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O ex-ministro Henrique Meirelles (esq.) com Lula durante evento em São Paulo Ricardo Stuckert/Divulgação
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quarta-feira 28 de setembro de 2022 às 13:50h

O único pedido de Lula a Henrique Meirelles

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Até agora, segundo a coluna de Alvaro Gribel, do O Globo, o ex-presidente Lula fez um único pedido a Henrique Meirelles: o número do seu telefone pessoal, para que possa chamá-lo quando quiser, sem a intermediação de assessores. Se a ligação será feita em caso de vitória, só o tempo dirá, mas o fato é que Meirelles pode entregar a Lula o que ele deseja na economia, que é a conciliação do combate à pobreza com a credibilidade na área fiscal. Meirelles admite que é impossível colocar as despesas previstas para 2023 dentro do teto de gastos e por isso diz que será inevitável uma “licença” para gastar. O ponto-chave para que isso dê certo, diz, é que seja provisório, por um único ano, e venha com um plano que leve à queda da dívida pública.

Meirelles é um economista com experiência única no país. Além de ter sido executivo com carreira sólida no exterior, foi presidente do Banco Central, ministro da Fazenda e secretário de Fazenda de São Paulo. Comandou as políticas monetária e fiscal e por isso tem um olhar amplo. Eu o entrevistei da bancada do Roda Viva, da TV Cultura, com apresentação de Vera Magalhães, colunista deste jornal. Ele enxerga três cenários-base para o Brasil. Em caso de reeleição de Bolsonaro, prevê crescimento baixo do PIB no ano que vem, de 0,5%, como também estima o Boletim Focus. Em caso de vitória de Lula, no entanto, o quadro se torna binário e ainda não está “precificado” pelo mercado. Pode surpreender para o bem ou para o mal.

Lula, nesse sentido, tem uma enorme oportunidade de começar o seu mandato — caso vença — com vento favorável, desde que siga o caminho do seu primeiro governo. Por mais que o mercado seja demonizado pela área mais radical do PT, o ex-presidente sabe que tê-lo ao seu lado torna a administração mais fácil e pode diminuir a pressão sobre a nossa moeda. Isso lhe traria ganhos imediatos no combate à inflação e à fome, o que levaria a uma queda mais rápida dos juros, com reflexo no crescimento.

Interlocutores ligados a Lula dizem que a chance de Meirelles ser convidado para algum ministério é baixa, para não dizer zero. No mercado, o simples fato de Lula abrir um canal de diálogo com o economista foi visto como sinal positivo a ponto de mexer com o preço dos ativos. Meirelles, por sua vez, disse que declarou apoio a Lula sem querer nada em troca. Segue fazendo a defesa do teto de gastos, mas ressalta que esse não é o único caminho para se atingir o objetivo final que é ter superávit primário.

A quatro dias das eleições, Lula ainda não apresentou o seu programa econômico e continua dando declarações ambíguas na área. Tem usado a credibilidade de Alckmin para diminuir receios de empresários e investidores. Agora, tem um canal direto com Meirelles e poderá chamá-lo, nem que seja para pedir conselhos. Só terá a ganhar se discar o seu número.

Remendo no consignado

O governo colocou um teto nos juros do consignado do Auxílio Brasil. Se antes os bancos não queriam financiar esse tipo de crédito pelo risco moral de cobrar juros de brasileiros em situação de miséria, agora, não vão querer pelo risco do negócio. A verdade é que o programa foi formulado apenas para tentar alavancar a popularidade de Bolsonaro. Elaborado às pressas, não há remendo que dê jeito. Segundo um economista que acompanha o setor, somente a Caixa deve aderir, entre os grandes bancos, mas porque tem sido usada como instrumento político. O mais impressionante é que este governo se autodenomina liberal.

O simpósio que mudou tudo

Completou um mês desde a grande virada nos mercados internacionais, no simpósio de Jackson Hole, dia 26 de agosto. Nesse encontro, o presidente do Fed, Jérome Powell, fez um discurso curto e direto de endurecimento do combate à inflação nos EUA. De lá para cá, explica o economista Roberto Motta, da Genial Investimentos, os juros americanos dispararam. Para se ter uma ideia, os contratos negociados com vencimento no final do ano saíram de 3,4% para 4,40%. Entre os receios está o impacto que isso terá sobre a dívida de governos e empresas.

Itália na berlinda

Com a eleição da candidata de extrema-direita Giorgia Meloni na Itália, o país voltou a ficar na berlinda. Ontem, os títulos públicos do governo foram negociados a 4,7%, muito acima dos papéis da Alemanha, referência para a zona do euro. Como a dívida do governo é de 170% do PIB, fica a dúvida sobre sua capacidade de financiamento. Na visão do economista Roberto Attuch Jr., da OhmResearch, que mora na Itália, a expectativa agora é pela indicação do ministro da Economia e para o orçamento que será elaborado por Meloni. Além disso, todos querem saber sobre a sua relação com os demais governantes do bloco.

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