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segunda-feira 15 de fevereiro de 2021 às 07:02h

O que rende mais voto? Vacina ou auxílio?

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Afinal, o que é mais importante para Jair Bolsonaro vacina para todos ou auxílio emergencial?

Segundo a colunista Vera Magalhães, o Ideia Big Data resolveu tirar a dúvida que tem mobilizado a atenção dos analistas políticos, e também dos aliados e opositores do presidente.

De uma forma que o próprio fundador do Ideia, Maurício Moura, chama brincando de “forçação de barra”, a última rodada da pesquisa periódica do instituto para a revista Exame incluiu uma pergunta do tipo preto no branco. Questionou o que é mais importante para a avaliação do governo federal neste ano: acelerar o ritmo da vacinação contra a covid-19 ou voltar a pagar o auxílio emergencial.

Para 73%, o mais crucial é acelerar a vacinação. No conjunto da sociedade, só 27% citaram o auxílio como a medida mais relevante. Mas esses números não devem ser tomados pelo valor de face, como o próprio Mouro destaca, e com o que eu concordo.

Primeiro porque a divisão é diferente quando se desce aos estratos de renda da sociedade: 46% dos que pertencem às classes D e E consideram resolver o auxílio a medida mais importante. Lá na outra ponta da pirâmide, entre os que ganham mais de cinco salários mínimos, 90% avaliam que o mais crucial é apressar a vacinação.

“A pandemia trouxe uma situação inédita para a classe média, sempre acostumada a pagar por educação e saúde de qualidade. Não tem vacina e não adianta ter dinheiro para pagar para ter a vacina. Isso gera uma ansiedade nessas classes que explica a resposta na pesquisa e o mau momento do governo nas pesquisas”, diz o cientista político.

Acontece que a vacinação para todos é algo mais provável de ser equacionado a tempo de deixar de ser um passivo eleitoral que a questão da renda, lembra Moura, e é aí que não se deve levar em conta o percentual da resposta, pois ela reflete uma fotografia do momento e a grande desigualdade de renda do Brasil.

“Estou assumindo que a vacina é o que mobiliza o maior espectro da população, mas é um tema que se resolve relativamente rápido”, diz Maurício Moura.

Já o auxílio, a depender do modelo adotado, da demora para iniciar o pagamento e da duração pode causar danos mais duradouros à imagem do presidente e à economia como um todo, pelo potencial que traz de agravamento de indicadores como desemprego, pobreza, evasão escolar e outros.

Um auxílio de R$ 200 pago por um período de três ou quatro meses ainda não soluciona o problema para Bolsonaro, porque a experiência de 2020, com uma transferência de R$ 600 por muito mais tempo mostrou que, quando o benefício é cortado, o empobrecimento é imediato e pode alcançar níveis superiores aos de antes de sua concessão.

Se Bolsonaro apostar na perenização da transferência da renda enfrentará problemas fiscais sérios, além de indisposição do ministro da Economia, Paulo Guedes. Ainda assim, não se deve descartar que tome esse caminho: basta lembrar que Dilma Rousseff fez de tudo para segurar a explosão do desemprego e da recessão em 2014, conseguiu se reeleger no bico do corvo e, depois, a economia colapsou.

De qualquer forma, o diretor do Ideia vislumbra que, no atual estágio da pandemia, Bolsonaro pode ter atingido seu patamar mais baixo de popularidade. “É possível que haja ainda uma queda em março, porque a vacinação ainda estará em ritmo lento e o auxílio não terá começado a ser pago, mas a partir do início do pagamento ele deve se recuperar desse atual momento de baixa.”

O quanto essa recuperação será indicativa de suas maiores chances de se reeleger dependerá, no entender do especialista, de sua capacidade de recuperar a economia. Mas e o trauma provocado por centenas de milhares de mortes na pandemia, as manifestações antidemocráticas de Bolsonaro e suas sucessivas investidas contra a vacinação e contra as instituições? Para Moura, esse desgaste já está “precificado” nas pesquisas e corresponde a uma faixa de cerca de 45% que dizem não votar em Bolsonaro.

“O fato de ele ter sido um dos poucos líderes mundiais que não melhoraram sua avaliação no curso da pandemia já é muito significativo. Que tenha caído tanto também”, aponta o fundador do Ideia.

O que resta ser analisado, e para isso a economia assume papel relevante, é se, passado o pior momento da covid-19 e com a atividade recomeçando a girar, uma parte desse eleitorado vai olhar a cartela de candidatos e avaliar se, a despeito de tudo, prefere votar em Bolsonaro a eleger uma das opções.

Por Vera Magalhães / O Globo

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