Seis americanos presos na Venezuela foram libertados nesta sexta-feira (31) após a visita de um enviado do presidente Donald Trump a Nicolás Maduro no palácio de Miraflores, em Caracas.
Richard Grenell, enviado de Trump para Missões Especiais, postou em seu perfil no X (antigo Twitter) que estava retornando aos Estados Unidos com os seis americanos libertados após a reunião. A postagem foi acompanhada por uma imagem dos prisioneiros libertados sorrindo.
Pouco antes da chegada do avião que transportava os libertados, o presidente Trump comemorou a notícia, também com um post na rede social X: “Acabei de ser informado de que traremos seis reféns da Venezuela para casa. Obrigado a Ric Grenell e a toda minha equipe. . . Bom trabalho!”.
O Departamento de Estado explicou que Grenell viajou a Caracas com o objetivo de fazer com que Maduro aceitasse voos com cidadãos venezuelanos deportados pelos EUA, assim como para negociar a libertação de americanos presos na Venezuela.
Esse foi o primeiro contato público entre o governo venezuelano e o americano desde o retorno de Trump à Casa Branca.
A mensagem de Grenell ao presidente venezuelano foi clara: “Os Estados Unidos e o presidente Trump esperam que Nicolás Maduro receba de volta todos os criminosos e membros de gangues que foram exportados para os Estados Unidos e que o faça de forma inequívoca e sem condições”.
Ele também exigiu a libertação imediata dos “reféns americanos”.
Pelo menos nove cidadãos americanos foram presos na Venezuela após as disputadas eleições de 28 de julho de 2024, nas quais Maduro foi declarado vencedor sem que os registros eleitorais ou uma análise dos resultados fossem publicados.
Autoridades venezuelanas disseram que cerca de 150 estrangeiros, que descrevem como “mercenários”, foram presos nos últimos meses, incluindo dois espanhóis, também acusados de serem agentes de inteligência de seu país e de participar de um complô contra o governo.
Antes que a notícia da libertação dos americanos fosse divulgada, Trump tratou sobre a Venezuela em pronunciamento no Salão Oval.
“Queremos fazer algo sobre a Venezuela. Tenho sido um grande oponente de Maduro. Eles não nos trataram muito bem. Mas, mais importante, eles trataram o povo venezuelano muito mal”, disse Trump.
“Queremos ver o que podemos fazer para que as pessoas retornem ao seu país seguras e livres”, acrescentou.
O governo venezuelano emitiu um comunicado no qual garantiu que a reunião ocorreu a pedido da Casa Branca e que o encontro abordou “vários assuntos de interesse de ambos os países: migração, o impacto negativo das sanções econômicas contra a Venezuela, cidadãos americanos envolvidos em crimes em território nacional e contra a integridade do sistema político venezuelano.”
Segundo Caracas, o encontro “confirmou a necessidade de mudar o rumo das relações” entre os dois países.
O governo venezuelano afirmou sua disposição de “manter os canais diplomáticos abertos” com os Estados Unidos.
Esta não é a primeira vez que o governo venezuelano liberta americanos presos em seu país. Após as negociações que levaram às eleições de 2024, vários deles foram libertados.
Os Estados Unidos também permitiram o retorno à Venezuela de dois sobrinhos de Maduro presos em prisões dos EUA por tráfico de drogas e de Alex Saab, um associado próximo de Maduro, que estava sendo julgado por lavagem de dinheiro de uma prisão da Flórida.
Primeira aproximação da era Trump
Havia muita expectativa nos EUA e no resto do mundo sobre qual seria a política de Trump em relação à Venezuela.
Alguns elementos apontavam para a continuidade da estratégia de “pressão máxima” aplicada por Trump no seu primeiro mandato, como a nomeação de Marco Rubio, um americano de origem cubana muito crítico dos “regimes socialistas” de Cuba e Venezuela, como Secretário de Estado.
O republicano também revogou, no dia 29 de janeiro, uma extensão para venezuelanos do chamado Status de Proteção Temporária (TPS) determinada por Joe Biden.
A medida permitia que mais de 600 mil pessoas vivessem e trabalhassem nos Estados Unidos.
Biden havia determinado, em seu último dia no cargo, o prolongamento do TPS por 18 meses para os venezuelanos “devido à grave emergência humanitária que o país continua enfrentando devido às crises políticas e econômicas”.
Ao mesmo tempo, a visita pública de um emissário pessoal de Trump a Maduro foi vista por muitos observadores como um reconhecimento implícito do poder do líder venezuelano na Venezuela. Mas vários porta-vozes em Washington trabalharam durante todo o dia para negar essa versão.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse “absolutamente não” quando perguntada se Washington reconhece Maduro como liderança legítima. Já Mauricio Claver-Carone, Enviado Especial do Departamento de Estado para a América Latina, enfatizou que a viagem de Grenell a Caracas “não é uma negociação à toa”.
Claver-Carone pediu a Maduro que atendesse aos pedidos feitos por Grenell porque “caso contrário, haverá consequências no final”.
No entanto, esta não seria a primeira vez que Trump tentaria subjugar Maduro.
Em sua primeira Presidência, ele reconheceu o líder da oposição Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, aprovou fortes sanções contra o governo de Maduro e até flertou com uma possível intervenção militar para derrubá-lo.
O Departamento de Justiça de Trump chegou ao ponto de apresentar acusações de narcoterrorismo contra Maduro e líderes de seu círculo, e oferecer uma recompensa multimilionária por sua captura, algo que ainda está em vigor.
Nenhuma deportação para a Venezuela
As políticas exatas que Trump pretende aplicar em seu segundo mandato ainda não estão totalmente claras, mas o republicano já deu vários sinais de cumprir suas promessas de deportações em massa de imigrantes ilegais – a quem ele geralmente se refere como “criminosos” – será prioridade.
Para isso, o presidente americano requer a colaboração dos países de origem desses imigrantes.
Sem relações diplomáticas entre Washington e Caracas, os voos de deportação para a Venezuela foram suspensos anos atrás e restabelecidos apenas temporariamente durante a Presidência de Joe Biden.
O governo Trump insiste que os Estados Unidos estão sofrendo uma “invasão” de imigrantes ilegais e alega que muitos deles são membros do grupo criminoso originário da Venezuela conhecido como Tren de Aragua.
Além disso, a revogação da extensão do TPS deixa os cerca de 600.000 venezuelanos beneficiados com a medida em risco de deportação em um futuro próximo.
Maduro já expressou no passado sua disposição de receber venezuelanos deportados. “Se eles não os querem lá, nós os queremos”, disse ele recentemente.