Na noite do último dia 24 – véspera de Natal – um grupo de pessoas jogou dois coquetéis molotov na sede da produtora do canal de humor Porta dos Fundos. No dia seguinte, um grupo que se denomina “Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Família Integralista Brasileira” assumiu responsabilidade pelos ataques em um vídeo publicado nas redes sociais.
Por outro lado, conforme reportagem da revista Super Interessante, a Frente Integralista Brasileira publicou uma nota afirmando que não possui nenhuma ligação com o incidente ou com o outro grupo que se diz integralista. Segundo eles, um dos princípios do Integralismo é a transparência, o que não combina com as máscaras usadas pelos autores do ataque.
No meio da confusão, fica a dúvida: o que é integralismo? O movimento foi fundado em outubro de 1932. Teve grande força em toda a década de 1930, mas foi perdendo relevância a partir dos anos 1940.
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A ascensão…
O integralismo não é exatamente um grupo único de pessoas, mas sim uma ideologia. Em linhas gerais, ela é uma doutrina de extrema direita que prega o ultranacionalismo, conservadorismo, defesa dos valores cristãos e união do povo brasileiro. No dia 7 de outubro de 1932, o escritor e político Plínio Salgado lançou o Manifesto de Outubro, que reúne todos os princípios do integralismo.
Qualquer semelhança com o fascismo não é mera coincidência. O contexto internacional do nazifascismo inspirou o integralismo não só nos ideais, mas também na simbologia do movimento. A saudação entre os integralistas era feita com a mão direita ao alto, bem no estilo Heil Hitler. A diferença é que os brasileiros gritavam Anauê, uma palavra em tupi que significa “você é meu irmão”.
Não para por aí. O principal símbolo usado até hoje pelos integralistas é o sigma, uma letra grega que representa somatória, fazendo jus à ideia de união do povo brasileiro. Já o fascismo italiano usava um feixe (daí o nome) de varas para representar a mesma ideia – unidade e fraternidade.
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Mesmo com o crescimento da ideologia, o integralismo ainda não tinha influência direta no governo. Foi aí que surgiu a figura de Getúlio Vargas. Apesar de não ser integralista, Vargas fazia acenos ao autoritarismo e conservadorismo, criando proximidade com os valores do movimento.
Em 1937, os integralistas apoiaram o golpe do Estado Novo, que decretou a ditadura de Getúlio Vargas. Segundo Odilon Caldeira Neto, professor de História Contemporânea da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), as lideranças do movimento viram a oportunidade de conseguir cargos no governo e até mesmo transformar o regime em integralista.
Mas o tiro acabou saindo pela culatra. Quando assumiu o governo, Vargas neutralizou os integralistas e extinguiu todos os partidos políticos. Em 1938, o movimento tentou dar um golpe de governo, que ficou conhecido como Levante Integralista. Sem sucesso.