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segunda-feira 10 de fevereiro de 2025 às 10:27h

Oposição desgasta governo Lula com pauta econômica

DESTAQUE, ELEIÇÕES 2026, NOTÍCIAS


Acostumada a inflamar as redes sociais com pautas conservadoras, a oposição bolsonarista mudou de tática e agora tenta desgastar o governo Lula mirando a agenda econômica. Levantamento feito pela consultoria Palver para o jornal O Globo, mostra que aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) têm focado em posts com críticas à alta da inflação, ao aumento do diesel e à crise do Pix. A postura diverge daquela adotada pelo grupo nas eleições de 2022, quando temas como aborto, banheiro unissex e fechamento de igrejas dominavam o debate virtual. Para especialistas, a investida mostra que a polarização chegou também ao campo da economia.

A pesquisa mapeou publicações e mensagens em grupos abertos no WhatsApp, Telegram, X, e TikTok nos últimos 90 dias. No topo do ranking de discussões mais recorrentes aparece a inflação, tema que tem ligado o alerta do Planalto por impactar na alta dos alimentos e, consequentemente, no bolso da população.

Temas em debate nas plataformas — Foto: Editoria de arte
Temas em debate nas plataformas — Foto: Editoria de arte
 No Telegram, as citações ligadas à economia alcançaram a máxima diária de 310 ocorrências a cada 100 mil posts, enquanto posts de discussões como direitos LGBTQIA+, feminismo e ao movimento “escola sem partido” chegaram a 60 menções dentro dos mesmos parâmetros.

Já no WhatsApp, as ocorrências ligadas à pauta econômica (141) representam quase o triplo (52) das discussões e críticas do campo conservador (52). A maior diferença numérica, no entanto, aparece nas publicações do TikTok: foram 1.337 referências à economia contra 657 à agenda de costumes, a cada 100 mil posts. O X, de Elon Musk, que virou uma espécie de abrigo para a direita mais radical, foi a única que manteve a pauta de costume em alta.

— A oposição se aproveita de janelas de oportunidade quando um fato político mexe com temas sensíveis à sociedade — diz o cientista político e coordenador de inteligência e análise da Palver, Lucas Cividanes.

A estratégia da oposição tem gerado resultado, segundo Luciana Veiga, professora do Departamento de Estudos Políticos da UniRio, por estar atrelada à sensação de piora econômica que “funciona” quando chega à população.

— É a narrativa de que o estado não funciona, os impostos são caros, que o preço a pagar não se justifica pela ineficiência do governo. Atrelado a tudo isso, o trabalhador ainda tem sentido o custo de vida alto — diz a especialista.

Temas de economia que mais engajaram — Foto: Editoria de arte
Temas de economia que mais engajaram — Foto: Editoria de arte
 Uma declaração de Lula a uma rádio na Bahia sobre “educar” a população em relação aos preços altos serviu de munição para seus adversários. O petista disse que o povo não tem que comprar nada se considerar que está caro:

— Se todo mundo tiver a consciência e não comprar aquilo que acha que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar para vender, porque, senão, vai estragar.

A declaração foi compartilhada pelos senadores Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Ciro Nogueira (PP-PI), Sergio Moro (União Brasil-PR) e Rogério Marinho (PL-RN), que ironizaram o comentário do presidente.

Guerra dos bonés

As redes ainda foram abastecidas com críticas de parlamentares à política econômica na primeira sessão plenária deste ano da Câmara. Vestindo um boné verde e amarelo estampado com a frase “Comida barata novamente, Bolsonaro 2026”, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, organizou uma manifestação da bancada bolsonarista. Com um pacote de carne nas mãos, eles gritavam “nem picanha, nem café”, numa referência a alimentos que puxam a alta dos preços.

A manifestação foi uma resposta à movimentação da base governista durante a eleição de Hugo Motta (Republicanos-PB) para a presidência da Casa dias antes. Aliados do presidente usaram um boné azul com a frase “O Brasil é dos brasileiros”. O adereço também foi usado por membros da Esplanada licenciados para participarem da votação.

A reação bolsonarista também repercutiu recentemente nas redes com a crise do Pix, como aponta o levantamento da Palver. O gráfico mostra um pico de menções do tema nos últimos 90 dias. A repercussão do caso, ligada à divulgação de notícias falsas e ao vídeo viral do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), influenciou o governo a suspender a tentativa de aumentar o monitoramento das transferências.

Líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues disse que a “oposição entende de tentar dar golpe, bravata e fake news”:

— Preço dos alimentos e economia do povo não é muito forte deles não. A diferença, é que no governo deles, eles não se preocupavam quando o povo ia para a fila do osso. No nosso, quando tem uma pressão, nós buscamos tomar as medidas necessárias para que o preço volte a reduzir — afirma.

Embates entre o governo e a oposição também se desdobraram recentemente em meio à alta do preço do diesel, anunciada na semana passada, também revela o levantamento. O aumento de R$ 0,22 por litro foi justificado por Lula como uma decisão de Magda Chambriard, presidente da Petrobras, para corrigir a defasagem em relação à cotação internacional e para atender a uma mudança no ICMS. A alteração no imposto, por sua vez, foi sancionada em 2022 por Bolsonaro.

Em resposta, o ex-mandatário afirmou, em entrevista à rádio AuriVerde, que a decisão seria responsabilidade do ministério da Fazenda. Comandada por Fernando Haddad, a pasta também é alvo recorrente da oposição nas redes sociais por propostas como a taxa “das blusinhas”, voltada para a taxação de 20% em compras até US$ 50 de pessoas físicas e aprovada pelo Congresso no ano passado.

‘Mar de polarização’

Para o economista e professor do Insper Alexandre Chaia, a reverberação desse tipo de discurso também é potencializada nas redes por um “mar de polarização”, no qual a oposição identifica o problema enfrentado pelo governo, o superdimensiona e descobre como usá-lo ao seu favor.

— A economia está se polarizando, e isso explica até por que ela está mais presente do que as discussões sobre a pauta de costume. Esses valores só aparecem quando a situação está mais estável, porque as pessoas não estão passando fome, se preocupando mais com a inflação e discutindo problemas de crescimento e alta dos preços — diz.

A resposta governista consiste, além de rebater as críticas, na estratégia de fazer uma “conta de chegada” para favorecer a reeleição de Lula em 2026, segundo o pesquisador associado ao Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, Samuel Pessôa:

— A gente está a um ano e nove meses de eleição, mais ou menos, e Lula vai tentar fazer algum ajuste mínimo possível para chegar bem em 2026. Talvez isso seja suficientemente bom. Talvez não.

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