O Brasil registrou uma deflação de 0,68% no último mês de julho, depois de dois anos seguidos de aumento nos preços. O país ainda acumula uma inflação anual de mais de 10%, ou seja, os preços subiram em geral 10% nos últimos doze meses.
A queda foi puxada pela diminuição acentuada do preço dos combustíveis e da energia. O preço dos alimentos, em especial, continua subindo e afeta principalmente as famílias mais pobres. Mas agora, pode começar a cair.
Mas o que é deflação e o que ela significa nesse contexto?
Se a inflação é o aumento dos preços, a deflação é o contrário: é uma variação negativa do nível de preços entre dois momentos, explica o economista Anderson Antonio Denardin, coordenador do curso de Ciências Econômicas da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria).
Ou seja, deflação é o que acontece quando o índice de inflação está negativo. No Brasil, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é considerado o índice oficial de inflação e a queda de 0,68% no índice mensal (comparação de julho com o mês anterior) foi anunciada nesta terça (9) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A deflação de julho foi puxada principalmente por dois fatores, explica Denardin: o corte do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e a queda no valor dos combustíveis e da energia; e o aumento dos juros, que diminui a oferta de crédito e portanto freia o consumo.
O índice, no entanto, é uma média das variações dos diferentes componentes do IPCA, e a queda não quer dizer que todos os preços baixaram na comparação entre julho e junho.
“Quando se fala em deflação, normalmente estamos falando de uma queda generalizada de preços. Mas a deflação de julho não foi uma queda generalizada”, afirma André Braz, economista da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Os preços dos alimentos e dos serviços ainda estão subindo – a inflação de alimentos foi de 1,3% em julho e 14,72% em doze meses, segundo o IBGE.
“Essa é na verdade a notícia mais importante, porque é a que mais afeta a população mais pobre. Houve um aumento real dos alimentos, o que significa que a cada visita que a família faz ao mercado, ela volta com menos alimentos”, diz o economista.
Mais pobres afetados pela alta dos alimentos
O economista lembra que o índice de difusão, que mede o percentual de produtos e serviços com aumento de preços, está em 63% – ou seja, apesar da queda geral do índice de 0,68%, quase dois terços dos dos preços que compõem o IPCA na verdade subiram.
“Do jeito que a deflação aconteceu, ela beneficia principalmente o brasileiro mais rico, que consome gasolina e gasta mais energia”, diz Braz. “É uma queda que foi mais sentida pelos ricos.”
“A população mais pobre ainda sofre com a alta dos alimentos, que diminui o seu poder de compra. É um grupo que não tem muita flexibilidade para fugir desse processo inflacionário”, diz Denardin.
Braz afirma que a expectativa é que o efeito da queda no preço dos combustíveis e da energia tenham o efeito de reduzir a inflação nos outros produtos e serviços. “São itens usados na atividade produtiva, então a gente espera que haja um efeito de diminuição”, diz.
Para Denardin, a deflação de 0,68% registrada significa que a política do governo de reduzir impostos teve o efeito esperado.
A mudança nas regras do ICMS para os Estados foi articulada pelo Planalto e aprovada pelo Congresso em junho, a quatro meses da eleição.
Braz, no entanto, aponta que a redução dos custos é acompanhada de redução na arrecadação, o que no longo prazo diminui o fôlego do governo para investir e pode estancar o crescimento.
“Além disso, se você não mostra de onde está arrecadando para compensar essa redução de impostos, você gera incerteza e diminui a credibilidade fiscal do governo”, afirma Braz. “Não sou contra o corte dos impostos, mas é preciso que seja feito com responsabilidade fiscal.”