Uma característica das usinas de energia eólica e solar — a intermitência — tem gerado um desperdício de geração de eletricidade que, se despachado para o sistema elétrico, seria suficiente para atender ao consumo médio de mais de 11 milhões de pessoas, ou seja, uma população equivalente a toda a cidade de São Paulo ou Maranhão e Piauí juntos. As informações são do jornal, O GLOBO.
A informação consta de dados do Operador Nacional do Sistema sobre interrupções de geração de energia impostas a essas usinas. Quando há situações de excesso de oferta em relação à demanda do sistema, o ONS ordena o corte na geração por “razão energética”. A Aneel, em resolução de 2021, conceitua razão energética como aquela motivada “pela impossibilidade de alocação de geração de energia na carga”.
Há outras situações de interrupção determinadas pelo ONS, mas por problemas, por exemplo, em equipamentos como transformadores ou por questões associadas a linhas de transmissão.
Somente em junho deste ano, usinas eólicas e fotovoltaicas deixaram de gerar 2,3 mil GWh apenas por limitações referentes a “razões energéticas”. Considerando o consumo médio per capita do país em 2023, segundo a Empresa de Pesquisa Energética, a energia elétrica que deixou de ser distribuída pelo sistema seria suficiente para atender ao consumo mensal de 11,2 milhões de pessoas.
Os dados da Aneel mostram que as interrupções por razão energética são concentradas nos momentos de maior incidência solar – ou seja, quando há maior oferta de energia fotovoltaica. As 16 maiores interrupções registradas em junho ocorreram por razão energética, e todas elas no Conjunto Fotovoltaico Janaúba, um dos maiores complexos da América Latina, localizado no norte de Minas Gerais.
No caso da energia eólica, das 50 maiores interrupções motivadas por razão energética, somente duas não ocorreram durante finais de semana, que são naturalmente momentos de menor demanda de energia elétrica – e, portanto, de maior probabilidade de ventos fortes não encontrarem demanda para escoamento imediato. Todas essas 50 maiores interrupções ordenadas pelo ONS ocorreram em dois complexos localizados no Piauí.
A questão da intermitência é considerada um ponto negativo das fontes de energia solar e eólica, por não poder ser armazenada para despacho nos momentos de pico de demanda. Em outros países, conforme Sandoval Feitosa, diretor-geral da Aneel, destacou em seu voto na época da aprovação da resolução que definiu as regras para as interrupções de geração de energia, “os preços assumem valores negativos, e os consumidores são pagos para consumir energia em momentos de excesso de oferta de renováveis intermitentes”.