O anarquismo é uma teoria política que defende a ideia do fim do Estado como controlador do funcionamento da sociedade. É um movimento libertário que defende o fim de relações hierárquicas e do sistema de governo em que o Estado é o controlador da organização da sociedade.
O anarquismo é relativo a um sistema ideológico e político que deseja uma sociedade sem governo, voltada às necessidades e vontades das pessoas que fazem parte dela. Isso aconteceria sem a presença de governos que as representasse.
A teoria anarquista quer uma sociedade sem governo porque é contrária à ideia de que o Estado, ao administrar uma sociedade, exerça uma forma de domínio sobre a vida da população.
A ideologia defende que não exista nenhum tipo de dominação, seja ela econômica, política, social, religiosa ou de gênero. Assim, o anarquismo é um movimento que faz críticas ao modo de vida da sociedade atual, que é regido por diversas formas de dominação.
Além do poder do Estado (governo) sobre a vida dos cidadãos, o anarquismo também critica a influência que o modo de vida capitalista exerce sobre a sociedade.
Quais as características do anarquismo?
As características fundamentais do anarquismo são ligadas às ideias e princípios defendidos pela ideologia. Conheça as principais:
- fim da autoridade do Estado sobre o funcionamento da sociedade,
- ideal de que as propriedades devem ser coletivas e não individuais,
- incentivo à coletividade e à solidariedade entre os cidadãos,
- aumento das condições de igualdade social em todos aspectos (como econômicos e políticos),
- mais autonomia e liberdade de decisão para os cidadãos,
- presença de um Estado autogerido, ou seja, um Estado organizado pelos próprios cidadãos,
- sistema de educação com mais liberdade para estimular o pensamento crítico.
Quais as ideias defendidas pelo anarquismo?
Conheça as principais ideias que fazem parte da base da ideologia anarquista:
Fim das relações de autoridade e hierarquia
Uma das ideias defendidas pelo movimento anarquista é o fim das relações de dominação que acontecem a partir da autoridade e da hierarquia, como o poder do Estado sobre os cidadãos. O poder de decisão do Estado sobre a vida dos cidadãos restringe o exercício das liberdades individuais. Esta é a ideia central da teoria, que se ramifica para as outras ideias do anarquismo.
Ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, a ideologia anarquista não defende uma vida sem regras e uma sociedade desorganizada, apenas prega o fim da autoridade estatal como entidade responsável pela organização social.
No lugar da autoridade estatal sobre as pessoas o anarquismo defende que a organização da sociedade aconteça a partir dos princípios de uma democracia direta.
Igualdade e liberdade
O anarquismo também defende um modelo social que represente mais igualdade e exercício de liberdades individuais para as pessoas, a partir do entendimento de que uma precisa da outra para poder existir.
Na doutrina anarquista isso se justifica porque as relações que são estabelecidas a partir de hierarquias e dominações têm como consequência a diminuição das liberdades individuais dos cidadãos.
Fim da propriedade privada
Outra ideia defendida pelo anarquismo é o fim da existência de propriedades privadas, que resultaria no fim do capitalismo.
Para o anarquismo a propriedade privada se refere à propriedade dos chamados “meios de produção”, que são responsáveis pela alimentação do sistema capitalista. Assim, é importante saber que o anarquismo não defende o fim da propriedade sobre bens considerados pessoais, como uma casa, por exemplo.
A justificativa para a defesa do fim da propriedade sobre os meios de produção é explicada pelas consequências das relações desse sistema, principalmente a troca de trabalho por salário, ou seja, a venda da força de trabalho do trabalhador para quem detém a propriedade privada.
Fim do Estado
A teoria também defende o fim do Estado como entidade representante da vontade do povo. A ideia é justificada pelo entendimento de que essa representação não acontece na realidade, já que o anarquismo considera que as relações políticas são baseadas em acordos firmados entre os governos e os proprietários de meios de produção e de grandes fortunas.
Assim, o anarquismo entende que os interesses do povo não são realmente defendidos pelos representantes eleitos e pelo Estado.
Anarquismo coletivista e anarquismo individualista
O anarquismo coletivista e o anarquismo individualista são duas vertentes diferentes do movimento. A diferença entre elas é ligada à maior ênfase que é dada ao indivíduo ou ao coletivo.
O coletivista (ou anarco-coletivismo) é a vertente do anarquismo que defende a ideia do fim da propriedade privada e do controle do Estado, assim como a divisão (socialização) da produção e dos meios de produção.
Esta é, para o anarco-coletivismo, a forma de combate ao controle estatal e à predominância dos interesses individuais sobre os interesses da coletividade.
Já no anarquismo individualista (ou anarcoindividualismo) o indivíduo é o centro da teoria anarquista. Assim, existe a defesa de que os interesses de um indivíduo podem vir a se sobrepor sobre outros interesses da coletividade.
Por pensar desta forma, em muitos momentos, o anarquismo individualista fica em conflito com outras vertentes do movimento que priorizam os interesses do coletivo.
Qual a diferença entre anarquismo, socialismo e comunismo?
Anarquismo, socialismo e comunismo são teorias diferentes, mas que possuem alguns elementos em comum, que podem ser encontrados nas diferentes vertentes dos movimentos. O principal ponto em comum é a oposição ao sistema capitalista, ainda que cada uma das ideologias defenda isto de formas diferentes.
Por exemplo: para o anarquismo, mais radical, o Estado deve deixar de existir de maneira absoluta. Já para o socialismo e para o comunismo, o poder que é exercido pelo Estado deve ser controlado e gerido pelos trabalhadores, a classe do proletariado.
Uma das diferenças entre o anarquismo e o socialismo é que a teoria anarquista prega conceitos que podem ser um pouco mais radicais do que os defendidos pelo socialismo.
Entretanto, é verdade que as ideias defendidas pelo anarquismo têm algumas semelhanças com ideias do socialismo e foram importantes no surgimento do movimento. Este fato levou uma vertente a ser chamada de socialismo libertário.
Em relação ao comunismo, uma vertente do movimento, chamada de comunismo anarquista, defendia conjuntamente ideias de libertação da opressão da classe trabalhadora, aliada às ideias de ausência de governo e fim da propriedade privada.
Doutrina “contrarrevolucionária”
Mas, ainda que tenha influência de algumas bases do socialismo, em comparação com os ideais socialistas, o anarquismo é considerado uma doutrina “contrarrevolucionária”.
O anarquismo é chamado de “contrarrevolucionário” porque seu surgimento pode ser considerado como uma reação a algumas ideias mais revolucionárias defendidas pelo socialismo.
O anarquismo é de esquerda ou de direita?
Não é fácil responder a esta questão. A verdade é que não existe um consenso que responda esta pergunta e que encaixe o anarquismo dentro do espectro político.
Existem grupos que defendem que o anarquismo é de direita e existem os que defendem que é de esquerda. Conheça as principais opiniões defendidas por cada grupo.
Quem entende que o anarquismo é de esquerda, muitas vezes, pensa desta forma porque algumas questões debatidas pelo anarquismo, como fim do controle do Estado e do trabalho assalariado são mais ligadas às questões defendidas pela esquerda. Assim, para alguns, o anarquismo e identificado como uma teoria de esquerda.
Quem entende que o anarquismo é de direita, explica que os conceitos ligados ao anarcoindividualismo são bases de princípios da direita.
Por exemplo, nessa vertente do movimento os interesses e as vontades individuais podem se sobrepor aos coletivos. A defesa do direito à propriedade privada (como também acontece no anarcoindividualismo) é ligada a interesses comumente defendidos pelos movimentos de direita.
História do Anarquismo: como surgiu a ideologia anarquista
As ideias anarquistas começaram a se espalhar pela Europa a partir do século XIX, como uma espécie de reação a diversos acontecimentos da época.
Assim, o surgimento do anarquismo pode ser explicado como o resultado de um conjunto de acontecimentos, tais como:
- as mudanças ocorridas a partir da Segunda Revolução Industrial,
- as influências ideológicas da Revolução Francesa,
- as consequências do desenvolvimento do capitalismo,
- as mudanças tecnológicas ocorridas nos meios de produção,
- as condições de trabalho impostas ao proletariado a partir do crescimento do capitalismo.
Conheça outros acontecimentos importantes na história do movimento anarquista:
1789 | Inicia a Revolução Francesa, que influenciou algumas das ideias do anarquismo. |
1840 | Publicação da obra “O que é a propriedade?” de Proudhon. |
1864 | É fundada a Associação Internacional do Trabalhadores, importante na consolidação de ideias anarquistas. |
1895 | Nascimento de Lucía Sánchez Saornil, importante anarquista espanhola. |
1905 | No Brasil é publicado o jornal anarquista “Terra Livre”. |
1927 | Fundada a Federação Anarquista Ibérica, composta por anarquistas espanhóis e portugueses. |
Foi a partir da observação desses acontecimentos, da percepção da força que existia na união dos trabalhadores e da compreensão do conceito de liberdade individual que as primeiras ideias anarquistas começaram a circular pela Europa.
Ainda que existissem diferenças entre o anarquismo e as doutrinas socialista e comunista, naquele período os ideais destas teorias também influenciaram no surgimento e na difusão do movimento anarquista.
Teóricos do anarquismo
O anarquismo teve como principais influências os teóricos Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) e Mikhail Bakunin (1814-1876).
Proudhon foi um filósofo francês que escreveu O que é a propriedade? em 1840. Além das suas teorias, ele tem importância na história do anarquismo porque foi a primeira pessoa a se declarar anarquista. Bakunin foi um teórico e ativista russo, também responsável pela difusão das ideias anarquistas.
O anarquismo no Brasil
O anarquismo chegou ao Brasil por meio das ideias que foram trazidas ao país por imigrantes franceses, sendo difundidas pela imprensa. Os ideais do movimento ganharam adeptos entre os operários brasileiros, especialmente a partir do período da Primeira República, entre os anos de 1889 e 1930.
O movimento ganhou força e as ideias anarquistas foram difundidas no Brasil através do sindicalismo revolucionário, um movimento formado por trabalhadores influenciados pelos ideais anarquistas, que também ficou conhecido como anarcossindicalismo.