domingo 22 de dezembro de 2024
Mulher algemada na Universidade de Columbia, em Nova York - Foto: EPA
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quarta-feira 1 de maio de 2024 às 18:16h

O que querem estudantes que protestam contra guerra em Gaza e outros 5 pontos para entender crise nas universidades dos EUA

MUNDO, NOTÍCIAS


Dezenas de campi universitários nos EUA estão ocupados por estudantes que protestam contra a guerra em Gaza.

Mais de mil manifestantes foram presos, incluindo dezenas na noite de terça-feira (30) na Universidade de Columbia, na cidade de Nova York.

Muitas universidades estão tendo dificuldades para lidar com acampamentos nas suas dependências poucos dias antes das cerimônias de formatura.

Por que estudantes estão protestando contra guerra em Gaza?

Estudante com megafone

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Desde o ataque de 7 de outubro perpetrado pelo Hamas e a retaliação de Israel, os estudantes lançaram comícios, manifestações pacíficas, greves de fome e, mais recentemente, acampamentos contra a guerra.

Eles exigem que as suas universidades — que recebem milhões de dólares em doações por ano — desfaçam seus laços financeiros com Israel.

Isso significa, por exemplo, vender ações de empresas israelenses.

Os ativistas estudantis dizem que empresas que fazem negócios em Israel ou com organizações israelenses são cúmplices da guerra em Gaza. E o mesmo vale para as faculdades que investem nessas empresas.

As universidades dependem de doações para seu funcionamento, tais como pesquisas e bolsas de estudo. Essas doações são normalmente investidas em empresas e ativos.

“O que pedimos é que a universidade pare de investir fundos naqueles que lucram com o genocídio em Gaza. E não vamos sair até conseguirmos”, disse um estudante da Universidade da Califórnia, que preferiu não se identificar, à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC).

O movimento reflete a divisão cada vez mais acentuada na sociedade americana sobre o apoio do governo Joe Biden a um aliado histórico, Israel.

Por meio das manifestações, eles pedem um cessar-fogo em Gaza e a liberdade para o povo palestino.

O que aconteceu na Universidade de Columbia?

Foto noturna mostra dezenas de policiais em rua de Nova York

CRÉDITO,REUTERS

Legenda da foto, 

Dezenas de policiais se preparando para entrar no campus da Universidade de Columbia

Uma operação policial na noite de terça-feira removeu os manifestantes de um prédio da Universidade de Columbia que eles haviam ocupado com um acampamento.

Policiais com equipamento de choque subiram escadas para entrar no segundo andar do Hamilton Hall e levar os ocupantes em um ônibus da polícia.

Mais tarde, a polícia disse que havia expulsado todos os manifestantes do local, encerrando o impasse, pelo menos por enquanto.

Tudo começou no início deste mês. Enquanto a presidente da Columbia, Minouche Shafik, testemunhava perante o Congresso sobre o antissemitismo no campus, centenas de estudantes armaram tendas no campus, na cidade de Nova York.

As prisões em massa no dia seguinte não impediram os protestos e desencadearam ações em mais faculdades nos EUA.

As aulas presenciais em Columbia foram canceladas. A universidade disse que um salão foi vandalizado e bloqueado e que a polícia permaneceria até meados de maio para evitar novos acampamentos.

Minouche Shafik, presidente da Universidade de Columbia, divulgou um comunicado à imprensa pedindo “calma”.

Shafik, que assumiu o cargo em julho passado, afirmou que as “tensões” no campus “atingiram novos patamares” quando os manifestantes invadiram um prédio e se trancaram lá dentro.

“Esta escalada drástica de muitos meses de atividades de protesto levou a universidade ao limite, criando um ambiente perturbador para todos e elevando os riscos de segurança a um nível intolerável”, acrescenta ela.

Columbia tem uma “longa e orgulhosa tradição de protestos e ativismo”, continuou Shafik, acrescentando que houve “arrombamento” das portas do Hamilton Hall.

Segundo ela, houve conflitos com “funcionários de segurança e pessoal de manutenção e danos a propriedades”.

“São atos de destruição, não de discurso político”, diz.

Shafik pediu que os alunos possam concluir seus trabalhos acadêmicos e seguir em frente.

“Vai levar algum tempo para curar, mas sei que podemos fazer isso juntos”, afirmou.

Onde mais há protestos de estudantes?

A crise em Columbia se espalhou para universidades em diversas regiões dos EUA:

  • Nordeste: George Washington; Brown; Yale; Harvard; Emerson; NYU; Georgetown; American; University of Maryland; Johns Hopkins; Tufts; Cornell; University of Pennsylvania; Princeton; Temple; Northeastern; MIT; The New School; University of Rochester; University of Pittsburgh
  • Costa Oeste: California State Polytechnic, Humboldt; University of Southern California; University of California, Los Angeles; University of California, Berkeley; University of Washington
  • Meio Oeste: Northwestern; Washington University in St Louis; Indiana University; University of Michigan; Ohio State; University of Minnesota; Miami University; University of Ohio; Columbia College Chicago; University of Chicago
  • Sul: Emory; Vanderbilt; University of North Carolina, Charlotte; University of North Carolina, Chapel Hill; Kennesaw State; Florida State; Virginia Tech; University of Georgia, Athens
  • Sudoeste: University of Texas at Austin; Rice; Arizona State

Qual tem sido a reação das universidades?

Algumas universidades estão negociando com manifestantes, enquanto outros estão emitindo ultimatos — ameaçando chamar a polícia.

Houve um acordo em Boston entre a Universidade Northwestern e os manifestantes para limitar o tamanho do acampamento.

Alguns políticos apelaram às faculdades para que tomem medidas mais fortes contra os manifestantes, destacando acusações de antissemitismo em alguns destes protestos.

Estudantes judeus de vários campi contaram à BBC sobre incidentes que os deixaram desconfortáveis ou com medo.

Eles variaram desde cantos e sinais de apoio ao Hamas, um grupo classificado pelo governo dos EUA como terrorista, até conflitos físicos e supostas ameaças.

Os protestos estão funcionando?

Mulher caminhando perto de barracas em campus

CRÉDITO,EPA

Legenda da foto, 

Acampamento da George Washington University

Há anos que grupos universitários pró-Palestina apelam às suas instituições para que apoiem o movimento “Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS)” contra Israel.

Nenhuma universidade dos EUA se comprometeu com o projeto BDS, mas algumas já cortaram alguns laços financeiros específicos.

Embora um eventual boicote de universidades dificilmente tenha algum impacto na guerra em Gaza, os manifestantes dizem que a atitude ajudaria a expor aqueles que lucram com a guerra e aumentaria a conscienciatização sobre a questão.

Por que manifestações estão lembrando dos protestos contra a guerra do Vietnã?

Manifestações em Columbia e em outras universidades estão lembrando os protestos no final da década de 1960 contra o envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã.

Naquela época, diante das graves atrocidades sofridas pelo povo vietnamita, a opinião pública americana começou a ficar horrorizada.

Milhares de pessoas foram presas e houve confrontos violentos com a polícia.

Imagens brutais chocaram os cidadãos e gradualmente desmantelaram o argumento oficial de que estava sendo travada uma guerra pela democracia.

Em 1970, quatro estudantes em Ohio foram mortos, quando a Guarda Nacional abriu fogo contra manifestantes.

As mortes desencadearam uma greve estudantil em todo o país e centenas de universidades foram fechadas.

Mesmo mantendo as proporções, para muitos especialistas existem paralelos óbvios entre a situação atual e este acontecimento histórico.

“Os estudantes estão agora protestando contra Gaza como fizeram aqueles que protestaram contra a guerra no Vietnã”, diz Ananya Roy, diretora fundadora do Instituto Luskin sobre Desigualdade e Democracia da Universidade da Califórnia em Los Angeles e professora de Planejamento Urbano, Bem-Estar Social e Geografia.

A força dos protestos daquele período — junto com o enorme custo da guerra — foi um dos fatores que explicam por que os Estados Unidos perderam o conflito, apesar da sua esmagadora superioridade militar.

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