Um satélite deveria cair na Terra nesta última sexta-feira (28), após completar uma missão inovadora para mapear os ventos do planeta.
O dispositivo, chamado Aeolus, disparou lasers na atmosfera com o objetivo de monitorar o movimento do ar em qualquer local e altitude ao redor do mundo.
Mas o projeto quase não conseguiu decolar — devido à dificuldade em fazer o Aeolus funcionar, diz Jonathan Amos em reportagem na BBC News.
Por mais de uma década, engenheiros lutaram para desenvolver um instrumento ultravioleta capaz de operar por tempo suficiente no vácuo do espaço. E esse atraso levou o Aeolus a ser apelidado de “o satélite impossível”.
Os engenheiros, sob a liderança da Agência Espacial Europeia (Esa), insistiram por causa do resultado almejado — a primeira visão verdadeiramente global de como os ventos se comportam na Terra, desde a superfície até a estratosfera (de 0 a 30km de altitude).
No entanto, no tempo que levou para o Aeolus chegar à plataforma de lançamento, em 2018, e voar em sua missão de quase cinco anos, as melhores práticas para retirar satélites extintos de órbita mudaram.
Eles agora precisam ter a capacidade de cair em uma zona segura ao voltar à Terra ou assegurar que queimem por completo ao passar pela atmosfera.
E o Aeolus, que pesa mais de uma tonelada, não se encaixa em nenhum dos casos.
Seu sistema de propulsão é fraco demais para direcionar precisamente de onde vai cair do céu — e é provável que até 20% dele resistam à reentrada.
Por isso, controladores de voo da Esa passaram a semana toda preparando uma “reentrada assistida”. Eles estão comandando o satélite para baixar sua altitude com uma série de manobras — a última, prevista para esta sexta-feira, deve diminuir sua altitude para 120 km.
“Neste ponto, a força de arrasto da atmosfera deve puxá-lo para baixo”, diz Isabel Rojo, diretora de operações da Esa, à BBC News.
“Esperamos que a reentrada aconteça em algum lugar sobre o Oceano Atlântico, movendo-se na direção sul-norte.”
Como medir o vento do espaço
– O Aeolus disparou um laser ultravioleta na atmosfera e mediu o sinal de retorno usando um grande telescópio;
– O feixe de luz foi espalhado pelas moléculas de ar e pequenas partículas que se moviam ao vento em diferentes altitudes;
– Meteorologistas ajustaram seus modelos numéricos para corresponder a essas informações, melhorando a precisão da previsão do tempo;
– Os maiores impactos ocorreram nas previsões de médio prazo — aquelas que analisam as condições do tempo daqui a alguns dias;
– O Aeolus desempenhou um papel crucial durante a pandemia de covid-19, repondo dados sobre o vento que haviam sido perdidos porque os aviões não estavam voando.
Os detritos que chegarem à superfície do mar provavelmente vão incluir elementos do telescópio e dos tanques de combustível do satélite. Mas dada a localização remota do Atlântico, o risco à vida é mínimo.
As observações inéditas do Aeolus provaram ser extremamente úteis para previsões meteorológicas de médio alcance. Ele monitorou os comportamentos do vento que contribuiriam para padrões climáticos alguns dias à frente.
Seu trabalho também melhorou nosso conhecimento dos furacões e de como as cinzas vulcânicas viajam na alta atmosfera.
Antes do Aeolus, os perfis de vento eram obtidos por meio de uma miscelânea de métodos — de anemômetros giratórios, balões e aviões a satélites que inferem o comportamento do vento monitorando nuvens no céu ou observando a agitação das águas do oceano.
Mas tudo isso é limitado a lugares ou alturas determinadas, e é por isso que a perspectiva global do Aeolus era tão valorizada.
Os estados membros da Esa já aprovaram um orçamento de € 413 milhões (cerca de R$ 2,1 bilhões) para começar a trabalhar em uma missão de acompanhamento chamada, apropriadamente, Aeolus-2.
Uma contribuição financeira adicional (cerca de € 900 milhões; R$ 4,7 bilhões) será feita pela Eumetsat, a organização intergovernamental que gerencia os satélites meteorológicos da Europa.
A primeira missão de acompanhamento deve ser lançada no fim desta década.
A contribuição do Reino Unido na Esa, € 71 milhões (aproximadamente R$ 374 milhões), combinada com sua associação (16%) na Eumetsat, significa que o braço britânico da fabricante aeroespacial Airbus provavelmente vai liderar a produção da espaçonave mais uma vez.