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domingo 10 de dezembro de 2023 às 07:45h

O que o celular tem a ver com a depressão entre adolescentes

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Qual é o efeito que crescer na era dos smartphones e das redes sociais tem sobre a saúde mental dos jovens? Questão ocupa ciência há anos, mas respostas ainda são imperfeitas. É algo que a gente talvez acha que sabe intuitivamente: celular demais faz mal para a saúde mental, especialmente a de adolescentes.

Todos os anos, vemos notícias de crises de saúde mental entre os jovens. Podemos até sentir, em nossas próprias vidas, os efeitos do uso excessivo do smartphone. Os mais novos também têm passado mais tempo do que nunca com seus celulares, e isso é algo que qualquer pessoa que convive com eles pode ver.

Acontece que a ligação entre saúde mental e o uso excessivo do aparelhinho é mais difícil de provar do que se imagina.

O que o tempo de tela faz com adolescentes

Um novo estudo realizado na Coreia do Sul e recém-publicado no periódico PLOS ONE investiga o que um aumento no tempo de tela significa para a saúde mental dos adolescentes.

O tema não é exatamente novo; há anos, pesquisadores tentam quantificar em que medida a tecnologia móvel e as redes sociais são prejudiciais para os jovens. No entanto, é a primeira vez que uma investigação deste tipo foi conduzida em escala nacional, com duas rodadas de entrevistas em 2017 e 2020 e mais de 40 mil participantes, que informaram quantas horas diárias passavam no telefone, em média.

Os adolescentes também foram questionados sobre saúde mental, uso de substâncias e obesidade.

Os pesquisadores detectaram um aumento significativo do tempo de tela entre 2017 e 2020: se antes 30% relatavam tempos de tela superiores a 4 horas por dia, três anos depois esse número saltou para 55%.

E mais: quanto mais tempo esses jovens passavam em seus telefones, mais pioravam os índices de impactos negativos na saúde mental, o abuso de substâncias ilícitas e a obesidade.

Mas…

Os resultados do estudo sul-coreano são consistentes com o que já se sabe sobre o assunto. A correlação entre o aumento do uso de celulares e o comprometimento da saúde mental é incontestável. Mas as deficiências do artigo – destacadas pelos próprios pesquisadores – são significativas.

O fato de a pesquisa se basear em respostas fornecidas pelos próprios participantes do estudo – embora isso seja algo muito comum nesse tipo de estudo – é algo que tem sido criticado por especialistas na área de tecnologia nos últimos anos.

“O tempo de uso relatado pode não ser uma estimativa do tempo de uso real e pode ter sido subestimado devido à tendência [que as pessoas têm] de fornecer respostas socialmente desejáveis e aceitáveis”, escreveram os autores do artigo.

Além disso, os pesquisadores reconheceram uma segunda limitação do estudo: eles não monitoraram o que exatamente esses jovens estavam fazendo em seus telefones – TikTok? Jogos? Longas videochamadas com amigos?

Essas informações adicionais poderiam ajudar a entender e precisar melhor os impactos do uso do smartphone sobre a saúde mental.

“Não conseguimos especificar o tempo de uso do smartphone de acordo com o propósito (por exemplo, uso de redes sociais, mensagens de texto, educação, compras online), que pode ter afetado os resultados de saúde”, consta do estudo.

Medir tempo de tela não faz sentido, argumenta psicólogo

Para Peter Etchells, professor de psicologia e comunicação científica na Bath Spa University, no Reino Unido, não faz sentido medir o tempo de tela, já que esse conceito “cobre literalmente qualquer coisa e tudo”.

“Há muitos anos os pesquisadores pedem uma abordagem mais nuançada, que considere mais o conteúdo específico e o contexto de uso”, afirma.

Ele diz que é fácil medir tempo de tela como um mero número em artigos de pesquisa, mas que esse dado, sozinho, não revela muita coisa. “Se você imaginar duas pessoas relatando três horas de tempo de tela por dia, essas três horas podem cobrir uma variedade tão grande de atividades que é insensato tentar correlacionar esse número simples com outra coisa, como o bem-estar.”

Etchells, que está trabalhando em um livro sobre a ciência do tempo de tela, defende que a pergunta que os pesquisadores deveriam fazer não é qual é a relação entre o aumento do tempo de tela e a saúde mental, mas sim: “Por que algumas pessoas passam por dificuldades ao usar a tecnologia digital, enquanto outras parecem prosperar?”

Em outras palavras: quando se trata de medir o impacto do celular na saúde mental, a métrica importante a ser usada não é o tempo de uso da tecnologia, mas sim o que fazemos quando a usamos, e como essas atividades podem ou não afetar a saúde mental.

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