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segunda-feira 10 de junho de 2024 às 16:04h

‘O presidente sabe do nosso compromisso’, diz ministro do Esporte

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Indicado ao governo pelo Centrão, o ministro do Esporte, André Fufuca, considera injustas as críticas que vêm sendo feitas a ele e aos chamados “ministros de bancada” pelas recentes derrotas do governo no Legislativo.

No mais recente episódio, na sessão conjunta do Congresso em 28 de maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve derrubados seus vetos ao fim da saída temporária de presos, a chamada “saidinha”. Na mesma sessão, os parlamentares mantiveram os vetos do ex-presidente Jair Bolsonaro a mudanças na Lei de Segurança Nacional, o que na prática dificulta a punição de quem divulgar notícias falsas nas eleições.

As derrotas geraram reuniões entre Lula, os líderes do governo no Congresso e o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais. E houve críticas à atuação dos ministros indicados por partidos do Centrão, como Fufuca (PP), Juscelino Filho (União Brasil), das Comunicações; Celso Sabino (União Brasil), do Turismo; e Silvio Costa Filho (Republicanos), de Portos e Aeroportos.

Fufuca, no entanto, nega ter sido cobrado por Lula: “Não há por que ter cobrança, até porque ele sabe do comprometimento que a gente tem com a bancada e com o governo dele”.

O ministro alega que seu partido, o PP, tem entregado votos ao governo em projetos da área econômica. E que as chamadas “pautas de costume” teriam dificuldade para ser aprovadas mesmo se fossem patrocinadas por “um governo com 90% de aprovação”.

Nesta entrevista ao jornal Valor, Fufuca diz que trabalharia contra a chamada proposta de emenda à Constituição (PEC) das praias, em favor da qual votou quando era deputado, caso recebesse essa tarefa do presidente. E explica por que escolheu o senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP, ex-ministro da Casa Civil da administração Jair Bolsonaro (PL) e um ácido crítico de Lula e do governo, para ser padrinho de seu filho.

O ministro revela ainda que pretende enviar ao Congresso, em até dois meses, uma nova Lei Geral do Futebol, que deve mexer com as regras de contratos de jogadores e normas das Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs).

A seguir os principais pontos:

Valor: Após a última sessão do Congresso, houve muita cobrança sobre os ministros políticos. Como vê essas cobranças?

André Fufuca: Eu não vi essa cobrança. [Em] todas as matérias que o governo precisou do PP, o PP esteve vigilante, esteve ajudando. Nenhuma das grandes matérias econômicas e matérias principais que o governo teve interesse o PP votou contra. Eu acredito que essa cobrança não caiba para a gente.

Valor: O presidente deu alguma orientação especial ao senhor depois dessa sessão?

Fufuca: A gente tem um diálogo muito franco e sincero com o presidente Lula. Praticamente, de 15 em 15 dias a gente tem algum tipo de conversa. Então, não há por que ter cobrança, até porque ele sabe do comprometimento que a gente tem com a bancada e com o governo dele.

Valor: Mas teve alguma conversa específica sobre esse episódio?

Fufuca: O presidente sabe do nosso compromisso, não houve esse tipo de cobrança por parte dele.

Valor: O presidente deveria participar mais da articulação?

Fufuca: Eu acho que ele participa. Ninguém presta atenção quando uma árvore cresce. Ela cresce durante cem anos. Mas, no dia que ela cai, todo mundo presta atenção. A gente está falando que 100% da pauta econômica e da pauta que o governo tinha interesse foi aprovada ano passado. Então, por causa da derrubada de dois, três vetos, estão querendo colocar como se a articulação política do governo não existisse. Não é isso que acontece. A articulação política do governo existe, é presente, atuante, e o presidente Lula também faz parte disso. A grande parte das votações pode ter certeza que o mérito é da articulação dele, do engajamento dele nas questões.

Em pauta de costume, até um governo com 90% de aprovação vai ter dificuldade”
Valor: A articulação política do Planalto está sendo bem feita?

Fufuca: De minha parte, sempre tive um diálogo aberto, franco. Não tenho motivo para reclamar ou colocar qualquer tipo de culpa.

Valor: Mas o fato de o Padilha não conversar com o Arthur Lira não prejudica a articulação?

Fufuca: A articulação é feita de várias formas e por vários funcionários. Se há um impedimento com o Padilha, há um diálogo franco com o Rui Costa [Casa Civil], que também faz um bom trabalho em relação a isso. Então, o trabalho acaba se complementando. O que um não pode fazer outro faz. O importante é que dê resultado e vem dando.

Valor: É só essa pauta econômica que vem dando resultado…

Fufuca: A pauta econômica, política. A única pauta que teve esse problema foram dois vetos de pauta de costume. Não dá para medir uma articulação política do governo em razão disso. Em pauta de costume, qualquer governo vai ter dificuldade. Pode ser um governo com 90% de aprovação. Vai ter dificuldade.

Valor: O senhor não acha que esse controle maior do Orçamento pelo Congresso gera conflitos entre o Executivo e o Legislativo?

Fufuca: Não. Até porque a política é mutável. Então, se você pegar a evolução democrática de 1988 para cá, mudou muita coisa. O Congresso e o Executivo sempre tiveram momentos de proximidade e de distanciamento. Mas sempre, com as mudanças acarretadas pela política, acabou um se acomodando a outro. Então, eu não vejo nenhum tipo de crise por esse fator orçamentário entre o Congresso e o Executivo.

Valor: E como é que o senhor define hoje o momento na relação entre o Executivo e o Legislativo?

Fufuca: Muito bom. Se você pegar, qual foi a relação Legislativo e Executivo que entregou tantas matérias importantes ao país em um ano? Nenhuma. Na história do Brasil não tem isso.

Valor: No momento de votações, o senhor liga para os deputados do PP? Conversa com eles? Qual é o seu papel nessa relação?

Fufuca: Eu faço o possível. Graças a Deus a gente tem uma relação muito próxima com a bancada. Eu tive a oportunidade por duas vezes de ser líder, fui duas vezes da mesa [diretora da Câmara]. Então, tenho um relacionamento próximo com cada parlamentar. Quando há uma matéria de interesse do governo federal, uma matéria em que há interesse do Brasil, a gente sempre está trabalhando com os amigos para ter o máximo de apoiamento possível.

Valor: O senhor acha injustas as críticas de que os ministros de bancada não estão atuando para conseguir os votos em favor do governo?

Fufuca: Essa crítica não é pertinente. E há uma frase de Confúcio, de que a palavra empolga, mas o exemplo arrasta as ações. O que a gente faz fala por si só. A maioria absoluta, em todas as votações que o governo precisou do PP, do União Brasil, do Republicanos e do MDB, fala por si só.

Valor: O senhor, quando era deputado, votou a favor da PEC das Praias em 2022. O Planalto é contra. Continua a favor dessa PEC?

Fufuca: Se sou favorável ou contrário, não interessa. Até porque eu não vou votar, se ela for votada novamente, isso é o de menos.

Valor: Mas, se o presidente Lula pedir para o senhor articular contra a PEC, o senhor vai fazer?

Fufuca: Eu faço parte do governo federal. Se for de interesse do governo que a gente trabalhe através desse encaminhamento, a gente vai trabalhar.

Valor: O senhor deu o seu filho para o Ciro Nogueira batizar. Não incomodam as críticas que ele faz ao presidente e ao governo?

Fufuca: Olha, quando eu dei meu filho para o senador ser padrinho, foi por uma questão afetiva, de amizade, não pela questão de relação política dele, ou o que quer que seja. A minha relação com o Ciro é de décadas de amizade. Eu tenho certeza de que qualquer integrante do governo vai entender isso. Eu nunca misturo amizade com política. Amizade é uma coisa, política é outra. E o Ciro é um irmão que eu tenho, não nego essa amizade dele, nunca vou negar. É uma pessoa que eu tenho muito carinho. Respeito o posicionamento dele, mas esse posicionamento dele hoje é ao contrário ao meu posicionamento atual. É totalmente diferente.

Valor: O senhor vai propor ao Congresso uma Lei Geral do Futebol. O que é essa lei?

Fufuca: Eu acredito que, além da gente ter uma Lei Geral do Esporte, nós temos que ter uma Lei Geral do Futebol. É uma cobrança muito grande das federações, dos times, da própria CBF. E há várias alterações no decorrer das décadas. O jogador, no começo da década de 70, 80, o valor dele de mercado talvez fosse 3% ou 4% do que é o valor de mercado do jogador no dia de hoje. E as leis não mudaram em relação ao futebol.

Valor: O que seria a principal inovação que essa lei traria?

Fufuca: Há vários pontos que a gente tem que aperfeiçoar. A questão de contratos, dos times, passe dos jogadores. É um projeto embrionário, uma necessidade que a gente vê no futebol, mas que vai ser construída com outros personagens. A gente está trabalhando nessa ideia. Acredito que, no intervalo de 30 a 60 dias, nós iremos apresentar alguma coisa ao Congresso. E isso vai ser aperfeiçoado com os senadores, deputados, todos aqueles que queiram ajudar.

Valor: Vai ter mudança na questão da SAF?

Fufuca: É um dos pontos que há uma cobrança grande. Também ela deve passar por esse debate.

Valor: O que especificamente?

Fufuca: A gente vê uma necessidade maior em relação à transparência das SAF. Isso é apenas um dos pontos. Há vários outros, os clubes vêm cobrando da gente em relação a isso. Eu vou te pedir reserva, até porque foram clubes que pediram uma maior transparência. Mas, mesmo assim, pediram reserva em relação às cobranças.

Valor: O Brasil vai sediar a Copa do Mundo feminina em 2027. O que precisará ser feito até lá?

Fufuca: Hoje, a gente tem uma Copa do Mundo pronta em relação à questão estrutural. Na questão logística, a gente não vai ter que fazer metrô, não vai ter que fazer acesso, construir estádio novo. Enfim, é uma Copa do Mundo pronta, e com o mínimo de gastos.

Valor: A infraestrutura no Rio Grande do Sul foi muito abalada pelas enchentes, inclusive a esportiva. Há uma mobilização do Ministério do Esporte quanto a isso?

Fufuca: Sim, sim. É uma preocupação nossa desde o ano passado. Ano passado, houve 13 ginásios totalmente derrubados pela chuva. Neste ano, ainda estamos fazendo levantamento das estruturas esportivas afetadas. Mas a gente já vem trabalhando nesse sentido no ministério. Já liberamos recursos de emendas parlamentares, demos prioridade na lei de incentivo ao Rio Grande do Sul. E vamos nos colocar à disposição inteiramente para ajudar na reestruturação dessas unidades que a chuva levou, como ginásios, quadras, campos, e precisa ter essa ajuda nossa.

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