O governo do presidente Lula da Silva (PT) lança a partir desta semana um pacote de campanhas publicitárias na tentativa de deter a queda de popularidade, como informa Catia Seabra e Marianna Holanda, da Folha de S. Paulo..
A ofensiva terá três grandes eixos: propaganda sobre isenção de Imposto de Renda até R$ 5.000, nacionalismo brasileiro e defesa de grandes programas, como Farmácia Popular e Pé-de-Meia.
Em janeiro, na primeira reunião ministerial de 2025, o recém-empossado Sidônio Palmeira, titular da Secom (Secretaria de Comunicação), apresentou um cronograma para reversão do quadro dentro de três meses. O prazo se encerra em abril.
De acordo com pesquisa Datafolha em fevereiro, a aprovação do governo é de 24%, o menor índice nos três mandatos de Lula, contra 41% de rejeição, também um recorde.
A isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 é uma das vedetes dessa contraofensiva de comunicação. As peças serão lançadas no digital e em rádio e TV. A cargo da agência Nacional, a divulgação começou nesta quinta-feira (20).
Uma ala do governo chegou a defender o adiamento dessa campanha, por avaliar que poderia se confundir com a declaração do Imposto de Renda de 2025, que começou no dia 17. Mas prevaleceu entendimento que é melhor já veiculá-la.
Antes mesmo de tomar posse, Sidônio defendeu que a campanha fosse levada ao ar em meio ao ajuste fiscal anunciado pela equipe econômica. Mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), se opôs sob o argumento de que a proposta nem sequer havia sido encaminhada ao Congresso Nacional e estava sujeita a alterações no Parlamento.
Auxiliares de Lula esperam melhorar a popularidade do mandatário junto à classe média com a proposta, que chegou à Câmara dos Deputados na quarta (19).
Na tarde desta quinta, cards e vídeos começaram a rodar nas redes sociais sobre o projeto. O principal mote é de que a proposta se trata de justiça, lembrando que a compensação será por taxação dos mais ricos.
“Sabe o que é justo? Renda mais baixa, menos imposto, e um pouco mais de contribuição de quem ganha muito mais. É isso que vai virar realidade no nosso país”, diz um dos posts no Facebook, com informação de que o governo enviou o projeto ao Congresso.
As propagandas destacam ainda que quem ganha entre R$ 5.000 e R$ 7.000 terá isenção parcial. Nesses casos, o desconto sobre o imposto a pagar será decrescente, até zerar.
Em um dos cards, o governo compara como é hoje e como ficará no ano que vem, se a proposta for aprovada, para quatro profissionais diferentes: motorista, professora, profissional autônomo e enfermeira.
Além do IR, o governo lançará uma campanha com a marca “Brasil dos brasileiros”, descrita como uma tentativa de furar a bolha de eleitores bolsonaristas e retomar os símbolos nacionais.
A frase é a mesma do boné azul utilizado por governistas, durante as eleições no Senado e na Câmara, que gerou uma disputa entre a base e a oposição no plenário, em fevereiro.
De acordo com integrantes do governo, a campanha buscará valorizar o povo brasileiro, como ele lida com o dia a dia, com um tom de empatia com o próximo. Ela terá a cara que o governo Lula 3 buscará passar.
Produzida pela Calia e com lançamento previsto para a segunda (23), a campanha faz alusão a diferenças regionais para apontar que, em comum, há o orgulho de ser brasileiro.
Essa campanha será dividida em três etapas, e rodada em diferentes estados, começando pela Bahia —estado dos ministros da Secom e da Casa Civil, e um dos principais redutos petistas.
A ideia do Planalto era ter começado a veicular esta campanha há meses, mas ela acabou adiada diante de sucessivas crises, como a do Pix e a do preço dos alimentos.
Em outra frente, haverá uma terceira campanha –produzida em parceria pela Nacional e pela Nova S/B– de balanço dos dois anos do governo. A ideia é mostrar programas como Farmácia Popular e Pé-de-Meia como conquista de todos os brasileiros.
O governo também está elaborando uma campanha cujo mote é “prospera mais”. A ideia é reunir medidas voltadas a empreendedores. A estratégia inclui a distribuição de material a parlamentares da base e apoiadores do governo.
A veiculação de propaganda nos meses de abril e maio também serve para o cálculo da média anual que servirá de base para o primeiro semestre de 2026, um ano eleitoral. Se o governo não gastar o dinheiro reservado para publicidade até maio, data de vencimento dos contratos, cairá a cota a que tem direito para o próximo ano.
Em reunião fechada com assessores no último dia 14, o ministro Sidônio Palmeira apresentou um novo slogan, cobrou organização e unificação da comunicação e disse que não pensa na eleição de 2026, pois precisa ganhar 2025 para o presidente.
Ele ainda anunciou a realização de um evento com a presença de Lula e de ministros no dia 2 de abril para apresentar um balanço das entregas dos dois anos de gestão.
Segundo ele, o encontro, que acontecerá no centro de convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, terá “o Brasil dando a volta por cima” como mote. Ele não substituirá o atual slogan do governo, “União e reconstrução”, que, contudo, tem sua reformulação estudada pela Secom.
O evento é um dos passos do governo para tentar jogar luz sobre o que seus representantes veem como pontos fortes e realizações da gestão e também reverter a queda de popularidade do presidente.