Valdemar Costa Neto comanda o PL desde 2000. Durante quase um quarto de século, ele entrou e saiu da presidência, mas jamais perdeu o reinado do partido e, principalmente, o controle do seu caixa. Nem quando esteve preso, após ser condenado no mensalão. E não foi por falta de tentativas para destroná-lo.
Em 2014, mesmo na cadeia, Valdemar conseguiu debelar uma tentativa de “golpe” no partido. Manteve o controle da sigla e ainda forçou a então presidente Dilma Rousseff a trocar o ministro indicado pelo PL para os Transportes – por um aliado de sua confiança. Qual o segredo da longevidade política e desse comando ininterrupto?
A reportagem de José Roberto de Toledo e Thais Bilenky, do Uol, mostra que a influência de Valdemar no PL vem de uma década antes de ele assumir a presidência do partido pela primeira vez, em 10 de janeiro de 2000. Bon vivant e habilidoso nas negociações de bastidor, começou, ainda no seu primeiro mandato como deputado federal, a liderar o partido na Câmara dos Deputados. Foi em 1992. Nos anos seguintes, seria reeleito líder do PL uma dezena de vezes.
Vez por outra, saiu das sombras, dos corredores e gabinetes, para os refletores da mídia, nem sempre por causa de boas notícias. Acusado de corrupção, teve que renunciar ao mandato de deputado duas vezes – para evitar ser cassado, perder os direitos políticos e, por tabela, a influência dentro do PL.
Em outra vez, ficou em evidência por um motivo inusitado, mas revelador do seu estilo de fazer política. No Carnaval de 1994, Itamar Franco era presidente da República e resolveu assistir ao desfile das escolas de samba no Rio de Janeiro. Foi ver o espetáculo desde o camarote da liga das escolas, junto com seus controversos patronos.
Valdemar mantinha o seu próprio camarote no Sambódromo, famoso pelos comes e bebes de alta qualidade e pela presença constante de modelos-atrizes. O então deputado soube que Itamar estava ali perto e foi cumprimentá-lo. Levou consigo uma de suas convidadas, Lilian Ramos – famosa por ser sósia da cantora Fafá de Belém. Valdemar apresentou-os e voltou ao seu camarote. Lilian ficou.
Foi fotografada várias vezes falando ao ouvido de Itamar, beijando-o no rosto e abraçando o presidente. Mas uma foto em especial foi parar com destaque na capa dos jornais de todo o Brasil.
Lilian Ramos havia desfilado, e, após tirar a fantasia, vestia apenas uma camiseta e uma meia-calça transparente. Na foto fatídica, enquadrada de baixo para cima, aparece ao lado de Itamar no momento em que levantava seu braço direito e, involuntariamente, a camiseta, descobrindo-se. O flagrante saiu tarjado de preto em algumas publicações. Foi um escândalo na época.
Como quase sempre, Valdemar escapou ileso do incidente.
Sua experiência política começou na geração anterior. O pai, Waldemar Costa Filho, foi prefeito de Mogi das Cruzes (SP) por quatro vezes. No seu segundo mandato, em 1977, ainda durante a ditadura militar, o pai nomeou o filho seu chefe de gabinete e, depois, secretário municipal e presidente da companhia de desenvolvimento do município. Valdemar Neto era conhecido na cidade por “boy” – um diminutivo de playboy.
Após o treinamento nepótico em Mogi, Valdemar ascendeu. Foi nomeado diretor da estatal Cia. Docas do Estado de São Paulo. Ficou cinco anos se aperfeiçoando nesse viveiro político-empresarial. Saiu de lá para ser eleito deputado federal.
Anos depois, ao herdar do fundador do partido, Alvaro Valle, a presidência do PL, Valdemar se preocupou em explorar uma brecha da lei orgânica dos partidos e garantir que estivesse no estatuto da agremiação o voto por procuração: a possibilidade de dirigentes partidários delegarem a outro filiado seu direito de votar nas principais instâncias decisivas do PL.
Ganha um convite para o camarote de Valdemar quem acertar o nome do destinatário da maioria das procurações dos dirigentes do PL.
Hoje, o PL tem a maior bancada de deputados federais e, por isso, é o partido mais rico do Brasil. Recebeu a maior fatia do R$ 1,2 bilhão do Fundo Partidário, e, de quebra, mais R$ 887 milhões do Fundo Eleitoral em 2024. A cobiça é grande.
Diante do indiciamento do não mais réu primário Valdemar pela Polícia Federal (no inquérito que investigou a tentativa de golpe de estado e assassinato de Lula por militares para benefício de Jair Bolsonaro), correligionários do PL cogitam, novamente, destronar o rei do PL. O candidato dos bolsonaristas a presidente da legenda é o senador Rogério Marinho (PL-RN). Resta ver se terão o necessário número de votos e, principalmente, de procurações para tomarem o poder de Valdemar, que é querido até por deputados do PT.