Promulgada em 1988, a Constituição Federal do Brasil traz em seu segundo artigo a divisão e harmonia dos poderes da República no Estado brasileiro que consiste em Executivo, Legislativo e Judiciário. Devido ao seu grande alcance de público e por ser o eixo interligador de todas as classes pelos meios difusores utilizados, tais como rádio, TV, revistas, jornais e em especial a internet, a mídia constitui-se como “dona” do popularmente chamado “quarto poder da República”.
Vereador do Rio de Janeiro desde 2001, Carlos Bolsonaro, filho do atual presidente da República, é conhecido como o “pit-bull” da família, em virtude do seu temperamento em defesa do pai. Durante a campanha presidencial do pleito eleitoral de 2018, coube a Carlos o gerenciamento das redes sociais do então candidato Jair Bolsonaro.
Por ter contato direto com o agora presidente, Carlos decidiu tornar público via Twitter a informação em torno de um suposto desentendimento do seu pai com o secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebbiano, expondo publicamente uma “crise” no governo que poderia ser facilmente debelada, seja por meio do diálogo ou exoneração do referido ministro.
A frase “cada macaco no seu galho” nunca teve tanto sentido como agora. Uma vez que a campanha já foi encerrada, Carlos poderia voltar ao seu lugar de origem e arcar com suas responsabilidades enquanto parlamentar – não que ele tenha deixado de fazer isto – porém, sua interferência nos assuntos ligados à Presidência sem o devido cuidado pode gerar um desgaste desnecessário, principalmente pelo fato do governo encontrar-se no “momento de ouro” que são os 100 primeiros dias de mandato.
Não que as intenções de Carlos sejam más, pelo contrário, todavia, centralizar a organização comunicativa do governo para saber o que será ou não veiculado nas redes sociais e imprensa, é condição fundamental para que o conjunto de informações seja divulgada de forma fluída e não-danosa para a Presidência e demais ministros de Estado.
Problemas são comuns e surgem a todo momento, principalmente num mandato considerado conturbado pela grande mídia. Contudo, ao não ter resguardo com determinadas informações veiculadas nas redes sociais, os obstáculos podem ser ainda maiores e, em determinados casos, serem fontes de prejuízos potencialmente irreversíveis para o governo.
A inovadora estratégia de comunicação do presidente e demais ministros de falarem diretamente na internet por meio das redes sociais é admirável e bem-vinda, pois é uma forma de aproximar-se dos seus eleitores e compreender de maneira mais coesa os reclames da população, como também pode servir de ponte para examinar a aderência ou rejeição do povo sobre determinadas propostas.
É necessário verificar, entretanto, o fato do diálogo de forma direta não anular a necessidade da cautela em torno da comunicação presidencial, pois se não houver o devido cuidado com as informações veiculadas, o governo tende a permitir que os integrantes do mau jornalismo venham a constituir um quinto poder da República, caracterizado pela transformação de pessoas próximas ao presidente como fontes supremas de dados sensíveis do governo e as utilizando como pontos de partidas para a geração de notícias sobre supostas crises entre o governo e os seus integrantes, a exemplo do caso Carlos x Bebbiano.
Se tal poder for conferido desta forma, o potencial de problemas aumentará exponencialmente. Auxiliar na geração de obstáculos no caminho do mandato não parece ser o objetivo do governo e muito menos dos seus ministros.
Por Nando Castro