinco requerimentos, sendo dois dos governistas, e vamos ler o relatório da diligência feita na segunda em uma invasão do MST em São Paulo. Aqui, ninguém dará um passo atrás — afirma.
Responsável por ditar os rumos da CPI do MST, Salles é lacônico ao comentar as declarações do líder petista, mas diz que os trabalhos dos colegiados são diferentes.
— Estamos sendo muito cordiais e leais com os deputados do PT na CPI do MST, em que pese as diferenças de opinião. Esperamos que eles ajam da mesma forma na CPMI. Declarações deste tipo não interferem em nada no nosso trabalho. São comissões completamente diferentes — diz.